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'Na Raba Toma Tapão': Ambulante de BH é o criador do funk sucesso no Tiktok

Criada na quarentena por meio de mensagens diretas no Instagram, 'Na Raba Toma Tapão' estourou no aplicativo e é uma das músicas mais ouvidas do Spotify no Brasil

Por Letícia Fontes
Publicado em 20 de junho de 2020 | 07:20
 
 
 
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Quem passa pela casa cinza, de portão enferrujado e janela coberta por pedaços de madeira no bairro Darcy Ribeiro, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, não imagina nenhuma relação com o clima do funk “Na Raba Toma Tapão”. Mas a faixa, que há um mês é uma das mais tocadas do país, nasceu lá, onde mora Marcos William Ferreira, 19, o DJ Markim WF.

Foi num computador comprado de segunda mão e com a tela quebrada que Markim, sentado na cozinha da residência em que vive com a avó, produziu o hit. No início da semana passada, a faixa já estava em segundo lugar no YouTube e em quarto no Spotify no Brasil. Até celebridades como a apresentadora Maisa Silva e os youtubers Léo Memes e Priscilla Evelyn, além dos funkeiros Dynho Alves e Jottapê, entraram na brincadeira.

Com quase 6 milhões de visualizações, a letra e a batida de “Na Raba Toma Tapão” não fogem muito dos outros hits de funk que explodiram nos últimos anos. Porém, o ar quase amador da canção, feita por dois artistas sem tanta experiência, parece ter cativado os usuários do YouTube. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O pessoal da @fitdance fez a coreografia da minha música “Na Raba Toma Tapão”, curtiram? 😍

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Criado na quarentena por meio de DM (direct message, ou mensagem direta) no Instagram, o som espontâneo funcionou. Sem os bailes funk, os iniciantes MC Niack e DJ Markim alcançaram o objetivo de qualquer pop star global hoje: virar fenômeno no app chinês TikTok (aplicativo de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos). Markim e o paulista Davi Alexandre Magalhães de Almeida, o MC Niack, 17, se conheceram há três meses, depois que Niack achou bases de funk que Markim postava no YouTube. Foi então que o mineiro convidou o paulista para bater um papo pelo Instagram. O paulista acabou gravando a canção, que estourou.

“Não estava colocando fé, tanto que mudamos várias vezes as batidas e o ritmo até chegar nessa versão. Acho que o que fez estourar é as pessoas estarem em casa. Mas com certeza os desafios de maquiagem do TikTok usando a nossa música ajudaram a popularizar muito mais. A melodia também acho que é ‘chiclete’ e ajuda. Mas não caiu a ficha ainda, fico sem acreditar quando vejo as pessoas escutarem sem saber que sou eu. Até no cabeleireiro já escutei”, conta Markim.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Até a maisa gente ❤ @maisa

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Vida difícil

O mineiro começou a produzir funk no computador de casa há dois anos. Enquanto isso, ganhava um dinheiro como ambulante, vendendo balas no semáforo. “Eu terminei o ensino médio e não conseguia emprego, vivia fazendo bicos de pedreiro e o que mais aparecesse. Aí, me veio a ideia de vender bala no sinal, porque, até então, a música era uma coisa paralela. Trabalhava de domingo a domingo na avenida Amazonas, próximo ao Cefet. Mas aí veio a pandemia, tive que parar de vender, as pessoas nem abriam o vidro para mim mais”, desabafa o jovem.

Foi nesse tempo confinado em casa que Markim conseguiu ter mais tempo para se dedicar às composições. “Desde criança eu me lembro de fazer música, eu era MC, mas não achava minha voz boa e comecei a produção mais para pessoas que, assim como eu, não tinham condições. Eu só tenho um computador e um fone e me viro”, afirma.

Os planos para dar uma guinada na vida não são nada extravagantes. Markim só quer comprar um computador novo e começar um curso de inglês. Sem trabalho e renda, o jovem tinha um dinheiro guardado para montar um estúdio e comprar alguns equipamentos, mas agora precisa ajudar a avó, que é aposentada.

“Eu não entendo muito dessas coisas, só vejo ele de madrugada acordado fazendo essas músicas. É o dia inteiro, minha cabeça até dói. Fico pedindo até para ele sair de casa, espairecer, mas é o dia todo fazendo música”, confidencia a avó do DJ, Maria das Graças Ferreira, 67. Até que um dia ela estava em casa e escutou um carro passando e tocando a música do neto.

“Agora, escuto ela o dia inteiro, em casa e fora de casa. Eu queria muito ter condição de dar uma oportunidade e ajudar ele nesse ramo; eu apoio. Se eu pudesse, investiria. Mas eu me preocupo, porque não vou viver para sempre. O que ele vai fazer depois de mim? Acho instável. A vida toda foi só eu e ele”, relata Maria.

Por enquanto, os resultados do trabalho se refletem apenas na internet: a subida repentina nas paradas e o aumento do número de seguidores. Como o hit tem menos de um mês, eles ainda não receberam dinheiro proveniente de direitos autorais. Mas, quando a quarentena acabar, o DJ, que criava bases de graça, e o cantor, que nunca fez um show, pretendem fazer apresentações.

“Já tem pessoas chamando para shows quando tudo isso acabar. Quero me dedicar, quero que dê certo, quero focar. Ainda não recebi nenhum dinheiro com a música, mas isso, por enquanto, é o de menos. Só ter o reconhecimento do meu trabalho é gratificante. Mas, se precisar vender bala de novo, não tem tempo ruim. É um trabalho digno como qualquer outro”, reflete Markim. 

TikTok dá um “empurrãozinho” 

Durante muito tempo, para ter uma música de sucesso no Brasil, era preciso estar na trilha sonora de alguma novela. Mas os tempos mudaram. Agora, com o TikTok em alta, a música “pega”, principalmente por conta dos desafios de maquiagem.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

@paixao_brenda 😱❤ #narabatomatapãochallenge Continuem me marcando nos challenge 😍

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No Brasil, “Na Raba Toma Tapão” não é a primeira música a estourar com um “empurrãozinho” do TikTok. No início do ano, “Tudo OK”, de Thiaguinho MT, com Mila e JS o Mão de Ouro, foi um dos grandes hits do Carnaval após viralizar em desafios e memes do aplicativo.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Kkkkkkkkk que fofa ❤❤ #funk #tiktok #tiktokbrasil

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