Morreu na última quinta (20) o cineasta Mário Vaz Filho, aos 74 anos, um dos diversos nomes atuantes na Boca do Lixo, região no centro de São Paulo que configurou um polo cinematográfico marginal durante os anos 1960 e 1980.
Vaz Filho nasceu em Santos, no litoral paulista, e começou sua carreira no cinema trabalhando em filmes como "Os Três Boiadeiros", de Waldir Kopesky, e como assistente de direção de Jean Garrett em "A Mulher que Inventou o Amor", ambos de 1979. Com este último cineasta, teve uma longa parceria, ajudando em diversos de seus filmes.
Atuante sobretudo nos anos 1980, Vaz estreou na direção em 1982, com episódios para os filmes "Viúvas Eróticas", "Ousadia" e "Bonecas da Noite".
Foi sócio da Embrapi, a Empresa Brasileira de Produtores Independentes, que tentou encontrar caminhos para o cinema sem os grandes produtores. A empreitada, que teve ainda nomes como Carlos Reichenbach na equipe, foi um fracasso.
"O Mário deu muito azar porque começou a dirigir quando os filmes já iam para o explícito", conta o jornalista Matheus Trunk, autor do livro "Dossiê Boca: Personagens e Histórias do Cinema Paulista". Entre estes, o mais famoso foi "Um Pistoleiro Chamado Papaco", com o ator Fernando Benini.
Era um faroeste brasileiro feito na chave de sátira a "Django", filme italiano de 1966. No caixão carregado pelo protagonista, em vez de uma metralhadora, o pistoleiro trazia uma coleção de consolos. O filme rendeu até história em quadrinhos e, já na era da internet, fez sucesso pela piada e pelos diálogos cheios de palavrões.
"Ele era um tipo intelectual, então mesmo no explícito ele buscava usar o duplo sentido e o humor", aponta Trunk. "Suas referências eram Nelson Rodrigues, Bertolt Brecht e Shakespeare, e ele poderia ter feito mais. Mas o pessoal da Boca costuma ser olhado com desdém." Ele deixa um livro inédito chamado "Zona de Cinema", sobre suas experiências na Boca do Lixo.
Vaz Filho foi enterrado no Cemitério da Filosofia, no bairro de Saboó, em Santos. Foi casado por muitos anos com a atriz Lígia de Paula, que morreu em 2018 e foi ex-presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo. Não deixa filhos.
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