
Não existe amor depois da guerra
Longa de François Ozon rendeu o prêmio de atriz revelação para a jovem Paula Beer no Festival de Veneza, em 2016

“Frantz”, em cartaz em BH, é sobre um vazio. Um vazio causado pela morte e pela guerra, que os personagens tentam preencher. E quando descobrem que isso é impossível – que a morte, assim como a guerra, é irreversível – eles inventam histórias para dar algum sentido a um mundo que não mais o possui. O que, provavelmente, vem a ser o objetivo por trás de todo filme de guerra.
Adaptado da peça de Maurice Rostand – que rendeu o clássico “Não Matarás”, de Ernst Lubitsch – o longa de François Ozon segue Anna (Paula Beer), jovem de uma pequena cidade alemã que todos os dias leva flores ao túmulo do noivo, Frantz (Anton von Lucke), morto na Primeira Guerra. Um dia, ela encontra ali o francês Adrien (Pierre Niney), que afirma ter sido amigo do falecido antes do conflito. Ele passa, então, a frequentar a casa dos pais de Frantz, onde Anna vive, reacendendo uma chama de vida em um lugar assombrado pelo luto.
É claro que a história não é bem o que parece. Mas o diretor Ozon flerta bem com as várias possíveis versões da verdade. O que ele deixa claro é que, mesmo que a narrativa de Adrien não soe muito verossímil, os personagens a aceitam porque precisam dela.
“Frantz” não é filmado em preto e branco por acaso: é um longa sobre um lugar e pessoas que perderam o amor na guerra. Frantz dá título ao filme porque representa isso. E a chegada de Adrien, e sua história, traz a possibilidade desse amor de volta – não por acaso, Ozon usa cores nas cenas entre ele e Anna. A possibilidade de um mundo como ele era antes do conflito, ainda que possa ser uma mentira.
A potência do longa está na melancolia dessa vã esperança, tanto que, quando a verdade vem à tona, “Frantz” vai perdendo aos poucos seu fôlego. Na segunda metade, Ozon parece pouco interessado nas reviravoltas melodramáticas do roteiro, e o filme se torna uma busca amarga e arrastada de Anna por esse amor intangível. O resultado só não é mais cansativo pela excelente performance da jovem Paula Beer, que resume em seu rosto a inefável tarefa de acreditar na mentira enquanto é obrigada a viver a verdade.

