Na década de 90, o Rio de Janeiro foi tomado por uma onda de sequestros com pedidos de resgate milionários. “A Divisão”, longa de Vicente Amorim, foca esse cenário de crimes violentos, nem sempre com final feliz. Um filme policial brasileiro, claro, não tem super-heróis nem mega vilões. Ninguém é completamente bonzinho ou inocente. Escorados no conceito de que os fins justificam os meios, policiais destacados para a Divisão de Ação Antissequestro da Polícia do Rio de Janeiro (DAAS) saem às ruas à procura de cativeiros e reféns.
Como não poderia deixar de ser, crime, polícia, política e corrupção se fundem e nem mesmo os personagens conseguem saber direito de que lado estão jogando.
Ética, nesse cenário, não existe. A única certeza é o que move todos os participantes deste jogo: o dinheiro. Assim, “A Divisão” tem a mesma raiz de “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Alemão” e tantos outros filmes que sobem o morro e desnudam o mundo do crime, sem restringir seu olhar para a comunidade. No longa, os bandidos do morro são só soldados considerados descartáveis para os chefões que, obviamente, não vivem no morro.
“A Divisão”, a exemplo de “Hebe” e “Chacrinha”, nasceu série (da Globoplay) e longa. O filme deixa o desfecho bem aberto, assim como a série, que terá uma segunda temporada para mostrar as consequências das ações de seus personagens principais.
Na trama, Mendonça (Silvio Guindane) – o “genocida”, como é conhecido – comanda as operações na DAAS. O policial vira herói ao resgatar com vida um menino de 12 anos que foi baleado e deixado para morrer numa vala cheia de cadáveres.
Ao mesmo tempo que Mendonça é visto como herói, ele também é retratado como um homem violento, que não vê problemas em matar e torturar seus presos, em busca de informações. Ele trabalha com o delegado Benício (Marcos Palmeira), um homem político, populista e aproveitador, que manipula todos na divisão.
Para ajudar a equipe na investigação do sequestro da filha de um deputado, três policiais corruptos são chamados: Santiago, o All-Star (Erom Cordeiro); Ramos (Thelmo Fernandes); e Roberta (Natália Lage). Os três são investigados pela corregedoria e, chantageados pelo chefe de polícia, são obrigados a colaborar usando métodos nem sempre legais.
A série e o filme foram criados por José Junior, fundador da ONG AfroReggae, que auxiliou com as filmagens nos morros cariocas. “A Divisão” é muito real, por mais que o espectador preferisse que as ações do filme estivessem bem distantes da realidade.