Cinema

O universo de Mazzaropi

Em novo livro, pesquisador Antonio Leão mapeia atores e técnicos que trabalharam nos filmes do ícone do humor

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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O caipira esperto ou, de certa forma, de matriz ingênua se tornou recorrente nos filmes de Amácio Mazzaropi (1912-1981), ator, diretor e humorista brasileiro que, embora dissesse ser ele mesmo um “caipira”, nunca foi passado pra trás. Não à toa, o paulista fez fortuna com seus filmes, sobre os quais tinha total controle, sendo ele responsável por todas as etapas, da gravação à distribuição das obras.

Aficionado pelo cinema brasileiro, o pesquisador Antônio Leão da Silva Neto, desde 1994, alimentava o interesse de dedicar um livro a esse artista icônico e conhecido por títulos como “Jeca Tatu” (1959) e “As Aventuras de Pedro Malasartes” (1960). Quando começou a pensar nesse projeto, ele arquitetou escrever algo de caráter biográfico, e, na época, havia apenas um volume já lançado com esse propósito: “A Saudade de um Povo”(1986), de Luiz Carlos Schroeder. Mas, de 2012 para cá, quando foi comemorado o centenário de Mazzaropi, já foram lançados 16 títulos com esse mesmo enfoque.

Foi a partir daí que Leão buscou outro ângulo de abordagem. “Eu fui comprando esses livros para saber o que já havia sido falado e percebi que o assunto biográfico estava esgotado. Não havia mais o que escrever sobre isso. Então, eu propus homenagear as pessoas que trabalharam com ele”. Assim, surgiu “Enciclopédia Mazzaropi de Cinema”, que abarca cerca de 30 anos de produção cinematográfica, entre 1952 e 1980. 

Esse é o seu 11º volume. Em 1998, Leão lançou o pioneiro “Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro”, que reuniu 1.400 biografias e inaugurou uma série de dicionários elaborados pelo especialista nos anos seguintes, entre eles “Dicionário de Filmes Brasileiros: Longa-Metragem” (2002).

Assim como esses, o mais recente propõe ser uma fonte de consulta, ao reunir uma seleção de 888 minibiografias dos profissionais que contribuíram para contar as histórias de Mazzaropi. “A ‘Enciclopédia’ não é um livro para você ler de cabo a rabo, mas para conferir algumas informações. De repente, você está vendo um filme do Mazzaropi e reconhece um rosto, por exemplo, o do ator Ewerton de Castro. No livro, você vai encontrar dados sobre a vida dele, onde ele nasceu e uma pequena descrição de sua trajetória no cinema”, explica Leão. 

Outro aspecto relevante é que não há apenas uma lista dos filmes de Mazzaropi em que determinado nome está vinculado. Leão oferece também uma filmografia geral, em que aquela pessoa está inserida, ou seja, ele detalhou também os filmes de outros diretores brasileiros, além de Mazzaropi, em que um mesmo ator, atriz ou técnico fez parte da equipe de realização da obra.

“Houve mais ou menos uns 500 verbetes em que eu não consegui os dados completos. Nem todos eu consegui produzir uma minibiografia, mas eu coloquei a filmografia da qual o cara faz parte. José Roque da Silva (cenógrafo) fez um filme com Mazzaropi (“Um Caipiria em Bariloche”, de 1972) e depois sumiu. Eu não tenho informações sobre onde ele nasceu, mas o nome dele está no livro. E isso tem trazido repercussões muito interessantes. Eu lancei esse livro em Taubaté (SP), onde Mazzaropi gravava os seus filmes, e um rapaz com o livro aberto chegou para mim e mostrou um nome, dizendo que aquele era seu avô e que tinha feito apenas um trabalho com Mazzaropi”, diz.

Dessa forma, Leão observa que o livro pode ser atualizado e reforça a importância do rigor na aferição das informações. “Eu tenho uma base de dados que vou constantemente revisando. Se há alguma coisa muito grave, eu faço uma errata, mas eu costumo anotar tudo, e isso dá um trabalho enorme”, afirma Leão.

Ele acrescenta que fez algumas descobertas durante esse processo. Uma delas é que Mazzaropi tinha vários sósias, e o nome dessas pessoas ele também procurou contemplar na “Enciclopédia”. “Eram pessoas que faziam shows itinerantes. Alguns deles eu cheguei a conhecer. Eu me deparei também com um músico, chamado Cebolinha, que era quem sempre tocava teclado nos shows de Mazzaropi. Eu também o coloquei no livro. Então, não escapou ninguém”, garante Leão.

Saiba mais

"Enciclopédia Mazzaropi de Cinema” tem 312 páginas. Mais informações sobre o livro diretamente com o escritor: leao.n@terra.com.br

 

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