Lançamento

Os ‘sambas de bêbado’ da cantora maranhense Patativa

Aos 82 anos, a artista, apadrinhada por Zeca Baleiro, mostra seu segundo disco de carreira, “Sou de Pouca Fala

Por Patrícia Cassese
Publicado em 16 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Fosse por sua vontade, Maria do Socorro Silva, a Patativa, não venderia um só exemplar de seus dois discos já lançados. “Estou tão feliz, mas tão feliz, que, se pudesse, botava todos eles estampados na parede para ficar só olhando, só de amor que tenho por eles. Agradeço a Deus! A Deus, pai todo poderoso, e a Zeca Baleiro”, diz a sambista maranhense, de 82 anos, referindo-se a seu padrinho artístico. Baleiro, aliás, é quem assina (junto a Luís Junior Maranhão) a produção do petardo mais recente, “Sou de Pouca Fala” (Saravá Discos).
 
Claro, trata-se de uma brincadeira. Patativa quer mais é que sua música reverbere país afora. Gravado em São Luís, o disco traz músicas que ela mesma descreve como simples – e chama de “sambas de bêbado”. “Não tenho música longa, não gosto de comprimento. São curtinhas, as pessoas pegam rapidamente, aprendem, cantam. Tenho uma parte boa de amigos que gostam, vão me vendo e vão logo cantando. Isso me envaidece muito, fico muito feliz. Muito feliz”, enfatiza.
 
Entre as faixas do novo álbum, algumas foram inspiradas em acontecimentos reais. Caso de “Feijoada sem Nada”. Fui numa feijoada com amigos. Chegando lá, todo mundo ‘tava’ comendo, eu só olhando. Quando vieram trazer para mim, o prato tinha só feijão puro com arroz. Daí eu fiz a ‘Feijoada sem Nada’, porque não tinha toucinho, linguiça, p... nenhuma dentro. Foi engraçado, eu gostei demais”, rememora.
 
A “mina” “No Pé da Minha Roseira” tem por trás uma história singela: “Eu plantei um pezinho de flor e, um belo dia, chego no quintal e vejo três flores em cada galho, daí surgiu a música. A composição vai surgindo livremente, a favor da brisa. As ideias vão chegando na minha mente e eu vou concluindo, né? Acho que é assim com todo artista. Tem a inspiração, a ideia, a gente põe a letra, a melodia, e daí vai”, resume.
 
O xote “Não Faço Nada Sem Poder”, na qual divide vocais com Baleiro, foi, segundo ela, inspirado na população mais desprovida. “Da situação do pobre que não tem condição, dinheiro, para comprar uma coisa boa nem melhor. Na verdade, de qualquer coisa se faz uma música, depende de ter a ideia”, acredita. Além dos já citados, o disco passeia por ritmos como o cacuriá (“Pega Maum”, com participação de Rosa Reis e Camila Reis).
 
“Todos os ritmos me agradam. Ouço de tudo: samba, reggae, xote, baião, mina, criola... Sou um tipo de brasileira que gosta de todo gênero de música, não tem escolha exclusiva para mim não, tudo eu gosto”, estabelece.
 
Segredo. Natural de Pedreiras, no interior do Maranhão, terra também de João do Vale (1934 – 1996), Patativa ganhou o apelido ainda na infância, por, tal como o pássaro, cantar dia e noite. Aos dez anos, se mudou para São Luís, onde passou a cantar em feiras. Estreou na indústria fonográfica com “Ninguém é Melhor do Que Eu”, também lançado pela Saravá Discos. Os dois álbuns, por sinal, tratam de registrar uma produção profícua: Patativa estima já ter composto mais de uma centena de músicas, muitas das quais se perderam pela estrada.
 
A artista é direta quando perguntada sobre o segredo de tanta disposição. “Olha, é o seguinte: saúde, eu não tenho muita, mas como bem, durmo bem e sorrio muito. Eu suponho que o sorriso é o que me ajuda a sobreviver, pois sou uma pessoa assim: parece que para mim está tudo sempre bem, tudo ótimo. Não tenho aquela coisa de ‘oh, eu estou jururu porque estou com fome, com isso, aquilo’. Claro, eu choro, quando sinto dor, gemo, sou gente. Mas de resto, para mim tá tudo ótimo”.

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