Depois de uma tentativa frustrada de se comunicar com uma jovem surda em uma festa de casamento, o diretor de animação Paulo Henrique dos Santos decidiu criar um desenho animado para ensinar a Língua Brasileira de Sinais (Libras). "Uma vez estava sentado em uma mesa e não conseguia pedir o sal para uma pessoa surda que estava ao meu lado. Eu não sabia como me comunicar. Desde então, isso ficou na minha cabeça, porque eu acho tão absurdo se aprender tantas coisas na escola e nós nunca aprendermos isso. Existe um despreparo muito grande de toda a população no geral em lidar com a comunidade surda, são pessoas invisíveis", conta o animador, que se prepara para ver pela primeira vez o projeto "Min e as Mãozinhas" ser exibido em uma emissora aberta no país. A animação será transmitida pela Rede Minas, neste sábado (19), às 12h50.
O projeto, criado em 2018, conta com 13 episódios e será exibido durante todo o mês em que se é celebrado o "Setembro Azul", dedicado à visibilidade da Comunidade Surda Brasileira. Atualmente, a surdez atinge quase 10 milhões de pessoas no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Na falta de alternativas na indústria cultural infantil para esse público, a iniciativa do diretor catarinense é referência no país. O desenho também é o primeiro totalmente em Libras disponível no YouTube. A animação traz as aventuras de uma garotinha que, ao lado de seu companheiro esquilo, conhece diversos amigos e, juntos, aprendem a se comunicar.
No primeiro episódio, Min, a protagonista da história, está em uma casa na árvore quando um esquilo encontra pegadas no chão e quer saber de quem eram. Eles vão até a floresta para descobrir quem deixou os sinais pelo caminho. Durante o passeio, eles encontram o elefante, o gato e o sapo e, para se comunicar com todos eles, Min ensina cinco sinais em libra para que eles aprendam falar, por exemplo, “oi” e dizer o próprio nome.
Segundo Paulo, o desenho poderia ser apenas mais uma animação que fascina crianças, mas o objetivo vai além do entretenimento: "Quero mostrar que as brincadeiras com os dedinhos e o corpo são uma valiosa ferramenta de inclusão social. Precisamos desenvolver cidadãos que saibam do assunto e não vejam como dificuldade a comunicação em sinais, isso não deve ser um impedimento para a inclusão. É preciso desmistificar a ideia de que uma pessoa surda precisa sempre estar acompanhado de um intérprete para executar funções básicas. Em um mundo ideal, uma pessoa surda poderia ir à padaria e ao médico sozinha, sem ter nenhum problema de comunicação", avalia.
Para desenvolver o trabalho, o diretor, que já trabalhou nas animações do “Sítio do Pica-Pau Amarelo" e da "Turma da Mônica", contou com a ajuda de três professoras surdas e uma intérprete. Debruçados no projeto, criaram a protagonista Min. Na tela, o aprendizado vem por meio das brincadeiras dos personagens. “A gente leva a educação através do mostrar, da repetição, e sem traduzir, tirar essa ideia que é preciso de um intérprete para entender. Fazemos o entretenimento para o surdo e para o ouvinte. Ao longo dos episódios, os personagens vão repetindo os sinais para que se aprenda na repetição”, explica Paulo, que completa: “A ideia é que todo mundo na sociedade saiba a libra. Meu sonho é que, através desse projeto, professores também possam usar em sala de aula, é uma maneira mais democrática possível que eu encontrei para trabalhar a inclusão nos meus trabalhos".
Programação.
A animação “Min e as mãozinhas” irá preencher a programação da Rede Minas aos sábados, às 12h50. O conteúdo também pode ser visto, nesse mesmo horário, no site da emissora: redeminas.tv. A emissora vai exibir 5 dos 13 episódios do projeto. Cada um tem quase dez minutos de duração. Outros minivídeos da personagem também vão preencher os intervalos da programação da emissora, com conteúdos de promoção do aprendizado da língua de sinais. O conteúdo especial faz parte das ações da Rede Minas em comemoração ao “Setembro Azul”, quando são celebradas as lutas e conquistas da comunidade surda no país.
Programe-se
“Min e as mãozinhas”
Direção: Paulo Henrique Rodrigues
Quando: Aos sábados, às 12h50
Onde: Rede Minas