Soprando velinhas

Salve, salve, Titane: cantora completa 60 anos nesta terça

Em entrevista ao Magazine, a intérprete fala sobre os dias de quarentena, a passagem do tempo e a série de lives que está preparando

Por Patrícia Cassese
Publicado em 21 de julho de 2020 | 05:00
 
 
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Em meio ao desalento que paira sobre o mundo nestes tempos de pandemia, e da tristeza diante das milhares de vidas perdidas para a Covid-19, a cantora Titane encontrou um alento poderoso: a companhia da mãe, Maria Íris, na casa da família, em Oliveira. "Estarmos aqui, nós duas, na casa onde me criei, ela estando ainda com muita saúde. Está sendo um presente nesta quarentena. É o que está me envolvendo agora, em meio às tantas incertezas que estamos vivendo, o poder dessa convivência", diz a mineira. Mas nesta terça-feira, além da presença da genitora, Titane vai ter a companhia - ainda que virtual - de uma pá de gente empenhada em fazer desse dia 21 um marco para ficar registrado na memória da cantora: é que ela está completando 60 anos de vida.
 
Não que Titane seja uma pessoa superligada a datas. "Na verdade, tenho até dificuldade em me ligar a elas. Sou muito dos processos, da continuidade, do lastro...A não ser (datas de ) nascimento, morte, estreia de um ou outro espetáculo... Mas, bem, as redondas, entendo que  favorecem um diálogo com as outras pessoas, por isso, gosto dessa conversa", assume a cantora, que, para não deixar a chegada dos 60 anos passar em brancas nuvens, fará um passeio por sua trajetória, com muita conversa e cantoria, em quatro lives. Ao lado de amigos de Minas e de outros estados, como Zeca Baleiro, Chico César e Saulo Laranjeira, ela tem um encontro marcado com seu público até o dia 11 de agosto, sempre às terças, às 20h, em seu perfil, com transmissões via Instagram e YouTube @titaneoficial.
 
Titane conta que, em meio à pandemia, foi pegando gosto pelas lives, de início como convidada. "Mas fiz algumas sobre o (trabalho) 'Campo das Vertentes', espetáculo que teve um processo muito longo de criação. E foi muito bom convesar com as pessoas". A série que se inicia hoje, porém, tem outra pegada. "Despretensiosamente, mandei mensagens aos amigos e eles foram chegando. E uma novidade importante pra mim, nessa primeira, na casa da minha mãe, é que, além da equipe de BH, estou também com uma daqui, de Oliveira", exalta.
 
Perguntada sobre o marco dos 60, Titane expõe seus pensamentos com serenidade, delicadeza e franqueza. "O tempo impacta na vida, impacta no corpo - e impacta muito", afiança. Para ela, os 60 anos não, assim, são tão diferentes dos 50. "O que foi muito diferente, pra mim, foi a menopausa. Sei que é diferente para cada mulher, mas pra mim teve um grande impacto. A impressão que tinha é que ou aceitava que estava me transformando em uma outra pessoa ou não sobreviveria.  Acho inclusive que a menopausa é uma pauta sobre a qual ainda se conversa pouco", explana. 
 
Ainda sobre o tema, ela diz que, até o advento da menopausa, para ela não havia distinção entre energia e matéria. "Pra mim, uma coisa foi sempre a manifestação da outra. Depois da menopausa, a impressão que tinha era a de que meu corpo estava indo embora, começando a recuar. Nas outras crises que vivi ao longo da vida, senti que vinham do excesso de energia: não conseguia produzir tudo o que desejava. Algo como um leão enjaulado. Com a menopausa, não, era uma crise de falta de energi. A sensação de que o corpo está indo embora e falando: 'Tchau! Você pode seguir, mas eu vou ficar por aqui. Então, a matéria vai se fragilizando", elabora.
 
Não que não haja contrapartida. Titane salienta que, em compensação, nasce uma outra coisa, ou se explicita. "Algo que é etéreo e extremamente prazeroso. E cada vez mais potente, brilhante. Parece que está fora do meu corpo, que entra e sai dele. Uma outra vida. Penso que sou outro ser humano após a menopausa - e olha que sou cantora, e o canto é uma coisa etérea também. Acontece que eu usava muita força física antes, para cantar. Atualmente, não preciso. É curioso, eu mesma fico instigada. Na verdade, acho que com a idade, eu ganhei foi leveza.  Tenho um amigo que durante um tempo se dedicou à astrologia, ele diz que eu era Iansã e virei Iemanjá, que era leonina e, com o tempo, fui virando canceriana. São essas grandes mudanças de naturezas. Ou de naturezas que existem dentro da gente. Acho que é isso, que existem naturezas dentro da gente, pressupostos, que, no curso da vida, vão se esclarecendo. E em cada momento da vida, você é regida por um desses pressupostos. Aliás, por isso a vida é maravilhosa, por isso é bom viver. A vida é sempre surpreendente", festeja.
 
Titane também exalta lutas atuais que pautam  movimentos mundo afora. "Hoje, as forças feminista, a antirracistas, anti-homófobicas, não tenho dúvida, movem a sociedade. São arrebatadoras, a grande novidade, pela potência. Acredito muito nelas, e acho que são capazes de derrubar muros potentes que seguraram o ser humano até agora. A luta de classes também move o mundo, mas vale salientar que um trabalhador não pode ser visto apenas como um trabalhador. E, sim, também como uma trabalhadora, ou uma trabalhadora homossexual,ou  um trabalhador transsexual... Enfim, acho que a gente vai conseguir avançar para algum lugar mais harmonioso, menos genocida. Sempre acredito na possibilidade da mudança, mesmo porque, do contrário, ficaria difícil viver, né? A vida é um mistério, e sei que tudo se transforma o tempo todo. Assim, aposto na mudança. E aposto muito na força feminina. Acho que o corpo feminino tem que ser celebrado, e cada vez mais, como um lugar de luz, de prazer e de liberdade. A sociedade patriarcal já deu o que tinha que dar. Chega", brada.
 
A seguir, Titane fala sobre outros temas alusivos a seu momento de vida e à pandemia. Confira!
 
Balanço profissional. Se eu cheguei ou não onde queria na vida profissional? Olha, quando fiz 40 anos - olha aí a data redonda -, achei que a minha vida já tinha dado. Que a Titane que eu tinha vislumbrado na minha adolescência, talvez na minha infância, que ela já tinha acontecido. Gostando eu ou não do resultado, ela tinha acontecido. E fiquei um tempo pensando: 'E agora?' Porque tinha muita vida pela frente ainda, e eu sempre planejei, sempre tive uma direção muito clara, sempre briguei muito para as coisas acontecerem como eu achava que tinham que ser na minha vida. E naquele momento eu decidi não programar, não projetar - ao contrário, tentar ver onde estavam meus desejos mais profundos, menos conscientes, dar vazão aos meus impulsos, foi isso. 
 
Gravidez. E nessa brincadeira de dar vazão aos meus impulsos, não demorou um pouquinho, começou a vir uma vontade grande de engravidar. Eu nunca havia pensado em ter filhos, a gravidez era algo que não me dizia respeito. Mas naquele momento, a vontade foi surgindo, e eu acabei me decidindo a ter. Maria Íris nasceu e aquela Titane ali era completamente inesperada pra mim, contradizia uma série de coisas que até então eu tinha vivido. A maternidade não estava mesmo vislumbrada na minha vida antes. Então, eu acho que ocntinuo assim, dando vazão a impulsos e permitindo que a realidade do mundo e da vida entre nos meus planos. Porque eu sempre briguei muito contra o mundo que eu via à minha volta, eu não queria o futuro que me era oferecido, pelo menos assim, eu pensava, né? Na minha infância, ou adolescente, houve vários momentos nos quais que eu via as coisas e falava: 'Eu não quero isso, não quero viver assim, não quero essas coisas. Briguei muito para não ter um futuro que me foi apresentado no início da minha vida, e agora, na minha vida pessoal e no trabalho, eu considero muito as circunstâncias à minha volta e brinco com elas.
 
Dias de luta. Estou longe de ter as condições de trabalho que eu gostaria, mas hoje entendo que não é só uma questão pessoal, mas da cultura na qual estou inserida, das condiçoes históricas onde vivo, do lugar onde vivo. Então, cada vez mais procuro levar essas circunstâncias para o mundo afetivo, para o mundo pessoal. Eu queria chegar em algum lugar onde eu fosse uma pessoa melhor do que a que sempre fui, mais despojada. Acho que é isso.
 
O que ficou para trás. Ah, trabalhar sem precisar descansar, isso ficou para trás. Se eu não descanso muito, não sou ninguém. E também uma coisa difícil, o tônus muscular (risos). Ah, esse é muito difícil de reter.
Subalterna, nunca. Eu sempre me entendi assim: eu posso ser uma pessoa insignificante, mas subalterna, eu não sou! Sempre tive opiniões, sempre acreditei que o diálogo é fundamental no mundo. E como é possível dialogar se você e as pessoas não tiverem opinião, não tiverem o que dizer? Se não têm a sua inteligência colocada a favor de si mesmo e do mundo, da humanidade? E já que estamos falando sobre isso, a condição da mulher, na sociedade, é uma condição subalterna.. Mas não da nossa cabeça, de mulheres, então, eu tenho ficado cada vez mais realmente irritada, e a questão do corpo continua pra mim sendo uma questão fundamental. Os seios, a mama, não poderem ser expostos, isso me irrita profundamente. Me irrita muito.
 
Compasso de espera. Como a quarentena me pegou profissionalmente?  Bem, sim, eu tinha a expectativa de trabalhar com grandes elencos, e isso está, por enquanto bastante suspenso, sabe-se Deus até quando. Por outro lado, estou experimentando voltar a trabalhar sozinha, com uma intensidade muito grande. Ensaiando sozinha, cantando sozinha, cuidado de rede sociais sozinha, aprendendo a lidar com equipamentos dos quais eu nunca quis chegar perto deles, lidando com programas, aplicativos, tudo sozinha. Eu, que recorria a técnicos para tudo (risos). Agora, ao menos o básico, eu estou querendo aprender.
 
Pós-pandemia. No mundo pós-pandemia, acho que nós vamos continuar imperfeitos, como sempre. Mas acredito que a  consciência ambiental vai ganhar outra dimensão, no mínimo vai ser muito discuitido, muitas experiências vão ganhar fôlego, experiencias que não apostam no desperdício, e sim no equilíbrio entre o ser humano e o planeta. Essa vai ser a grande tônica da nossa sociedade, da nossa civilização, de agora para frente. Não à toa, a gente vive uma nova e gravíssima fase histórica de dizimação dos povos indígenas, mas, ao mesmo tempo, eles nunca foram tão celebrados como agora, porque eles têm a chave, o segredo desta grande harmonia entre o ser humano, o planeta e o cosmos.
 
De Ana para Titane. Eu tenho esse apelido desde muito cedo. Quando eu tinha mais ou menos um ano de idade, meu tio, Padre Nereu, chegou de volta a Oliveira depois de muitos anos fora do país. Minha mãe conta que foi encontrar com ele na rodoviária, e ele olhou pra mim e falou: 'Titanne'. E ela: 'Não, Nereu, Ana Íris'. Ele retrucou: 'Não, é Titanne'. E Titanne ficou, inclusive para a minha família. Na verdade, ele viveu na Europa, onde tinha uma grande amiga, que se chama Anne, ela era francesa. E Titanne seria algo como um diminutivo de Anne. Assim, herdei esse apelido e cresci achando que eu era realmente era Titanne. Não tinha muita noção de onde vinha esse apelido, de onde não vinha. Não sabia, ou não tinha registrado dentro de mim, nada dessa história francesa quando fui alfabetizada. Perguntava à minha professora como se escrevia o meu nome, e ela dizia que era um apelido, então se escrevia de qualquer jeito. Decidi, então, sozinha, que a grafia seria Titane, com um 'n' só. Só tomei consciência dele (apelido) já bem adulta, depois que eu já me sentia como Titane. E quando comecei a cantar, quando o grupo Mambembe, do qual eu fazia parte, gravou o seu disco, achei que era importante me decidir. Assim,  minha participação ficou registrada como Ana Íris. Mas a verdade é que nunca deu certo, porque eu nunca fui chamada assim. E aí, desde aquele momento, eu assumi Titane, definitivamente. Curioso é que amigos e numerólogos  já me propuseram alterar. Mas preferi ser fiel e apostar nas intuições de uma menina de 7 anos de idade.
 
Saiba mais
PROGRAMAÇÃO ONLINE - SÉRIE “TITANE EM CASA”
Transmissões, às 20h, via instagram e youtube: @titaneoficial 
 Live 1 – “Titane 60” – 21 de julho, terça | Youtube
Titane canta grandes sucessos que marcaram sua carreira
 Live 2 – “Zeca” – 28 de julho, terça | Instagram
Titane canta canções de Zeca Baleiro que considera terem grande influência na sua trajetória.
 Live 3 – “Chico” – 4 de agosto, terça | Youtube
Titane canta canções de Chico César
 Live 4 – “Titane canta Elomar” – 11 de agosto, terça | Instagram
Titane canta o repertório de Elomar, selecionando canções gravadas em seu mais recente CD e outras ainda inéditas na sua voz.
 
Participações especiais nas lives de Zeca Baleiro, Chico César, Saulo Laranjeira, Suzana Salles, Ivan Villela, Rogério Delayon e Hudson Lacerda.

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