Cinebiografia

'Simonal' tem estreia em todo o país

Filme se debruça sobre a vida do cantor e compositor, um ícone da música popular brasileira

Por Patrícia Cassese
Publicado em 08 de agosto de 2019 | 03:39
 
 
 
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O longa “Simonal”, que, como o nome já indica, se debruça sobre a vida do cantor e compositor Wilson Simonal (1938-2000), marca o début de Leonardo Domingues na direção. Se para apresentar uma das estreias deste fim de semana nos cinemas o enunciado se resumisse a essas palavras, é certo que não estaria de todo equivocado. No entanto, o caminho percorrido do embrião da iniciativa até a efetiva entrada em cartaz tem, em seu bojo, bastidores dignos de nota. A começar pelo fato de a estreia se dar exatos dez anos após o lançamento de “Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei”, documentário de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, que colocou em revista a vida do músico relegado ao ostracismo graças à pecha de “dedo-duro”, angariada durante o regime militar. 

Um parêntese importante pode ser pinçado dos créditos daquela produção: o nome de Leonardo Domingues está inserido ali, como um dos responsáveis pela edição. Na verdade, o carioca, hoje com 45 anos, lembra que o poderio musical do “rei da pilantragem” entrou em seu radar na infância, por mérito do gosto musical de seus pais. “Claro, lembro da fama de dedo-duro, mas, enfim, eu era uma criança”, ressalta. Portanto, foi justamente ao se integrar à produção do documentário que passou a se encantar com a história do filho de mineiros que conquistou o Brasil com hits como “Meu Limão, Meu Limoeiro”, “País Tropical” ou “Sá Marina”.

“Ali, me flagrei pensando: “Caramba, então a explicação (para a pecha) é essa? Fiquei encantado com a história dele, que, a partir daquele marco, passou por um processo de resgate – as músicas do Simonal começaram a tocar nas festas e veio a ideia de contar essa história incrível nesse outro formato”, explica ele.

Para escolher o ator que viveria Simonal, Domingues não titubeou. Há três anos, ele atuou na montagem de “Nise: O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner, de cujo elenco Fabrício Boliveira fez parte. “Não há melhor forma que conhecer um ator do que numa ilha de edição, vendo todos os takes. À época, como já estava pensando nesse projeto, falei: ‘Poderia ser o Simonal’. Fizemos uma leitura e, de fato, ele tem um charme, uma sedução, uma simpatia, um brilho no olhar... Exatamente o que eu buscava”, rememora. 

Boliveira devolve: “Tenho tido a sorte de poder escavar histórias de heróis – apesar de não gostar muito do termo –, que foram propositalmente esquecidas, e poder fazê-las emergir, dando novos significados à história do país”.

Uma curiosidade é que, em “Simonal”, Fabrício volta a contracenar com Isis Valverde, tal qual em “Faroeste Caboclo”. “A Isis, alguém me sugeriu, mas de início pensei: ‘Meu Deus, ela é morena, e Tereza (Pugliesi, mulher de Simonal), loira. Porém ela se propôs a mudar a cor do cabelo. E a química entre os dois já tinha dado certo. Daí, o (preparador de atores) Sergio Penna me lembrou dos vários casais que se repetiram na história do cinema. E um minuto depois de ela aparecer no filme, duvido que alguém pense em ‘Faroeste Caboclo’. E, olha, não se trata de uma personagem fácil”, elogia.

Coincidências

Avida de Simonal sofre uma guinada após o imbróglio com seu contador, Raphael Viviani (Bruce Gomlevsky). “Ele (Simonal) foi vítima de uma grande fake news, como diriam hoje”, frisa o diretor. À época, o cantor estava sendo processado por Viviani por questões trabalhistas, após esse ter sido demitido pelo artista.

Ocorre que Simonal vivia uma vida de luxos, com carros sofisticados, numa mansão de tirar o fôlego. Mas delegava a vida financeira a esse contador, e, quando foi informado de um eventual declínio, colocou nele toda a culpa. Ao saber que, na sequência, Raphael entra na justiça do trabalho contra ela, Simonal, indignado, desabafa a Santana (Caco Ciocler, excelente), um agente do Dops, seu admirador, para tirar satisfação com Viviani. 

O  filme retrata o contador sendo levado de sua casa para ser submetido a uma sessão de tortura comandada por Santana. O caso, porém, começa a ganhar a imprensa. “E, quando Simonal foi depor no processo, uma nota no jornal acaba sendo apropriada por outros  veículos, como ‘O Pasquim’, um potente formador de opinião”.

Domingues lembra que, à época, o Brasil estava polarizado, como hoje. E Simonal ganha a fama de dedo-duro, delator. “Ele (Simonal) acaba ficando isolado, os colegas não saíram em defesa dele – mais tarde, muitos reconheceram isso”, pontua o diretor, que, claro, espera que a sua empreitada repita o sucesso do documentário.

A produção de dez anos atrás registrou uma bilheteria considerada excelente para uma produção nacional (71,4 mil espectadores). 

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