
Vacina à vista, é hora de colocar a lista de desejos em dia
Personalidades da cultura mineira revelam seus desejos para quando todo o pesadelo gerado pela pandemia passar
- Novos dias, de novos tempos: para os componentes do Grupo Galpão, o retorno à sala de ensaios está no topo da lista dos desejosFoto: Guto Muniz/Divulgação
- Foto: Marlos Bakker/divulgação
- Foto: Ana Paula Amorim/Divulgação
- Foto: José Luiz Pederneiras
- Lydia Del Picchia: "Na hora que eu puder abraçar muita gente, quero aglomerar, estar junto, cantar, dançar..."Foto: Guto Muniz/Divulgação
Há que se ter calma, como bem pontuou a médica pneumologista Margareth Dalcomo, do Centro de Referência Professor Helio Fraga, da Fiocruz, ao receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19, no último dia 23. “Quando tivermos 70% da população vacinada, aí poderemos comemorar de verdade”, ponderou ela aos jornalistas presentes na ocasião. Mas, ao mesmo tempo em que recomendou a prudência, a cientista, cujo rosto se tornou familiar aos brasileiros que acompanham amiúde o desenrolar da pandemia do novo coronavírus, ressaltou a esperança, que, se antes apenas delineada no horizonte, ganha agora contornos mais definidos. Hora, pois, de voltar a pensar num mundo no qual, mesmo com inevitáveis novas configurações, um simples toque não deva suscitar medo. E, sim, de fazer projetos.
Para perscrutar os planos mais imediatos de nomes mineiros (ou radicados aqui_ ligados à cultura, a reportagem do Magazine entrou em campo. Do universo erudito, no qual o maestro Fabio Mechetti circula sob aplausos, ao território da música romântica, que pauta o trabalho de Paula Fernandes, passando por expoentes de dois grupos que dispensam apresentações (Galpão e Corpo) e por um celebrado talento da arte da interpretação, Andreia Horta, os entrevistados revelaram, ao fim, desejos que passam longe de feitos fantásticos. “Ficar com mãe”, “abraçar”, “tomar cerveja”, “retomar projetos”. Sonhos prosaicos que, ao fim, reverberam que o essencial é mesmo invisível aos olhos. A saber, o afeto.
Confira, a seguir, alguns planos traçados por cinco nomes da cena artística
“Bem, inicialmente, vou responder em nome do Galpão: a gente está com vários trabalhos engatilhados, na ponta da língua, estamos cheios de bons projetos e com muita vontade de estar junto novamente. Sentimos muita falta de uma sala de ensaio, que é, em essência, um espaço de troca. A gente tem descoberto, nas plataformas, novas ferramentas para seguirmos conectados, mantendo o coletivo junto e produtivo. Mas uma sala de ensaio, você ali, vendo seus colegas em exercício... Quando paramos, estávamos a 15 dias de uma estreia (a de “Quer Ver Escuta”), sobre poesia contemporânea brasileira. Na verdade, quando tudo voltar, acho que vai ser quase como começar do zero, mas sabendo que os procedimentos em relação à plateia certamente não serão os mesmos. A gente faz muito teatro de rua, como vai ser? Os espetáculos na praça da Papa juntam mais de 5.000 pessoas – uma coisa, neste momento, impensável. Pessoalmente, é encontrar a família, visitar minha mãe, abraçar, ficar com ela. Acabar a apresentação e conversar com o público, depois sair com os colegas para tomar cerveja e continuar falando de teatro. Essa liberdade de estar com as pessoas sem tantos cuidados, sem receio. É isso que vai acontecer. Na hora que eu puder abraçar muita gente, quero aglomerar, estar junto, cantar, dançar... Acho que é isso”.
Lydia del Picchia (Grupo Galpão)
“Terminada esta pandemia, o que mais desejo é voltar a trabalhar normalmente. Estou há quase um ano sem fazer nada de realmente produtivo e há um mês trabalhando com várias restrições, com um número muito reduzido de bailarinos que não podem se tocar e que estão usando máscaras – o que dificulta muito a respiração de quem faz exercício físico pesado. O que mais quero é trabalhar livremente com o número de pessoas que precisar, sem nenhum tipo de restrição, e voltar a viajar apresentando espetáculos em teatros. Quero beijar, ser beijado, abraçar, ser abraçado e receber amigos para almoçar em minha casa nos finais de semana. Quero vida normal”.
(Rodrigo Pederneiras, coreógrafo do Grupo Corpo)
“No pós-pandemia, uma das primeiras coisas que eu quero fazer é abraçar a família toda, relaxar em relação a isso. E voltar para os palcos, quero muito! Voltar para os meus fãs, abraçá-los e ter esse contato pessoal com eles. Mas acredito que muitos cuidados adquiridos na pandemia devemos manter, para nossa proteção e por higiene”.
Paula Fernandes (cantora e compositora)
“Quero encontrar, abraçar e olhar nos olhos das pessoas que amo. Quero não ter medo do ar nem olhar para outra pessoa pensando que ela pode significar um risco de morte. Quero voltar ao teatro, ao cinema, quero atuar sem medo. Quero ver que novo tipo de luta nascerá de nós, depois do que vimos e vivemos em 2020. Sonho com o levante popular diante do governo atual”.
Andréia Horta (atriz)
“O setor cultural foi certamente um dos mais atingidos durante a pandemia, principalmente no que tange às artes performáticas. E somos o oposto daquilo que se pede neste momento, o distanciamento social. Nossa atividade não só exige, mas é dedicada à aproximação social, à comunhão de sentimentos, emoções e convívio com aquilo que de mais bonito a humanidade produziu ao longo dos séculos. Estamos ainda nos mantendo ativos, pois também acreditamos na importância que a cultura tem neste momento, trazendo alento, conforto e esperança para a sociedade cativa. Mas não há dúvida de que o que mais queremos fazer, assim que possível, é voltar a compartilhar nossa arte com o público. O que mais imaginamos, nos próximos meses, é uma Sala Minas Gerais repleta, do palco ao mezanino, reativando nossa função no aprimoramento da sociedade pela cultura e acreditando cada vez mais na força transformadora e emancipadora da música”.
Maestro Fabio Mechetti (diretor artístico e regente titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais)

