Uma plataforma de ações individuais e coletivas, com atividade online, mas com ações principalmente presenciais, a edição de 2020 do projeto VerboGentileza precisava se adaptar às limitações impostas pela pandemia da Covid-19 ao mesmo tempo que buscava formas de manter o elo entre as ruas, onde sempre se fez presente, e as redes sociais.
A solução veio em um feixe de luz: obras criadas por artistas plásticos no período em que vigoram as medidas de distanciamento social serão projetadas, nesta quinta-feira (28), das 19h às 21h, em empenas de prédios em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. E assim, em grande estilo, será lançada da galeria digital #ArteSalva. Para que ninguém precise sair de casa para apreciar a vista, a ação será transmitida em tempo real no perfil do projeto no Instagram.
Também nesta quinta será lançada uma campanha para que artistas interessados enviem seus trabalhos para serem projetados nas próximas sessões. Há também a previsão de, em um segundo momento, as obras serem disponibilizadas para venda por meio de uma galeria online, como forma de contribuir com os artistas.
A ação, em parceria com o coletivo Projetemos, é uma primeira reconformação do projeto, que chegava a sua quinta edição com um festival previsto para o final de agosto ou começo de setembro.
“Quando tudo isso tudo começou a aparecer, ainda antes de chegar ao Brasil, começamos a monitorar, foi quando entendemos que nossa quarentena não seria curta”, comenta Patrícia Tavares, idealizadora do Verbo:Gentileza. “Somos (os organizadores) pessoas de eventos, de festivais, de shows. A nossa vida, de certa forma, derreteu nos últimos meses”, diz.
No horizonte de incertezas, repensar o projeto e usufruir da rede colaborativa que está em seu cerne tornou-se um alento. “Acabamos nos tornando o apoio uns dos outros e entendemos que, à medida que a gente estava se ajudando, poderíamos ajudar mais pessoas”, conta.
Quando caiu a ficha, surgiu um novo braço da plataforma, as chamadas Living Room Sessions, sessões interativas e abertas realizadas por meio do aplicativo de videoconferências Zoom. “Essas interações, por mais que por meio digital, tem uma conexão humana muito forte, uma dinâmica de proximidade intensa”, observa.
Das conversas virtuais, surgiu o manifesto Gentileza Cura. “A cada ano escolhemos um tema, que vamos trabalhando e que vai norteando nossas ações. Neste 2020, ficou claro que o nosso verbo é curar”, garante Patrícia. “A gente acredita que a gentileza cura as relações - e a expressão é também um trocadilho que remete à ideia de curadoria”, explica.
Salientando que participam do projeto um grupo de pessoas que deseja um mundo mais colaborativo, ela aponta que a construção de uma nova normalidade - “em que os seres humanos se enxerguem e em que as coisas acontecem de gente para gente” - tornou-se uma reflexão recorrente. Veio então a ideia da criação de uma galeria e, logo, o tema passou a orientar a curadoria das obras.
Criação artística
Patrícia Tavares observa que, neste período, a criação artística foi comprometida em sua gênese. Houve uma ruptura em termos de rotina e, diante das limitações impostas pelas medidas de enfrentamento à pandemia, registrou-se uma alteração na forma das expressões de sociabilidade, de sexualidade ou da criatividade.
Assim, o resultado dos trabalhos que serão apresentados causam um quê de surpresa. “Esses artistas conseguiram romper com qualquer dificuldade”, elogia, citando como exemplo o projeto do fotógrafo Estevão Andrade, que passou a dirigir as pessoas através de um celular. “Ele vai orientando, pede que coloque o celular de uma determinada maneira e vai fotografando com o equipamento dele do outro lado. Isso se torna uma nova forma de interação em que a fotografia não é o principal”, reforça.
A fotógrafa Márcia Charnizon, por sua vez, faz um trabalho com bolhas, “que é como ela está enxergando esse momento”. Já a cantora Fernanda Takai projeta nesta quinta um vídeo derivado de seu novo trabalho, o álbum Terra Plana - “que está relacionado com o que estamos vivendo”, pontua Patrícia. Também participam da primeira edição do #ArteSalva: Cristiano Xavier (fotógrafo), Rodrigo Oliveira (videomaker), Carolina Correa (atriz), Beth Freitas (fotógrafa e videomaker), Leonardo Lima (diretor), Nina Maalej (fotógrafa) e Leandro Miranda (videomaker).