O preço da gasolina não ficava tão caro como os R$ 6,69 registrados nesta semana em Belo Horizonte há exatos dois anos. Levantamento feito pela reportagem de OTempo, com base em dados do site de pesquisas Mercado Mineiro e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP), mostrou que a última vez que o motorista pagou tão caro para abastecer na capital mineira foi em junho de 2022.
À época, o combustível era vendido a R$ 7,89 nos postos. Após esta data, entrou em vigor uma medida do governo federal que limitou a cobrança de impostos sobre os combustíveis, resultando em uma queda acentuada com a gasolina fechando o ano abaixo dos R$ 5. O preço para abastecer voltou à mesa de debates nesta semana após um reajuste de R$ 0,20.
Contudo, o que se observa nos postos de Belo Horizonte e região metropolitana é um aumento bem acima do estipulado pela Petrobras. Alguns estabelecimentos estão cobrando até R$ 0,50 a mais após o aumento. O valor mais elevado detectado em um levantamento inicial do site de pesquisa Mercado Mineiro foi R$ 6,69, em um posto no Belvedere, na região Centro-Sul de BH.
Antes do reajuste da Petrobras, o combustível custava R$ 6,19 no mesmo local. Em postos na avenida Amazonas, a alta também foi superior ao reajuste oficial, e o combustível saltou de R$ 5,99 para R$ 6,39, mais do que o dobro do aumento esperado.
“Para o consumidor final, é totalmente surpreendente, porque, quando a Petrobras anuncia um aumento de R$ 0,20 nas refinarias, normalmente esse aumento não é na íntegra para o consumidor final. Só que o aumento foi muito maior. Vemos aumentos de R$ 0,30, chegando a até R$ 0,60 em algumas regiões, e isso é preocupante para o consumidor. Escutamos um anúncio de uma empresa séria como a Petrobras e vemos ocorrer outro preço”, analisa o administrador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu.
O que dizem os postos
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) justifica que a gasolina aumentou mais do que o previsto pela Petrobras devido à pressão do preço do etanol anidro, que é misturado ao combustível que chega aos postos. “Para se ter uma ideia, nos últimos 30 dias, o etanol anidro – que compõe o preço da gasolina em 27% – subiu R$ 0,29”, expõe, por meio de nota.
A Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig Bioenergia) calcula que, considerando todos os fatores que pesam sobre o preço da gasolina, o etanol anidro representa cerca de 12% do valor final. Portanto, argumenta a entidade, a alta do etanol não justifica o aumento desproporcional ao reajuste da Petrobras.
“É uma cadeia longa. Temos a margem de distribuidores, dos postos, a própria logística pode ter ficado mais cara. São muitos pontos para sofrer alteração além do etanol”, pontua o presidente da Siamig Bioenergia, Mário Campos.
O etanol também foi reajustado nos postos, conforme foi observado pelo Mercado Mineiro. É comum que, ao haver alta da gasolina, a demanda pela opção aumente, sendo ele um combustível mais barato, e, desse modo, o preço do álcool também se eleve nos postos. Ainda assim, ele pode compensar em comparação à gasolina, pois permanece abaixo de 70% do valor dela em alguns estabelecimentos. Em outros, porém, já ultrapassa essa marca.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o preço do etanol é impactado pelas condições de mercado e de produção, além de ter o valor final influenciado pelos tributos federais e estaduais, somado às margens de lucro da distribuição e revenda.
"O etanol anidro assim como o hidratado que oferece uma oportunidade de economia ao consumidor. O anidro no Brasil permite uma redução no preço médio da gasolina C comercializada na bomba que contém 27% de biocombustível", explica a entidade.