Treinamento de corrida

Assessorias esportivas de BH perdem até 50% dos clientes em meio à pandemia

Apesar dos prejuízos, Associação de Treinadores de Minas Gerais (ATMG) defende retomada das atividades quando a curva de casos de Covid-19 estiver controlada

Por Rafaela Mansur
Publicado em 27 de junho de 2020 | 06:00
 
 
 
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Quando se fala em atividade física, logo se pensa em academias de ginástica, mas esses estabelecimentos não são os únicos com as operações prejudicadas pela pandemia do coronavírus. As assessorias esportivas, realizadas por profissionais de educação física que oferecem acompanhamento especializado em treinamentos de corrida e outras práticas, tiveram que se reinventar para manter os alunos em movimento neste período de isolamento social. Muitas passaram a focar em aulas online, mas a perda de clientes foi inevitável: de acordo com a Associação de Treinadores de Minas Gerais (ATMG), a queda é de, em média, 25%. A entidade defende uma retomada cuidadosa das atividades, quando a curva de casos de Covid-19 estiver controlada.

As assessorias esportivas ocorrem sempre ao ar livre. Em Belo Horizonte, os espaços mais comuns são a orla da lagoa da Pampulha e praças, como a da Assembleia e JK. Em horários marcados, os profissionais montam uma estrutura de apoio nesses locais, onde os atletas recebem uma orientação, se hidratam ou fazem alongamentos antes de iniciar o treinamento do dia. Cada pessoa, geralmente, segue a planilha indicada individualmente.

Desde o início da pandemia, essas atividades estão paralisadas na capital: o decreto municipal 17.328, publicado em abril, suspendeu, enquanto perdurar a Situação de Emergência em Saúde Pública, a utilização de praças e outros locais públicos para "a prática de atividades de esporte e lazer coletivas ou individuais que gerem aglomeração de pessoas".

De acordo com o presidente da ATMG e diretor da RunFun BH, Paulo Santos, as empresas registraram queda de 25% no número de alunos. "São diversos motivos, como as questões financeiras e o fato de algumas pessoas não conseguirem se adaptar a esse modelo online. Algumas empresas estão renegociando contratos, outras estão oferecendo descontos, tudo para minimizar esses impactos", afirma.

Apesar dos prejuízos, a associação não se sente à vontade para cobrar do poder público a retomada das atividades enquanto a curva de casos de Covid-19 continua a crescer. "É claro que queremos e precisamos voltar a trabalhar, mas estamos tentando manter a coerência com base na ciência. Nosso maior receio é retomar e termos que parar de novo, isso seria muito frustrante e causaria ainda mais prejuízo", diz Santos. "Nós recomendamos que as pessoas fiquem em casa, se puderem, e, se forem sair, que adotem todas as medidas de proteção. É possível se manter saudável em casa", pontua Santos.

Entre as assessorias, as opiniões quanto ao retorno das atividades são divergentes. A Guana Trainer, que oferecia treinos na Pampulha, no Mangabeiras e no bairro Cabral, em Contagem, na região metropolitana, perdeu cerca de 50% dos alunos desde o início da pandemia, principalmente aqueles que mantinham planos mensais. A equipe foi reduzida, de seis para quatro profissionais. A empresa mantém o atendimento online e passou a transmitir aulas ao vivo, mas, para o proprietário e profissional de educação física, Marcelo Mayer, a retomada das atividades normais é possível.

"Nos treinos, já não aconteciam aglomerações. O pessoal chegava aos poucos, alongava e saía individualmente. Como não existe alvará específico para assessoria esportiva, nós pegamos carona com as academias, mas, com os cuidados necessários, dá pra voltar com segurança", diz.

Na BePro Treinamento Esportivo, que trabalha com treinamento funcional e de corrida, cerca de 40% a 50% dos alunos abandonaram as atividades durante a pandemia. "Quem não conseguiu mudar a rotina acabou desistindo. Aqueles que gostam e sentem prazer na atividade continuaram, os que faziam por obrigação foram os primeiros a pararem", conta um dos sócios da empresa, Pedro Mattos. No entanto, para ele, ainda não é o momento certo para a retomada: "Se a gente aparece em praça, isso pode transmitir uma mensagem de normalização. As pessoas acabam se descuidando".

O fundador da Teo Esportes, Daniel Teodoro, concorda. "Eu prefiro esperar para voltar e ficar de vez, do que retornar agora e ter que fechar de novo. Sei que, se voltarmos hoje, esse risco é grande", pontua. A empresa perdeu cerca de 20% dos alunos no início da pandemia, mas, com o investimento na modalidade online, novos clientes ingressaram a partir de maio. Algumas aulas por meio de ferramentas de videoconferência reúnem até 80 pessoas por vez.

"O que mais aconteceu nesse período foi aluno alugar bicicleta e esteira para se exercitar em casa. Nós passamos as planilhas, e cada um se adapta", diz.

O analista de sistemas Thiago Lage, 40, aluno da BePro, fez uma meta de treinamento no início do ano, mas, com a necessidade de isolamento social, precisou readequar a rotina de exercícios. "Fazer o corpo mexer e transpirar nesse momento é muito importante. A prática de atividade física estimula o organismo a produzir uma série de hormônios que causam a sensação de bem estar e reduzem o estresse", diz.

Conselho de Educação Física incentiva prática de atividades físicas

O Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais ressalta que a atividade física reduz o estresse e ajuda a fortalecer o sistema imunológico.

"Está havendo hoje um problema de saúde mental, as pessoas estão ficando isoladas e deprimidas, e a atividade física é uma válvula de escape. Além disso, existem estudos que mostram que atividades de intensidade moderada ativam o sistema imune, que fica mais fortalecido e apto a combater qualquer elemento viral ou bacteriano", pontua o conselheiro do Cref6/MG e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ricardo Wagner de Mendonça Trigo.

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