Crise sem fim

BNDES e Caixa, sócios da JBS, já perderam R$ 3,4 bilhões

Bancos têm 26,24% de participação na empresa e têm prejuízos com a queda das ações


Publicado em 25 de maio de 2017 | 03:00
 
 
 
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SÃO PAULO. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal perderam, juntas, R$ 3,4 bilhões com a queda de 42,9% das ações do frigorífico JBS neste ano, até o dia 23 de maio. A empresa tem como um dos sócios Joesley Batista, delator de denúncias contra o presidente Michel Temer. Os dois bancos públicos são os principais detentores de ações em circulação do frigorífico. O BNDES Participações possui 21,32% das ações ordinárias da JBS e a CEF, 4,92%. São os maiores acionistas fora do controle acionário.

Se incluídas as perdas com papéis da Petrobras e da Eletrobras neste ano, o saldo negativo das duas entidades públicas é de R$ 8,27 bilhões, segundo estudo realizado pela consultoria Economatica.

Na análise, a consultoria considerou as informações declaradas pela JBS nos formulários de referência que divulga desde 2007, quando aderiu ao mercado de capitais. Nesses documentos, a empresa é obrigada a informar os acionistas que possuem participação superior a 5% todas suas movimentações corporativas. Pelas contas da Economatica, o valor das ações da JBS pertencentes ao BNDES caiu de R$ 6,6 bilhões, no fim de 2016, para R$ 3,8 bilhões nessa terça-feira (23), o que demonstra perda de R$ 2,8 bilhões apenas neste ano. Já a participação de 9,7% na Petrobras, que também foi afetada pela instabilidade política gerada pela delação de Batista, gerou perda de R$ 2,57 bilhões ao BNDES – saldo da queda do valor da participação de R$ 20,3 bilhões, em 31 de dezembro de 2016, para R$ 17,7 bilhões, nessa terça-feira (23). O banco ainda perdeu R$ 1,5 bilhão com a Eletrobras no mesmo período.

O estudo da Economatica revela ainda que a Caixa perdeu, em 2017, R$ 647 milhões com a JBS, R$ 615 milhões com a Petrobras e R$ 84 milhões com a Eletrobras no mesmo período de comparação. Procurados, Caixa e BNDES ainda não se posicionaram.

A Economatica aponta ainda que o BNDES tinha, em 2016, participação direta em 28 empresas pelo Brasil, totalizando R$ 53,7 bilhões. Na última terça-feira, esse valor recuou para R$ 48,5 bilhões. O banco é acionista, por exemplo, da Coteminas, Cemig e Bombril.

Balanço

Caixa lucra. A Caixa Econômica Federal registrou lucro líquido de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre deste ano, cifra 81,8% maior que a registrada em igual intervalo do ano passado.


Perda chega a R$ 184 bilhões

RIO DE JANEIRO. No mercado financeiro, onde o reflexo de fatos que tenham impacto na economia é sempre imediato, o índice mais importante da Bolsa brasileira (Ibovespa) acumula queda de 7,2% e o valor de mercado das empresas listadas, perda de R$ 184 bilhões, com uma semana da crise aberta pela delação da JBS.

A incerteza é o maior paralisador da economia, porque, sem saber o que virá pela frente, consumidores não gastam e empresários não investem.


Câmara e CVM

Operação cambial está na mira

BRASÍLIA. A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou nessa quarta-feira (24) convite para ouvir o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e os empresários Joesley e Wesley Batista, da JBS. As convocações se estenderam também ao presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Leonardo Pereira, e a Celso Finkelstain, diretor-presidente da BM&F Bovespa. O requerimento pede que eles esclareçam a movimentação atípica no mercado financeiro no dia 17 de maio.

A empresa adquiriu entre US$ 750 milhões e US$ 1 bilhão antes da deflagração da nova crise no país como consequência de gravações feitas pelos donos da empresa, os irmãos Joesley e Wesley Batista. Essa operação teria dado grande lucro à empresa, que saberia que as delações seriam divulgadas no início da noite do dia 17 e que afetariam o mercado no dia seguinte. De fato, o dólar chegou a subir 8,8% na quinta-feira.

Também nessa quarta-feira (24), a CVM determinou à JBS que informe quando seus executivos e conselheiros souberam da colaboração premiada dos controladores Joesley e Wesley Batista. A exigência faz parte de investigação aberta pelo xerife do mercado financeiro sobre o caso, que gerou fortes reações no mercado financeiro.

Na mira

Agora são sete. Após o anúncio da colaboração premiada dos irmãos Batista, a CVM já abriu sete processos para investigar a JBS. Uma minoritária da empresa tem, por exemplo, sede em paraíso fiscal.


Em MT

Pecuarista quer vender só à vista

SÃO PAULO. Pecuaristas de Mato Grosso, maior produtor de gado do Brasil, e de outros Estados do país querem vender boi apenas à vista ao frigorífico JBS, em um movimento de aversão a risco frente ao escândalo de corrupção envolvendo a cúpula da empresa. Mas a JBS mudou o modelo de comercialização na compra de gado. A empresa comunicou nessa terça-feira (23) aos pecuaristas de algumas regiões que não está mais fazendo pagamentos à vista, mas apenas a prazo.

A mudança de atitude da empresa vai levar mais pecuaristas para os pequenos e médios frigoríficos, segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso.


Mercado do dia

Bovespa
O mercado brasileiro de ações manteve o ímpeto comprador, motivado pelo barateamento de ações causado pela instabilidade política, e levou o Índice.
Bovespa à sua segunda valorização consecutiva, ao fechar em 63.257,35 pontos, com ganho de 0,95%.

Dólar
O dólar à vista no balcão subiu 0,45%, fechando a R$ 3,2803.

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