Nas ruas

Crise provoca envelhecimento da frota de veículos do país

Mesmo com a alta nas vendas de novos a partir de 2017, idade média será de dez anos em 2020

Por Juliana Gontijo
Publicado em 12 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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O receio com os rumos da economia, especialmente o do emprego, está postergando a troca do carro usado. Em tempos de dinheiro curto, o consumidor está mantendo o veículo que possui e consertando nele somente o essencial, segundo donos de oficinas mecânicas.

Com isso, a frota de automóveis está ficando mais velha no país. A recuperação do mercado de veículos novos a partir de 2017, depois de quatro anos de recuo no período mais grave da crise, ainda não conseguiu reverter o processo de envelhecimento da frota brasileira.

No próximo ano, a idade média dos carros vai chegar a dez anos, segundo projeções feitas pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Hoje, essa média está em nove anos e sete meses. No auge das vendas de veículos novos, em 2012, a idade média da frota brasileira era de oito anos e seis meses.

O cenário de incerteza econômica fez a analista de marketing digital Nathália Guimarães postergar a compra do seu primeiro carro zero neste ano. “Eu tenho um Fiat Palio 1997, o mesmo há cinco anos. Eu estava planejando trocar por um zero neste ano, mas tive que mudar os planos”, diz.

Ela conta que não poderia comprar à vista. Logo, teria que parcelar. Só que, diante da situação do país, resolveu fazer os reparos necessários no veículo atual. “Em abril, levei o carro para revisão para me sentir mais segura”, frisa. Ela conta que a oficina estava tão movimentada que precisou aguardar sete dias úteis para que o serviço fosse finalizado. 

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) confirma o receio do brasileiro. Seu Índice do Medo do Desemprego cresceu 2,3 pontos em relação a abril e alcançou 59,3 pontos em junho. O indicador está acima da média histórica, que é de 49,9 pontos (em uma escala de 1 a 100).

O gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, afirma que há uma certa frustração com o mercado de trabalho, que, na verdade, reflete o fraco desempenho da economia. 

Professor de economia do Ibmec/BH, Luiz Carlos Day Gama observa que a incerteza na economia faz com que sejam postergadas as compras de bens de consumo duráveis, em especial aqueles que precisam de financiamento, como o carro. “As pessoas estão segurando o consumo”, diz. 

Oficinas esperavam maior fluxo

O presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos do Estado de Minas Gerais (Sindirepa-MG), Alexandre Mol, diz que os negócios do setor ainda não decolaram, mesmo com o envelhecimento da frota de veículos nos últimos anos.

“Não teve melhora expressiva. O cenário está parecido com o do ano passado”, diz. “As pessoas estão ficando mais tempo com o carro, mas só fazem pequenos reparos”, completa o proprietário da Concept Oficina Mecânica, Lucas Marques Caputto. “Ele arruma o essencial”, frisa. 

Situação semelhante é verificada na Top Car Brasil Centro Automotivo, segundo o dono da empresa, Éder Menezes. “As pessoas estão gastando pouco”, diz. Para ele, o problema é a falta de dinheiro. “É muita gente desempregada. Desde a greve dos caminhoneiros, estou trabalhando no vermelho. Faço promoções nas redes sociais e não promovo reajuste da mão de obra desde 2016. E mesmo assim, a situação não melhora”, analisa.

Menezes conta que os meses de junho e julho costumavam ser bons para a atividade, em razão da preparação para as férias. “Na comparação com julho do ano passado, a demanda caiu drasticamente, por volta de 60%”, diz.

O proprietário da Jets Car, Felício Resende, diz que o movimento está fraco na comparação com 2018. “Se as pessoas não estão tendo dinheiro para consertar o carro, imagina comprar um novo”, observa. Ele conta que os clientes estão ficando mais tempo com o mesmo veículo por receio de comprometer a renda com um financiamento para adquirir um zero-quilômetro. 

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