COMBUSTÍVEIS

Diesel: inverno europeu e furacões podem influenciar no preço na bomba?

Pela primeira vez na série histórica, a cotação do óleo está acima do preço da gasolina, o que onera toda a logística do País e o transporte público

Por Gabriel Ronan
Publicado em 29 de julho de 2022 | 15:17
 
 
 
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Desde que o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a limitação do ICMS para os combustíveis entre 17% e 18%, o Brasil experimenta uma situação inédita: o litro de óleo diesel é vendido mais caro que a mesma quantidade de gasolina nos postos. Se a queda maior no segundo produto é explicada pela relação entre as alíquotas do imposto dos dois itens (a gasolina tinha taxa muito superior ao diesel, por isso a queda foi maior), qual o prognóstico para o segundo semestre para quem precisa abastecer vans, ônibus, caminhões, carretas e outros veículos movidos a diesel? 

Números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a tentativa de reduzir o preço do diesel por meio do ICMS não funcionou. Em junho, o preço médio do litro do óleo no Brasil era de R$ 7,32, valor que subiu para R$ 7,57 em julho, uma elevação de 3,4%. 

Já a cotação da gasolina, de fato, despencou com a redução dos tributos. Em junho, o litro do combustível era vendido, em média, a R$ 7,25 nos postos brasileiros. Essa cotação sofreu queda de 16,5% em julho, estabelecida em R$ 6,05, conforme a ANP.

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (29), gestores da Petrobras alertaram para uma piora na oferta do produto no segundo semestre. O cenário internacional pode puxar o preço do diesel ainda mais para cima e colocar em risco, inclusive, a oferta do combustível no País. 

“A Petrobras, há alguns meses, fez um alerta. De lá pra cá, algumas coisas evoluíram, mas a gente ainda enxerga com cautela em função do aumento sazonal da demanda, menor oferta, refino da Rússia limitado, paradas programadas das refinadoras no Brasil, interrupção de refinarias no Caribe e nos EUA por conta de furacões, entre outras coisas”, disse o diretor-executivo de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella.

O “aumento sazonal” da demanda citado por Mastella está ligado ao inverno europeu. Por conta das sanções contra a Rússia por conta da guerra, vários países têm estocado diesel para assegurar o aquecimento da população durante a onda de baixas temperaturas, o que certamente influencia no preço. 

A fala do executivo da Petrobras chama a atenção também para a situação dos fenômenos naturais. O Brasil importa cerca de 24% de sua oferta de diesel, que vem, sobretudo, da Região do Golfo do México, frequentemente afetada por furacões, o que pode comprometer essa compra. 

Apesar dos diversos fatores, Cláudio Mastella não projeta um aumento no preço do diesel. Mas, ele diz que "é sempre arriscado fazer previsões". "A gente tem um cenário de manutenção de preços nos níveis atuais, em especial no caso do diesel, com o inverno no hemisfério norte, a expectativa é de o diesel ficar neste nível, a menos que se confirme uma forte recessão global, que até agora não se configurou. A gente enxerga o mercado andando dessa maneira”, afirmou.

Economista vê cenário com menos risco

Consultado pela reportagem de O TEMPO, o economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social do Petróleo, diz que o temor quanto à oferta de diesel não se concretizou. 

"Na verdade, de maio para cá, aumentou 5% o estoque de diesel nos Estados Unidos. O governo federal não fez uma política para diminuir o preço do diesel. Mas, eu não vejo grandes problemas para esse combustível no segundo semestre. Pode acontecer, mas não é o que temos no horizonte", diz o especialista.

Manutenções programadas podem comprometer oferta

A Petrobras tem cinco manutenções programadas em sua refinaria no segundo semestre. Diminuindo sua capacidade de refino de petróleo, a estatal, evidentemente, fica mais dependente da importação de diesel. A ANP chegou a pedir para que a empresa suspendesse esses procedimentos de segurança para não inflar ainda mais os preços do óleo, ou até causar uma escassez do produto. 

“Com relação ao refino, a gente vai continuar buscando níveis elevados, diante da margem altíssima ao redor do mundo, mas sempre respeitando a lógica econômica. Temos algumas manutenções programadas de algumas refinarias para garantir a segurança da operação”, disse o diretor-executivo de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella.

Devem parar no segundo semestre: a Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG); a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), a Refinaria Planalto de Paulínia (Replan), em Paulínia (SP); a Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP); e a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP).

Segundo a Petrobras, o Fator de Utilização (FUT) de suas refinarias ficou em 94% no mês de julho. A tendência é que o percentual de uso do parque continue alto no segundo semestre, segundo o diretor-executivo de Refino e Gás Natural da estatal, Rodrigo Costa Lima e Silva.

“A gente vê um nível elevado de utilização, na casa dos 95%, nas refinarias sem paradas programadas. Se a gente considerar as que vão parar, teremos um nível em torno dos 86%. O mercado está puxando fortemente o diesel ao longo dos meses de agosto, setembro e outubro, em patamares bastante elevados. Por isso, vamos procurar saturar a produção”, disse Rodrigo Costa Lima e Silva.

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