Balanço

Em meio à pandemia de coronavírus, setor de floricultura cresceu 10% em 2020

Isolamento social durante a pandemia despertou interesse por plantas e foi crucial para o setor

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 19 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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Mesmo com a grave crise vivenciada pelos produtores de flores de corte, quem apostou em plantas de vaso ou ornamentais conseguiu se destacar durante a pandemia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o setor teve um crescimento de 10% em 2020. 

Esse peso positivo na balança só foi possível graças a uma mudança comportamental da população durante o isolamento social. Ao terem de ficar em casa o dia todo, muitos brasileiros decidiram dar leveza ao ambiente doméstico por meio de vasos de plantas. 

“Com mais tempo em casa, em home office, sem oportunidade para gastar com lazer e viagens, o consumidor decidiu deixar o ambiente doméstico mais bonito, mais agradável, mais colorido”, explica Renato Opitz, diretor do Ibraflor. 

Segundo ele, as plantas em vaso, muitas delas de fácil cultivo, como suculentas e cactos, mudaram os números de um setor que foi impactado profundamente no início da pandemia. “Boa parte do cultivo de flores era destinada para eventos, especialmente casamentos. Esse mercado sumiu, e não há perspectiva para o retorno.

Alguns produtores se adaptaram, outros reduziram a produção, e teve quem foi obrigado a encerrar o negócio”. 

Opitz conta ainda que há casos de quem perdeu a produção em 2020, mas se arriscou a retomar o negócio em 2021. Alguns empresários plantaram flores imaginando que o número de casos de infectados se reduziria e os eventos seriam retomados – especialmente os casamentos que haviam sido adiados.

“Hoje sabemos que o setor de eventos não voltará tão cedo a ser como antes. Mesmo que as festas sejam realizadas, elas serão menores e mais simples por muito tempo”, considera.

Nem mesmo o setor funerário, em plena atividade por causa da pandemia de Covid, salvou o segmento de flores.

“Os enterros das vítimas da Covid são muito rápidos, muitas vezes nem há velórios. Não dá tempo de chegar a coroa de flores para o sepultamento”, afirma Opitz.

Aumento de 300%

Já as empresas especializadas em plantas de vaso e ornamentais viram as vendas aumentarem exponencialmente nos últimos 12 meses. Na loja da Pampulha da Beija-Flor, uma das maiores do setor em Belo Horizonte, o crescimento foi de 300% nas vendas, mesmo com as portas fechadas por vários meses. 

“A procura aumentou por pessoas que compraram plantas pela primeira vez, por colecionadores, por adeptos da moda da urban jungle, que é transformar um canto da casa em uma minifloresta”, conta Paola Patrocínio, gerente da loja da Pampulha. 

A empresa investiu na contratação de entregadores para os clientes que compram as plantas para a própria casa ou para presentear alguém que está longe.

“As plantas são ótimos presentes para quem quer demonstrar afeto. E o feedback é bastante positivo. Muitas pessoas que ganham as plantas postam fotos nas redes sociais ou também são inspiradas a presentear”, completa. 

Jardinagem se torna atividade principal

O ramo da floricultura se mostrou tão promissor que Lincoln Galvão e Gustavo Tauil estão deixando os trabalhos de advogado e bancário, respectivamente, para se dedicar à Kokedama BH, uma empresa especializada em uma técnica japonesa de arranjos ornamentais. 

O negócio nasceu de forma despretensiosa, durante o isolamento social, depois que o casal comprou uma kokedama e quis aprender em casa como fazer outros exemplares. 

“Isso virou um hobby, e postamos no Instagram. Algumas pessoas nos perguntaram se vendíamos, e vimos que havia um interesse muito grande sobre o assunto. Decidimos aproveitar o tempo livre para aprender mais sobre as plantas”, conta Lincoln Galvão. 

A intenção era ter uma renda extra durante a pandemia, mas a jardinagem tomou outra proporção na vida do casal. “O plano B virou plano A, e conseguimos montar nosso ateliê. Neste momento, temos cerca de 30 clientes por semana”.

Segredo para hortinhas

Para quem deseja uma jardineira com ervas para cozinhar, como manjericão e sálvia, por exemplo, Simone Reis conta que não há muito segredo.

“O importante é deixar em um lugar bem-iluminado”, diz. Quanto às flores comestíveis usadas na gastronomia, Simone alerta: “Só podem ser ingeridas espécies específicas criadas em casa ou com procedência orgânica”, alerta.

Impacto negativo

Em Barbacena, uma das maiores produtoras de flores de Minas, a pandemia teve impacto negativo no setor. Ex-presidente da Associação Barbacenense dos Produtores de Rosas e Flores (Abarflores), Scheila Loschi conta que produz apenas 25% das rosas que costumava plantar antes da pandemia. Dos 12 funcionários, nove foram demitidos.

 

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