WASHINGTON, EUA. No primeiro relatório assinado por Janet Yellen, nova presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), a instituição destacou o Brasil como um dos emergentes mais vulneráveis às mudanças no cenário econômico global, em parte causadas pelo início da retirada de estímulos à economia dos EUA. Segundo a instituição, além do Brasil, países como Turquia e Indonésia precisam investir em reformas monetárias, fiscais e estruturais para resistir aos choques.
Após não citar as fortes turbulências nos mercados emergentes na ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (espécie de “Copom” norte-americano), a instituição dedicou ao assunto uma seção de duas páginas no relatório de política monetária, divulgado ontem. O Fed relembra a turbulência que começou em maio, com os primeiros rumores da redução do programa de estímulos à economia norte-americana (que se concretizou em dezembro), e a nova onda do início do ano, à qual a Turquia respondeu com um aumento dos juros de 7,7% ao ano para 12% ao ano, uma forma de defender a lira, moeda local.
O Fed também destaca que os efeitos das alterações na economia norte-americana não foram idênticos para todas as economias estrangeiras, citando os chamados “cinco frágeis”, grupo no qual o Brasil tem sido incluído em análises recentes, como mais afetados que outros emergentes, na Ásia, por exemplo.
“Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia estão entre as economias que parecem ter sido mais afetadas. Por exemplo, as moedas do Brasil, da Índia e da Turquia recuaram fortemente no meio do ano passado, enquanto as divisas da Coreia do Sul e Taiwan foram mais resilientes. E, nas semanas mais recentes, apesar da ampla venda de moedas de emergentes, rendimentos de títulos de emergentes tenderam a aumentar mais em economias que viram os maiores aumentos ao longo de 2013”, diz o relatório.
Juros. Para o BC dos EUA, os esforços dos países emergentes para evitar os choques devem diminuir os efeitos, se comparados aos das crises cambiais dos anos 90. Mais uma vez destacando o Brasil, o Fed destaca o movimento de aumento dos juros, considerado importante para conter a inflação.
“Brasil, Índia e Turquia, entre outros emergentes, aumentaram suas taxas desde então (meio do ano passado). Além disso, alguns bancos centrais de emergentes intervieram nas taxas de câmbio para apoiarem suas moedas. Para ajudar a estabilizar mercados financeiros, Brasil e Indonésia flexibilizaram algumas restrições à entrada de capital impostas durante a recuperação da crise global, quando o fluxo aumentou”, lembrou o documento.
No entanto, segundo o Fed, essas são apenas medidas “tampão”, que devem ser complementadas por reformas estruturais.
Efeito Fed
Como fecharam as Bolsas:
Bovespa: + 1,6%
Dow Jones (EUA): + 1,2%
Londres: +1,2%
Paris: + 1,1%
China: + 0,8%
Motivos das altas: O documento do Fed e o discurso de Janet Yellen não apresentaram grandes novidades quanto à retirada dos estímulos à economia dos EUA
Yellen não teme emergentes
Washington. Janet Yellen frisou que, até agora, o Fed não vê a recente turbulência nos mercados emergentes como uma ameaça à economia norte-americana. "Temos observado de perto a recente volatilidade nos mercados financeiros globais. Nossa visão é de que, neste estágio, esses acontecimentos não representam risco substancial à perspectiva econômica dos EUA", afirmou.
O relatório semestral do Fed sobre política monetária, divulgado juntamente com o depoimento de Yellen, contém uma avaliação da recente turbulência nos emergentes.