Novos rumos

Fintechs ameaçam hegemonia de bancos físicos tradicionais

Facilidade de operar pelo smartphone e custos mais baixos atraem cada vez mais clientes

Por Juliana Gontijo
Publicado em 30 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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P mercado brasileiro tem hoje cerca de 690 fintechs – empresas que combinam tecnologia e serviços financeiros, com negócios inovadores –, que prestam vários serviços bancários, conforme a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). E esse número cresce de forma acelerada, já que a expectativa é de um salto de 40% nos investimentos do setor neste ano. 

Essa expansão já incomoda as instituições financeiras tradicionais. Em 2016, a consultoria PwC fez uma pesquisa mundial, que mostrou que três entre quatro bancos do planeta se sentem ameaçados pelo avanço dessa modalidade de empresas no mundo.

“Acredito que, se a pesquisa fosse feita hoje, o percentual poderia ser ainda maior”, observa o sócio da consultoria no Brasil, Luís Ruivo. 

No mercado brasileiro, os cinco maiores bancos – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander – responderam por 81,2% dos ativos totais do segmento bancário comercial em 2018.

Esse percentual tinha sido maior em 2017: 82,6%, o que comprova o avanço das instituições online. Ruivo acrescenta que um mercado complexo como o financeiro não muda do dia para a noite.

“O que dá para constatar é que as fintechs estão ganhando participação no mercado, estão incomodando as empresas tradicionais do setor. Elas ajudaram a aumentar a concorrência, permitiram o acesso e reduziram os custos para o consumidor final”, diz.

Segundo a ABFintechs, a associação abriu diálogo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para uma tentativa de integração entre grandes instituições e as fintechs.

Hoje, fintechs como Nubank, Neon e Inter já possuem milhões de clientes. Só o Banco Inter tem 2,5 milhões de contas digitais.

Essas empresas crescem a cada dia por oferecer os mesmos serviços que as instituições financeiras tradicionais, sem necessidade de comparecimento a espaços físicos e, muitas vezes, sem tarifas e com taxas mais claras e baratas.

E o consumidor dos serviços bancários quer facilidade. É o que comprova a recente pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban): seis em cada dez transações bancárias já são realizadas pelo celular ou pelo computador no país, dado o volume de serviços disponíveis pelas plataformas móveis.

O número de contas que usam mobile banking no Brasil saltou de 57 milhões em 2017 para 70 milhões no ano passado. E os usuários que realizam pelo menos 80% das transações por esse canal, chamados “heavy users”, passaram de 16,3 milhões para 26,8 milhões nesse período.

O designer gráfico Bruno Oliveira não é mais cliente de banco tradicional. “Eu uso o aplicativo para fazer pagamentos, transferências e investir. Para retirar dinheiro, tem o caixa 24 horas. Pra mim, é o suficiente, ter uma agência física é indiferente, pois não vou lá. Hoje, eu não tenho mais relação com banco, pois minha conta é digital”, diz.

Para Oliveira, há vários pontos positivos de uma conta digital, entre eles agilidade. “Não gasto o meu tempo para ir a uma agência e não pago tarifa”, ressalta.

E é esse tipo de perfil de cliente que abre o mercado para as fintechs. De acordo com a ABFintechs, 25% das fintechs brasileiras atuam com meios de pagamento.

Empresas do varejo também apostam em filão

De olho em um público que não tem acesso aos bancos tradicionais ou está insatisfeito com os serviços oferecidos, as empresas do varejo estão apostando no mercado de contas digitais, como a Via Varejo, que administra a Casas Bahia, além da Pernambucanas.

No caso da Via Varejo, o anúncio do banQi foi feito neste mês. A conta digital é uma parceria com a startup norte-americana Airfox, de pagamentos móveis.

A diretora responsável pelo banQi na Via Varejo, Heloisa Ifanger, conta que o grupo começou a estudar as oportunidades existentes em serviços financeiros, com foco no público de baixa renda, em 2017.

Para Heloisa, a popularização dos smartphones nos últimos anos abriu possibilidades para empresas como a Via Varejo de expandir seu leque de serviços e entrar em um mercado novo. “Só não tem conta em banco quem não quer ou quem não tem um smartphone”, diz.

No dia 30 de abril, a Pernambucanas, marca varejista nacional e pioneira em inovações, lançou a Conta Digital Pernambucanas, chancelada pela Pefisa – fintech e braço financeiro do grupo.

“Unimos a confiança e a segurança de uma marca centenária com a capilaridade de uma rede com mais de 350 lojas no país”, diz o CEO da Pernambucanas, Sérgio Borriello.

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