Incentivo

Fundo de R$ 30 mi para o setor

BNDES, Caixa e BB vão lançar linha de crédito para o crescimento da economia de impacto

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 22 de dezembro de 2019 | 08:48
 
 
 
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Apesar da expansão no número de negócios de impacto no Brasil, ainda são grandes os desafios para crescimento do setor. As dificuldades para se conseguirem recursos tiram o sono dos empreendedores. Mas, para o ano que vem, a expectativa do setor é o lançamento de um crédito, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Caixa Econômica Federal e da Fundação Banco do Brasil, para financiar negócios já existentes.

A proposta, que está em análise pelas entidades, está oficializada em um relatório de atividades do Comitê de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), formado por entidades governamentais da sociedade civil. Segundo o documento, o recurso, não-reembolsável, será aplicado em empresas que tentam ganhar escala. A ideia é gerar um fundo de aproximadamente R$ 30 milhões. 

Segundo a Fundação Banco do Brasil, uma das responsáveis pelo chamado Fundo de Impacto, o projeto está sendo reformulado, e os detalhes ainda são confidenciais. A expectativa é que o projeto esteja pronto até o final de 2020. 

Coordenador da Aliança pelos Investimentos, instituição com assento no comitê encabeçado pelo governo federal, Diogo Quitério diz que a proposta foi desenvolvida após a criação da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto, que busca medidas para desenvolvimento do setor. “Essa articulação é importante porque a política pública tem o papel de agilizar o ecossistema”, explica.

Outras iniciativas estão em curso, como a busca pela atração de recursos financeiros internacionais e a promoção de ações de fortalecimento das redes de investidores- anjo no Brasil. Mas, enquanto existe essa articulação, instituições de apoio aos negócios de impacto tentam tornar o tema mais próximo e conhecido pelos brasileiros. É que uma parcela dos empresários nem sequer sabe que tem um negócio de impacto por total desconhecimento do tema. 

Por isso, a Aliança pelos Investidores e Negócios de Impacto lançou, no mês passado, um estudo, com base em entrevistas com agentes do mercado, delimitando o tema. A partir de então, espera-se que fique convencionado no país que negócios de impacto são os que têm clara intenção de resolver um problema socioambiental por meio da atividade principal. Para 92% dos entrevistados na pesquisa, essa definição será importante para maior engajamento nesse mercado.

Saiba mais

ONU. Algumas entidades, como o Sebrae-MG, entendem que os negócios de impacto precisam estar em linha com os 17 objetivos de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, como: fim da pobreza e da fome, educação inclusiva e proteção de ecossistemas terrestres, entre outros.

Respostas. O BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Economia foram procurados, mas não haviam se pronunciado até o fechamento desta edição. 

Projeto ajuda no sustento de 30 famílias no morro

Aos 16 anos, a belo-horizontina Camila Reis Santos tem responsabilidade de adulto: ela trabalha na gestão financeira da grife Remexe Favelinha e ajuda no sustento de casa. A família dela é uma das 30 beneficiadas financeiramente pelo projeto Lá da Favelinha, que, além da marca de roupa que transforma peças usadas em itens fashion, tem mais de 16 oficinas no aglomerado da Serra, na capital.

A jovem é grata pela oportunidade: “Me sinto lisonjeada de fazer parte do projeto e ter todo esse conhecimento na idade que eu tenho. Isso mudou completamente minha vida. Não só dentro do trabalho, onde eu tenho a possibilidade de praticar o conhecimento, mas em qualquer coisa que eu for trabalhar, porque vou saber precificar o meu serviço, o meu produto, e isso faz toda a diferença no final das contas”, afirma. 

Criado neste ano, o ateliê repagina roupas usadas. Uma calça, por exemplo, pode ser transformada em blusa. Os produtos são vendidos por toda a cidade e garantem renda para um projeto que tem muitos outros braços. Moradores da comunidade recebem aulas de dança, teatro, judô, pilates, violão, inglês, espanhol, bordado e poesia, dentre outras. O negócio de impacto fez tanto sucesso que os participantes do projeto fazem apresentações por vários lugares, incluindo outros países. Neste mês, por exemplo, parte deles esteve em Londres, na Inglaterra, por intermédio do projeto. 

“Por sermos da comunidade, tínhamos dificuldade de ter acesso ao asfalto (bairros fora da favela). Agora, quando as pessoas do asfalto param para nos ouvir, abrimos portas em locais onde não éramos bem-vindos”, afirma a produtora executiva do Lá da Favelinha, Alcione Cristina dos Anjos.

Ainda segundo ela, o projeto colabora para a qualificação de jovens e impede que muitos deles caiam na criminalidade, já que ficam ocupados com as opções de lazer. (TL)

Obras. A casa onde ocorrem as atividades do projeto está passando por ampliação. O local ganhou mais um andar e passou a ter três pisos. As obras serão finalizadas neste mês.

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