Empréstimos

Governo cria programa de garantias para destravar linhas de crédito

Objetivo é estimular bancos a emprestarem para pequenas e médias empresas, mas, para economistas, é preciso simplificar o acesso e ampliar carência para pagamento

Por Queila Ariadne
Publicado em 02 de junho de 2020 | 21:13
 
 
 
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Dos R$ 40 bilhões de crédito que o governo federal disponibilizou para as empresas pagarem os salários dos funcionários, pouco mais de R$ 2 bilhões foram contratados. Para destravar essa e outras linhas, emperradas por rigorosas exigências dos bancos, o Ministério da Economia criou o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito, que prevê que o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), operado pelo BNDES, seja usado para cobrir 80% da inadimplência de cada operação, estimulando os bancos participantes a conceder crédito.
A ideia é diminuir o risco de calote e convencer os bancos a emprestar. No entanto, economistas e empresários afirmam que o plano ajuda, mas não é suficiente. Lançado ontem, via Medida Provisória (MP 975), o programa é voltado para pequenas e médias empresas, mas ainda precisa ser regulamentado. A expectativa do Ministério da Economia é que, para cada R$ 1 de garantia, outros R$ 5 sejam emprestados. Ou seja, o potencial de crédito chega a R$ 100 bilhões.
“O governo está autorizado a aumentar em até R$ 20 bilhões (via Tesouro Nacional) a sua participação no Fundo Garantidor para Investimento, para cobrir operações desse programa. O que isso significa? Que, se uma linha tem garantias, os juros são mais baixos. E o governo vai dar essa condição para que empresas com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 300 milhões possam tomar empréstimos mais baratos”, explica o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Na avaliação do gerente do Sebrae-MG Alessandro Chaves, a medida é positiva, mas, antes dela, vários outros problemas que precisam ser resolvidos. “A garantia é importante para aquelas empresas que conseguem ter limite de crédito aprovado. Mas, para as outras, que não conseguem estabelecer esse limite, seja por problemas no cadastro, na demonstração da capacidade de pagamento ou por já estarem com um nível alto de endividamento, o fundo garantidor não vai ajudar, pois, para chegar até ele, tem que vencer todas essas outras etapas antes”, destaca.
Na avaliação do gerente do Sebrae, as empresas que estão com dificuldade de caixa devem, antes de procurar um novo empréstimo, tentar renegociar um antigo. “Essa pode ser uma boa alternativa para conseguir liberar dinheiro e usar como capital de giro”, explica. O professor de economia Felipe Leroy, do Ibmec, afirma que, em um momento em que os empresários não sabem quando vão voltar a faturar, mais importante do que dar garantias é aumentar o prazo para pagamento. “O governo deveria repensar a carência e dar um ano para que esses empresários comecem a pagar por esses empréstimos”, destaca.

 

De cada cem micro e pequenas empresas que buscaram crédito no Brasil desde o começo da pandemia, 86 não conseguiram ou ainda aguardam resposta. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Sebrae. “Essa MP que cria o programa emergencial vem atingir principalmente as médias empresas e é muito importante. Mas precisamos mesmo é de efetividade, porque as empresas não estão conseguindo acesso a esses empréstimos”, afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva.
Segundo ele, seria mais eficiente se o governo criasse linhas diretas, que não dependessem dos bancos. “Mesmo com as garantias de cobrir até 80%, os bancos não querem correr nem o risco dos 20%. As exigências são rigorosas, e os empresários não estão conseguindo acessar as linhas de crédito”, ressalta Silva.
Para o presidente da CDL, falta mais articulação do poder público. “Os governos federal, estadual e municipal tinham que ter conversas mais firmes, exigindo que o sistema financeiro apoiasse mais as empresas, que é onde está a sustentabilidade do nosso país”, destaca Silva.
 

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