Estradas

Metade dos caminhoneiros já recusou trabalho por medo de assaltos

Pesquisa feita pela CNT ouviu mais de mil profissionais em todas as regiões; 64,6% afirmam que crimes são maior problema

Por Lucas Ragazzi
Publicado em 17 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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BRASÍLIA. Cada vez mais organizados e conectados, a maioria dos caminhoneiros brasileiros aponta o medo de roubos e assaltos nas estradas como o principal entrave enfrentado na profissão. É o que mostra a pesquisa Perfil dos Caminhoneiros 2019, feita e divulgada nessa quarta-feira (16) pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Para 64,6% dos motoristas ouvidos pela entidade, os crimes que ocorrem nas estradas do país são o principal problema no exercício da atividade, seguido pelo custo do combustível, citado por 35,9%, e o valor do frete, apontado por 27,4% dos entrevistados.

Realizada entre os dias 28 de agosto e 21 de setembro do ano passado, a CNT entrevistou mais de mil profissionais em todo o país, sendo 714 autônomos e 352 empregados de frota. Destes, 49,5% afirmaram já terem recusado serviços e viagens por conta do risco de roubos e assaltos durante o trajeto. Segundo o diretor executivo da entidade, Bruno Batista, a insegurança é uma questão que envolve todo o país, mas intensificada no dia a dia dos caminhoneiros por conta de uma série de fatores.

“O caminhoneiro vive uma situação peculiar, ele fica longe dos centros urbanos, longe da família, então ficam expostos. Temos vários Estados em que esse índice de assaltos de caminhões explodiu, mostra que a profissão opera em um ambiente inseguro”, apontou Batista.

Perspectiva. Com uma média de idade de 44,8 anos, e com média de quase 19 anos na profissão, os caminhoneiros brasileiros também mostram preocupação com o futuro do ofício. Para 43%, a função será pior daqui a dez anos por conta, principalmente, da baixa expectativa de ganho salarial e pela falta de confiança em melhorias na infraestrutura, como nas rodovias e acesso às cidades. Segundo a pesquisa, os motoristas atuam em uma média de 11,5 horas por dia e rodam 9.561,3 quilômetros por mês.

A maioria dos caminhoneiros ouvidos, 65,3%, afirmou ter participado da paralisação de maio de 2018. 64,4% deles foram informados sobre a greve via WhatsApp. Dos entrevistados, 56% não ficaram satisfeitos com as conquistas da paralisação.

Outro fator que chamou a atenção na pesquisa foi o dado de que 98% dos motoristas afirmaram ter acesso a smartphones. “Foi uma mudança significativa que aconteceu desde 2016, quando naquele ano só 66% usavam smartphones. Três anos depois, 98% dizem fazer uso. É um período curto com crescimento de mais de 30 pontos percentuais”, afirma o diretor executivo da CNT.

Entidade quer renovar categoria

Por causa da média de idade alta e do pessimismo no futuro, uma das preocupações da CNT é de que, em longo prazo, a renovação de profissionais para esse transporte não ocorra. Segundo Bruno Batista, a entidade pode ajudar oferecendo programas para facilitar na entrada de jovens caminhoneiros no mercado.

“Sem caminhoneiros, a sociedade para, como vimos ano passado. É preciso estimular que novas pessoas adentrem essa profissão. O Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte tem um programa em curso que é de financiamento da carteira de habilitação profissional para que esses jovens fiquem mais estimulados”.

Frete mínimo. A Justiça do DF concedeu nessa quarta-feira (16) liminar que isenta cerca de 150 mil empresas associadas à Fiesp da aplicação de multa em caso de descumprimento da tabela de frete mínimo.

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