O rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, com a consequente redução da atividade minerária, e a queda de 23% na produção de café foram os principais fatores que jogaram para baixo o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais.
Enquanto a economia brasileira cresceu 1,2% no terceiro trimestre deste ano frente ao mesmo período de 2018, a mineira retraiu 1,5%. Nessa base de comparação, é a maior queda do indicador no Estado desde 2016.
Segundo pesquisa divulgada ontem pela Fundação João Pinheiro (FJP), de janeiro a setembro, a queda do PIB em Minas Gerais foi de 0,4%. No Brasil, o resultado nos mesmos nove meses foi positivo em 1%. Para Raimundo de Sousa, economista da fundação e coordenador do Núcleo de Contas Regionais, responsável pela pesquisa, a tendência é que o resultado negativo se estenda ao fechamento do ano.
A agropecuária foi o setor que apresentou o pior desempenho no terceiro trimestre frente ao mesmo período de 2018 em Minas Gerais, com queda de 17,1% no período. No Estado que produz 50% do café do país, o mau resultado da cultura é o que justifica o tombo.
“O café é importante para a nossa produção agropecuária, e neste ano, especificamente, tivemos uma safra menor. Já era esperada uma queda por estarmos no ano de bienalidade negativa (característica da produção cafeeira que garante safra maior em anos pares). Para agravar, como a colheita de café começa em abril, em setembro o processo já estava finalizando. Ou seja, o maior volume foi colhido no trimestre anterior”, explica a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso.
A indústria apresentou uma retração de 2,1% no trimestre comparado com a mesma época de 2018. O cenário, explica o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Eudésio Eduim da Silva, reflete o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em janeiro deste ano.
“Embora a construção civil tenha apresentado uma alta significativa e a distribuição de energia também tenha aumentado, elas não foram suficientes para anular a queda de 24,4% da indústria extrativa no terceiro trimestre frente ao mesmo período de 2018”, afirma Silva.
Além dos dois setores, pesou também para o resultado ruim do PIB no Estado uma queda na manufatura, com reduções mais expressivas em áreas como metalurgia, fabricação de produtos de metal e de veículos automotores. A explicação é a redução de demanda interna e externa por esses produtos, segundo o pesquisador da FJP Raimundo de Sousa.
Dos dez municípios mais ricos, cinco são minerários
Cinco dos dez municípios mineiros com maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) per capita têm como principal atividade a mineração. O dado, divulgado ontem pela Fundação João Pinheiro (FJP) com dados de 2017, mostra a dependência da indústria extrativa no Estado.
A cidade com o maior PIB per capita é São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central, que abriga a mina de Brucutu, uma das maiores da Vale. O segundo melhor resultado é o de Extrema, no Sul de Minas, com foco em comércio. Em terceiro ficou Araporã, no Triângulo, onde há uma hidrelétrica. Em seguida vem Confins, na região metropolitana, que se beneficia do desempenho do aeroporto internacional.
Na quinta posição fica Jeceaba, na região Central, pela economia pautada em indústria de transformação. Nas posições seguintes estão três cidades com foco na indústria extrativa: Tapira, no Alto Paranaíba, Catas Altas, na região Central, e Nova Lima, na região metropolitana. Na nona posição está São José da Barra, no Sul, com a economia estimulada por uma hidrelétrica. Na décima, Itatiaiuçu, na região Central, também com foco em mineração.
Para o pesquisador da FJP Reinaldo Carvalho de Morais, a situação desses municípios deve ficar menos favorável agora, em função do mau momento da mineração no Estado.
“Antes do rompimento da barragem da Vale, a extração mineral representava 4% da economia mineira. Com uma menor representatividade do setor, é natural que as cidades dependentes dele sejam impactadas”, explica Morais.