ECONOMIA

Para o mundo, Brasil é "submergente"

País corre risco de andar para trás, diz reportagem do jornal britânico Financial Times ao criticar política econômica.

Por DA REDAÇÃO
Publicado em 23 de fevereiro de 2007 | 00:01
 
 
 
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O jornal britânico "Financial Times", um dos diários financeiros mais conceituados do mundo, publicou na edição de ontem uma extensa reportagem sobre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e os rumos da economia do país.

Um dos entrevistados, o chefe de pesquisa do banco WestLB em Nova York, Ricardo Amorim, disse, na reportagem, que o Brasil está parecendo mais uma "economia submergente" do que um emergente.

O diário financeiro questiona se o presidente irá pender mais para a esquerda e afirma que falhas no plano econômico para seu segundo mandato "poderão condenar o Brasil a ficar atrás" de outros grandes países emergentes que compõem o grupo Bric: Brasil, Rússia, Índia e China.

Entre o entrevistados da matéria estavam o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamada pelo jornal de "primeiraministra."

O "FT" observa que, na avaliação dos principais ministros do governo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), alicerçado no aumento dos gastos públicos em infra-estrutura, obterá seu objetivo sem prejudicar a estabilidade financeira e econômica.

"Nós no governo Lula acreditamos que o trabalho intenso feito ao longo dos últimos quatro anos para criar um ambiente macroeconômico estável nos permite agora buscar um crescimento econômico mais rápido", disse Rousseff, que segundo o "FT" é "de fato a primeiraministra" do governo.

Superávit primário
Na matéria, o governo garante que mesmo com uma redução do superávit primário com o objetivo de aumentar os investimentos em infraestrutura, a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), atualmente em cerca de 50%, continuará sendo reduzida.

"Entretanto, muitos economistas consideram isso uma diluição da determinação fiscal do governo, o que torna menos provável uma vigorosa reforma de mercado", disse o "Financial Times".

Em entrevista ao diário, Mantega disse que o governo está consciente da necessidade de remover as barreiras burocráticas ao crescimento e demonstrou otimismo com o impacto da planejada reforma tributária.

"Vamos juntar todos nossos impostos indiretos num único imposto de valor agregado nacional", disse o ministro. "Temos um cronograma de trabalho no qual todas essas coisas vão acontecer e no dia 6 de março teremos nosso primeiro encontro com os governadores dos estados."

Mas o "FT" observa que, segundo os críticos do governo, esses esforços não são suficientes.

"Muitos concluíram que o governo está se tornando menos convencido de que a ortodoxia é o caminho a ser seguido", disse. "Na verdade", acrescenta o jornal britânico, "o governo parece estar perdendo a disciplina fiscal que manteve durante o primeiro mandato de Lula", conclui. (Com Agência Estado)

Foco no assistencialismo é apontado como risco
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A reportagem do "Financial Times" aponta que em vez de cortar gastos ou implementar outras reformas, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deixa claro que o governo colocou toda sua fé no poder do investimento para estimular a atividade econômica.

A ministra Dilma Rousseff disse que o plano pega "a variável do investimento como a variável determinante para aumentar a taxa de crescimento econômico". A ministra foi taxativa ao descartar uma reforma trabalhista. "Isso não está na agenda do governo. Acreditamos que existem outras prioridades maiores", disse Rousseff.

No entanto, segundo o "FT", talvez as maiores dúvidas sobre o segundo mandato de Lula estejam relacionadas a suas prioridades: crescimento econômico ou melhora na distribuição de renda"

"Na verdade, se o crescimento lento foi o fracasso do primeiro mandato de Lula, seu notável sucesso ocorreu na distribuição de renda", disse o jornal.

"Programas de bem-estar social baratos e muitos direcionados, e, acima de tudo, inflação baixa e preços altos na exportação de commodities ajudaram a produzir melhoras nas condições de vida dos pobres que tornaram Lula o presidente mais popular da história do Brasil e foram fundamentais na reeleição", aponta a reportagem.

Segundo o "FT", o temor manifestado por alguns analistas não é que o segundo mandato de Lula tome a rota do populismo.

"O temor é que ao fracassar em aproveitar a oportunidade oferecida pelas condições benignas globais para reformular o Estado, ele condene o país a muitos mais anos de mediocridade", disse o jornal que também criticou a política externa do governo e a perda de terreno para outros governantes, com o venezuelano Hugo Chávez.

Críticas sobre condução da crise com Bolívia
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O jornal "Financial Times" afirma ainda que o Brasil "poderá pagar um preço alto pelo generoso acordo do gás" firmado na semana passada com o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Segundo o jornal econômico britânico, a maneira como o acordo foi estruturado parece ter o objetivo de "permitir que uma coisa seja dita e outra aconteça". O preço que a Petrobras paga pelo gás natural permanecerá inalterado. "Mas a Petrobras vai pagar mais", disse o jornal.

Segundo o "FT", o acordo também envia "um sinal negativo para os investidores preocupados com a incerteza regulatória".

O FT observou que a ministra Dilma Rousseff, numa entrevista recente, disse que o governo está disposto a criar regras claras para os investimentos de longo prazo. "O acordo da semana passada parece um passo na outra direção", disse o jornal.

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