Negros são 56% do total da população brasileira. Mas sua representatividade em um setor que movimentou R$ 277,4 bilhões só no último ano é muito menor: sete em cada dez cervejarias não têm lideranças negras, ainda que quase 70% das empresas tenham funcionários negros.
Estas são algumas das conclusões de um estudo inédito divulgado nesta segunda-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, pelo site especializado Guia da Cerveja. O levantamento obteve resposta de 129 donos ou administradores de cervejarias. A maior parte deles reconhece a necessidade de ampliar a diversidade: 61% ponderam que é necessário promover a inclusão em suas empresas. Por outro lado, um quarto diz acreditar que isso não é relevante para o setor.
“Esse dado revela a dificuldade de se deslocar o poder. Quando percebemos que os cargos de liderança são quase exclusivamente ocupados por pessoas brancas, isso indica como se dá a distribuição material do capital no Brasil, que não chega nas mãos de pessoas negras”, analisa a sommelière de cervejas Sara Araujo.
Para 39% dos entrevistados, barreiras socioeconômicas no acesso à educação e treinamento são o maior desafio para a ascensão de pessoas negras a cargos de liderança. Eles são seguidos por 20% que afirmam que é a falta de oportunidades de desenvolvimento profissional o maior problema.
A maior parte dos entrevistados não percebe a importância das pautas de diversidade nas empresas: 40% deles dizem acreditar que pode haver alguns benefícios, porém declaram não ter certeza sobre o impacto financeiro efetivo disso. O sócio-fundador da Cervejaria Implicantes, em Porto Alegre, Diego Dias, avalia que falta ação nas empresas:
“o que observo é uma tentativa das empresas de reconhecerem a inclusão, notando a necessidade, mas fazendo muito pouco efetivamente para mudar a realidade”, conclui.