Ele se define como um apaixonado por Belo Horizonte. E isso está no teto, na parede e em todos os cantos de sua casa. São quadros, pinturas, fotografias e esculturas com história e artistas da cidade, que imprimem ao imóvel de 300 m², no centro de BH, o sentimento e a personalidade de Gabriel Azevedo (MDB). O presidente da Câmara Municipal e candidato a chefe do Executivo recebeu a reportagem de O TEMPO em seu apartamento. No 12º andar, ele respira a cidade, até quando abre a janela da sala. De frente, tem-se vista para a igreja São José, o Pirulito da praça Sete e o edifício Acaiaca.

“Sempre vivi nesse mesmo quarteirão. Esse prédio foi construído na década de 1950. A principal obra que tem neste apartamento é a janela. Quando se abre, revela a cidade”, diz Gabriel. No terceiro andar do edifício, a família tem mais dois apartamentos, onde moram mãe, tia e irmã. O pai faleceu em 2020, vítima de câncer de pulmão. “Sinto muita saudade desse cara. O último lugar que ele esteve foi aqui, no quarto de visita, onde faleceu, segurando minha mão e dizendo que me amava”, recorda, apontando para um porta-retrato com a foto do pai, entre decorativos da mesa de centro, na sala de visitas. 

Gabriel tem 38 anos, é solteiro e, além de parlamentar e professor universitário, é dono de um bar no Automóvel Clube. As várias ocupações refletem a intensidade e o gosto pelos estudos. Gabriel é formado em jornalismo, em publicidade e propaganda e em direito. Todas as graduações em instituições particulares: PUC Minas e Milton Campos. O ensino fundamental e o médio foram em escolas públicas. “Estudei no Instituto de Educação até a quarta série e estudei no Colégio Militar. Em 1998, começou a minha trajetória lá. Isso tem muito a ver com a minha vida. Gabriel político surge ali”.

Na longa conversa, ele não fugiu das perguntas, mesmo daquelas que podem ser consideradas polêmicas. “Sou bissexual. É um desafio distinto, porque eu tive namoradas e gosto de mulheres. Não escondo”, diz o parlamentar, que, entre as recordações, nos revelou ter namorado cinco mulheres e um homem. “Minha sexualidade é mais uma das muitas características que me fazem humano. Defendo a diversidade, o direito de cada um ser exatamente o que é”, afirma Gabriel, destacando que o tema não é uma bandeira política para ele. 

Se, por um lado, a questão sempre foi bem resolvida para o vereador, na família não foi tão simples. “Quando trouxe isso para o meu pai, ele ficou um tempo sem falar comigo”, conta. A reconciliação veio quando a avó sofreu um AVC. “Liguei para ele e falei: ‘Não queria que isso acontecesse com você e a gente não tivesse resolvido’. Fomos jantar, choramos muito juntos. Foi no final de 2019. Ele falou que me amava e que era difícil pra ele porque achava que as pessoas não iriam me aceitar e eu poderia sofrer”, recorda. O pai faleceu menos de um ano depois.

Ainda sobre a vida familiar, Gabriel disse que, ao contrário do que muitas pessoas podem achar, ele não vem de uma família rica. Na infância e adolescência, vivia com a renda da mãe, professora, e do pai, policial. “O cara que está brigando por ônibus hoje é um cara que sabe como é chato escolher o lugar da calçada que a porta vai abrir para não ir em pé. Não tenho carro, nunca tive”, conta.

Na sala, as duas bicicletas com que o vereador ia trabalhar na Câmara são parte da decoração. “Parei de ir pedalando quando comecei a sofrer ameaça”, explica. A carreira na política começou antes de se candidatar. “Em 2006, 2008 e 2010, fiz campanha como publicitário. Em 2011, depois da campanha que elegeu o professor Antonio Júnior Anastasia, ele me convidou para ser subsecretário de Estado. Exerci meu primeiro cargo público, no segundo escalão do governo, com 23 anos”, recorda. Em 2016, candidatou-se para vereador e venceu, com 10.185 votos. “Um primeiro mandato repleto de inovações, metendo o dedo na cara de uns caras que estavam ali na Câmara há tempo incomodando”, conta.

Em 2020, foi reeleito. Dois anos depois, assumiu a presidência da Câmara. De lá para cá, sofreu dois processos de cassação e saiu vitorioso. O último foi arquivado em 5 de março deste ano. Na ocasião, Gabriel, que é católico, cumpriu uma promessa e colocou uma imagem de Nossa Senhora de Fátima no saguão do prédio onde mora. “Saí mais maduro. Minha maior vitória foi sobre mim. Isso não aconteceu só porque os outros são maldosos, aconteceu pelas minhas falhas, pelos meus rompantes, por não controlar a língua, não controlar as emoções. Comecei a fazer análise (terapia), há um ano”, revela. Sobre a fama no meio político de gravar conversas sem autorização, ele garante que não o incomoda. “Adoro essa fama. Sabe por quê? Quem é que senta numa mesa comigo para propor alguma coisa errada? Ninguém. Para mim, não é problema, é antídoto”, comenta.

Bate-pronto

Em qual candidato (a) foi seu primeiro voto? A primeira vez que votei foi em 2004. Votei no prefeito que estava disputando a reeleição e anulei para vereador.

O que faz nos momentos de lazer? Eu me cerco de gente querida para celebrar a vida.

Qual último livro que leu? Leio alguns livros, mas vou citar o “Civilização e Liberdade”, organizado pelo Flávio Carsalade e vários outros autores, mostrando as influências da cultura francesa na construção de Minas Gerais e, sobretudo, da cidade de Belo Horizonte.

Qual é seu estilo musical preferido? Da música brasileira, são três que eu amo: bossa nova, Clube da Esquina e Tropicália.

Qual é seu prato predileto? Feijoada, de preferência acompanhada de uma “branquinha”. 

Cheiro de infância? Arroz, feijão, lombo e farofa da dona Júlia, minha avó.

Defina política em uma frase. A palavra mais próxima de “mágico”, que permite a pessoas comuns fazer coisas extraordinárias.

Por que quer ser prefeito de BH? Eu amo Belo Horizonte, conheço a história dessa cidade, entendo o que está acontecendo no planeta e quero ver a capital mineira indo na direção de um futuro sem deixar as pessoas para trás.

Disputa pela PBH

Vereador desde 2017, Gabriel Azevedo expôs nos últimos anos o sonho de ser prefeito de BH, sempre ressaltando sua paixão pela cidade. Foi eleito presidente da Câmara no final de 2022, para começar o mandato em 2023. Neste ano, enfrentou dois processos de cassação e correu o risco de perder o mandato. Livre das duas cassações, já em 2024 se filiou ao MDB, depois de mais de dois anos sem partido. Tem como bandeira a qualidade do transporte coletivo.