Em uma eleição que mobiliza a extrema-direita no Brasil, candidatos que se identificam com o integralismo, movimento político conservador fundado nos anos 30 sob inspiração do fascismo italiano, concorrem a cargos no Legislativo pelo Distrito Federal. Entre eles, a candidata ao Senado e ex-ministra da Mulher e dos Direitos Humanos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a pastora Damares Alves (Republicanos).

A conexão de Damares com o integralismo é de longa data e aparece em sua campanha eleitoral. O jingle oficial da candidata repete duas vezes a frase: “Deus, Pátria, Família e Liberdade”. Essa expressão faz referência a uma versão estendida do lema “Deus, Pátria e Família”, que tem origem no movimento integralista ou AIB (Ação Integralista Brasileira), criado pelo escritor Plínio Salgado em 1932. A expressão também marca o slogan utilizado por Bolsonaro desde a campanha de 2018.

No dia 22 de setembro de 2022, a 10 dias das eleições gerais, a ex-ministra foi entrevistada pela reportagem de O TEMPO. Em áudio, ela mencionou que se “identifica” com o movimento por englobar “pautas muito parecidas” com as que ela defende.

“O movimento integralista, pelo que conheço, defende Deus, pátria, família e essa é a minha bandeira. Eu sou religiosa, sou cristã, sirvo a um Deus vivo e poderoso. Pátria, eu amo esta nação. Você sabe disso, o que eu faço pelo meu país? Eu oro pela minha nação desde os seis anos de idade”, disse. 

Criada em 2005, a Frente Integralista Brasileira, que é um dos grupos mais ativos e organizados do movimento no Brasil, chancela apoio a candidatura de Damares por demonstrar “compromisso de lutar por Deus, pela Pátria, pela Família, pela ordem, trabalho e justiça social”.

Sobre o apoio da Frente a sua candidatura ao Senado, Damares diz: “Esse movimento se identifica comigo porque as minhas pautas são muito parecidas com as deles. Se eu dizer pra tu tem até esquerda recomendando voto em mim porque eu defendo crianças (...) as minhas pautas são muito claras e os diversos movimentos têm manifestado apoio a minha candidatura”..

Outro nome que defende o integralismo brasileiro concorre nas eleições deste ano pelo DF. O advogado Paulo Fernando Melo da Costa, que disputa uma vaga à Câmara dos Deputados pelo Republicanos, é uma das lideranças nacionais da Frente Integralista Brasileira. Ele, inclusive, chegou a ocupar o cargo de assessor especial da ex-ministra Damares, de fevereiro de 2019 a maio de 2021.

Em entrevista ao portal O TEMPO, Melo afirma que “não há nenhuma objeção" em ter seu nome associado ao movimento. Atualmente, o candidato ocupa uma cadeira no Instituto Histórico Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF), que tem como patrono Plínio Salgado.

Mesmo depois da saída do posto no Executivo, Melo permaneceu próximo da gestão Bolsonaro. Em 6 de setembro deste ano, em missa realizada na paróquia militar São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, o advogado entregou um exemplar da biografia de Enéas Carneiro, fundador do extinto Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA) e ícone da extrema-direita, ao presidente da República, seu filho e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL), e ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista sobre a extrema-direita no Brasil, Odilon Caldeira Neto analisa que, atualmente, o movimento integralista tenta se adequar a pautas associadas ao bolsonarismo.

“O sentimento patriótico, o ideal de família heteronormalizada, patriarcal, o discurso anticomunista e contrário à esquerda, de maneira mais geral, precisam coexistir a um fenômeno mais amplo como o bolsonarismo, além de aproximação com outros grupos, como o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) e do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)”. Na disputa pelo Palácio do Planalto, a Frente orienta o voto ao Padre Kelmon Luis, que substituiu o ex-deputado Roberto Jefferson no pleito. 

Apesar das similaridades, o bolsonarismo também tem diferenças substanciais com o integralismo, que é contra o capitalismo e o liberalismo econômico e político. Além disso, segundo o especialista, os grupos integralistas "são diversificados e tentam em certa medida trazer um processo de comemoração do movimento integralista, mas muitas vezes divergem de entendimento do que deve ser o integralismo. Alguns têm uma leitura mais voltada para partidos políticos, outros de uma dimensão mais religiosa...”, salientou. 

Além de Damares, Melo e Kelmon, a Frente Integralista Brasileira endossa outros 5 candidatos nas eleições. A postulante ao Senado Márcia Bittar (PL-AC), os candidatos à Câmara dos Deputados João Neto do Cartório (Avante-CE), Major Tarcízio (Podemos-PE) e Dr. Elimar (Republicanos-RJ), além de Veve (PP-MG), que concorre a um posto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

O TEMPO agora está em Brasília. Acesse a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes