Quatro prefeitos de cidades de Minas Gerais anunciaram nesta sexta-feira (14) que vão se desfiliar do PSDB após lideranças do partido declararem voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais.
Oficialmente, o PSDB adotou neutralidade. Os prefeitos querem que a sigla declare apoio a Jair Bolsonaro (PL).
Os prefeitos de Governador Valadares, André Merlo, de Ouro Branco, Hélio Campos, de Itaguara, Donizete Chumbinho, e o presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e prefeito de Coronel Fabriciano, Marcos Vinicius Bizarro, gravaram um vídeo conjunto em que anunciam a decisão.
Eles apontam para a declaração de voto em Lula do vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant (PSDB), e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), como um dos motivos para a decisão.
O vídeo foi publicado nesta sexta, data em que a AMM se reúne com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Belo Horizonte para apresentar propostas das prefeituras mineiras.
A reportagem conseguiu confirmar que pelo menos três dos prefeitos estarão presentes: Merlo, Marcos Vinícius e Donizete. Nas redes sociais, eles demonstram apoio a Bolsonaro.
“Quero comunicar a todos vocês que estou me desfiliando do PSDB em repúdio às posições de políticos como o vice-governador (Paulo Brant), que está apoiando o PT. A gente não concorda com isso”, afirma André Merlo, de Governador Valadares. No município, que tem 215 mil eleitores, Bolsonaro venceu Lula no primeiro turno por 57,62% a 36,36%. “Vou ficar sem partido”, completou.
Já Marcos Vinícius Bizarro, menciona, além de Brant e Fernando Henrique, o ex-senador por São Paulo, José Aníbal (PSDB). “Pessoas que eu admirava e que ajudaram a combater essa corrupção do PT e agora se declarando como se nada tivesse acontecido", afirmou ele.
"Estou ficando sem partido até uma posição oficial do PSDB. Se realmente essa conduta que o PSDB vai ter, de apoiar o PT, eu não me identifico mais com o partido”, acrescentou o prefeito de Coronel Fabriciano. Os 81 mil eleitores da cidade também preferiram Bolsonaro, por 53,41% a 40,41%.
Hélio Campos, de Ouro Branco, pediu que o PSDB saia de cima do muro. “Estou aqui para falar o tanto que nós prefeitos sofremos com a administração do PT no nosso Estado. Foram anos de sofrimento para todos nós”, disse o prefeito.
“O PSDB está omisso no nosso Estado de Minas Gerais. Precisamos reagir, tomar partido e deixar de ser um PSDB em cima do muro”, continuou.
Na mesma linha, Donizete Chumbinho, de Itaguara, disse que o PSDB está "igual folha de bananeira" esperando para ver para qual lado o vento vai soprar.
“Estamos juntos para pode estar juntos com Bolsonaro para manter e dar continuidade ao trabalho que precisa para acertar esse país”, declarou.
Itaguara tem apenas 10 mil eleitores e se dividiu no primeiro turno: Bolsonaro teve 3.602 votos, contra 3.502 de Lula. Já em Ouro Branco, o petista saiu vencedor: 49,35% a 41,53% do atual presidente, uma diferença de quase 2 mil votos.
Após a publicação da reportagem, o presidente do PSDB em Minas Gerais, Paulo Abi-Ackel se manifestou por meio de nota enviada à imprensa.
Ele reforçou que a decisão do PSDB foi pela neutralidade e que os filiados foram liberados para apoiar quem quiserem. Ainda segundo o mandatário, o peso do partido jamais será medido pela quantidade de deputados e prefeitos, mas sim pelas contribuições, passadas e futuras, ao país.
"O que jamais faltará ao PSDB é o respeito às opiniões, por mais antagônicas que sejam, respeito às minorias e respeito ao direito de manifestação, princípios fundamentais da democracia", afirmou o dirigente partidário.
"No PSDB não há mesmo lugar para aqueles que querem ou queiram impor seus pontos de vista sem respeito aos pensamentos divergentes que porventura existam", acrescentou Abi-Ackel.
Confira a nota na íntegra
"NOTA À IMPRENSA
O PSDB por decisão de sua executiva nacional optou por liberar seus membros para tomarem, com liberdade democrática, a posição política que considerarem mais conveniente na eleição para a presidência da república, no segundo turno.
Pessoalmente, tive posição contrária à decisão do partido em não lançar candidatura própria à Presidência da República, fato do qual deriva a liberação de seus membros no pleito que se realizará no próximo dia 30/10.
O PSDB é um partido vital para a democracia brasileira, seja pela intransigente defesa do centro democrático como melhor alternativa para a estabilidade política, econômica e institucional no Brasil, seja porque se opõe à polarização radical que faz mal ao país e ao povo brasileiro.
Exatamente por isso, sua importância jamais será medida pelo número de deputados ou prefeitos que eventualmente estejam em seus quadros e será avaliada pela contribuição que já prestou ao país e que prestará em novos ciclos da vida política brasileira.
O que jamais faltará ao PSDB é o respeito às opiniões, por mais antagônicas que sejam, respeito às minorias e respeito ao direito de manifestação, princípios fundamentais da democracia.
No PSDB não há mesmo lugar para aqueles que querem ou queiram impor seus pontos de vista sem respeito aos pensamentos divergentes que porventura existam.
Atento aos ciclos naturais da política, o PSDB permanece certo de que muita contribuição ainda dará aos destinos de Minas Gerais e do Brasil.
Deputado Federal Paulo Abi-Ackel
Presidente do PSDB de Minas Gerais"