“Clara Nunes foi e continua sendo a popstar da minha vida”, afirma Ivete Sangalo, logo no início da entrevista que concedeu a O TEMPO. Essa declaração, cheia de afeto, ressalta a devoção da baiana pela artista mineira, que inspirou o projeto “Ivete Clareou”, cuja turnê chega a Belo Horizonte neste sábado (1°/11), na área externa do Mineirinho. O espetáculo presta homenagem à Clara - que morreu em 1983 e deixou um legado na música brasileira -, celebrando o samba, a ancestralidade e as raízes musicais que moldaram a trajetória de Ivete Sangalo.

“Ela foi a primeira cantora que me abriu os olhos. Eu era muito pequena, tinha três anos quando consegui cantar uma música inteira dela, mesmo trocando algumas palavras. A força dela como intérprete, uma mulher linda, de voz especial, me marcou profundamente. Ela faz parte da minha trilha sonora”, relembra Ivete, que ainda menina ganhou o apelido de “Veveta marexeira”, após cantar “Conto de Areia”, um dos clássicos de Clara Nunes.

Foi dessa lembrança que nasceu o impulso de transformar o carinho pela cantora mineira em um projeto inteiro. “O samba sempre esteve presente na minha vida e na minha carreira, mas quando eu comecei de fato a pensar nisso e relembrar essa história de infância, me veio o clique de que Clara vira um verbo. A partir desse ponto, tudo foi se construindo”, diz. ‘Ivete Clareou’ foi a forma que encontrei de criar um verbo para Clara, como um pedido de licença para entrar no universo do samba”, explica.

O projeto, que se desdobra em um álbum, também é um reencontro com a origem familiar de Ivete Sangalo. “Meu pai era boêmio e minha mãe era uma cantora de samba. Eles cantavam o dia todo em casa. Tudo me faz lembrar o quanto a música era o grande pilar da gente”, conta. Para ela, o “Clareou” é uma forma de homenagear não apenas Clara Nunes, mas também a própria história da família e a força do samba que sempre pulsou em casa. “Sem dúvida, o que mais nos uniu e nos colocou como um núcleo foi o samba”, garante.

Pluralidade

Com mais de 30 anos de carreira, Ivete Sangalo transita com muita naturalidade por ritmos, do axé ao pop, do forró ao samba. Agora, revisitando as raízes do ritmo que tanto a inspirou, no “Ivete Clareou”, ela afirma: “O samba tem uma maneira de cantar muito própria, muito brasileira e genuína. As divisões, as melodias, as letras - tudo colabora. Inclusive, a música que eu faço hoje só foi viável pelo meu contato com o samba”.

O recém-lançado audiovisual do projeto foi gravado no dia 12 de agosto, em Santa Tereza, no Rio de Janeiro. A gravação traz o registro de encontros entre diferentes gerações do samba, de Jorge Aragão a Dilsinho, passando por Maria Rita e Péricles. “Todos os convidados têm uma importância enorme na música brasileira. Cada um deles não estava ali por acaso. Escolhi cada um para as músicas porque sabia que fariam total diferença nas canções. E eu não poderia estar mais feliz”, afirma Ivete, sobre a pluralidade que o projeto propõe, e que ela promete para a turnê, que vai passar por cinco capitais.

Clássicos do samba e do pagode e convidados especiais

Belo Horizonte é a segunda cidade a receber o show “Ivete Clareou”. A estreia da turnê aconteceu em São Paulo, no último dia 25. Na ocasião, a baiana comandou uma apresentação de aproximadamente cinco horas, com repertório repleto de clássicos do samba e pagode, além de grandes sucessos da sua trajetória, que foram revisitados ao som do compasso do samba. Di Ferrero, Ferrugem, Salgadinho, Juliana Diniz, Silva e Naldo Benny foram os convidados daquele dia.

Para a capital mineira, a fórmula será a mesma. Entretanto, os nomes dos convidados especiais para a apresentação deste sábado, na área externa do Mineirinho, são mantidos em segredo. O que Ivete não esconde é a empolgação e a vontade de reencontrar o público mineiro. “Estar em Minas Gerais é sempre um presente para mim. Não é novidade e nem segredo para ninguém o carinho que eu tenho por esse estado, pelo povo mineiro, seu carisma, sua energia única. Estou ansiosíssima para ‘Clarear’ com vocês no sábado”, diz. 

O show conta com palco 360º e elementos visuais que referenciam grandes nomes do ritmo, como placas em homenagem a Clara Nunes, Demônios da Garoa e Alcione. 

“Quero viver tudo. Recebo muitos louros da apresentação, mas existe uma turma enorme trabalhando em torno do projeto, tanto na parte burocrática quanto na prática. É muita gente! Trabalhamos nisso há um ano. Estamos em um clima gostoso, familiar e mais próximo. Não é diferente do palco frontal, mas gera uma intimidade mais potente”, afirma a cantora.

Depois de BH, “Ivete Clareou” passa por Rio de Janeiro (22/11), Salvador (30/11) e Porto Alegre (13/12).

Serviço

Ivete Sangalo com o show “Ivete Clareou”
Quando. Sábado (1º/11); abertura dos portões às 14h
Onde. Área externa do Mineirinho (Av. Antônio Abrahão Caram, 1000, São Luiz).
Quanto. De R$ 160 (último lote, meia entrada, setor arena) a R$ 590 (último lote, inteira, open bar). Ingressos à venda na plataforma Ingresse.