Antes de Ivete Sangalo subir ao palco com a turnê 'Ivete Clareou', o público de Belo Horizonte foi presenteado com uma apresentação especial da cantora e compositora Júlia Rocha, que trouxe um projeto inédito: um samba formado inteiramente por mulheres. O grupo abriu a noite com o gingado e a força feminina da cena musical mineira, aquecendo o público para o show da baiana.

Em entrevista, Júlia contou que a ideia de montar uma banda 100% feminina nasceu de um desejo de experimentar novas sonoridades e fortalecer a presença das mulheres no samba, um gênero que, segundo ela, ainda é marcado por estruturas tradicionalmente masculinas.

“O samba ainda é um movimento um pouco machista. Os homens têm mais espaço, são eles que formam as bandas e acabam chamando outros homens. Então a gente se propôs a esse desafio: montar uma banda só de mulheres, trazer essa sonoridade feminina”, explicou a artista.

Júlia, que já trabalha com a uma mulher percussionista na sua banda original, Tamiris Cunha, conta que o novo projeto foi um exercício de representatividade e potência. “A cena do samba feminino em Minas Gerais está florescendo muitíssimo. Temos cantoras e instrumentistas maravilhosas. Queríamos fazer um show em que o feminino estivesse presente não só na voz, mas também no jeito de tocar”, afirma.

Júlia também falou da emoção de cantar antes de Ivete Sangalo, uma artista que marcou sua formação musical desde a infância.

“A minha relação com a Ivete é de fã absoluta, desde que me entendo por gente. Eu me lembro de trancar o quarto, colocar uma música bem alta e fingir que estava no palco. A Ivete era a rainha do meu quarto”, relembra.

Para Júlia, Ivete é inspiração não apenas no canto, mas também na postura artística e política. “Ela me inspira na forma de comandar a banda, na escolha do repertório e em como se posiciona diante do mundo. Ser artista é também se colocar, e ela faz isso com muita coragem”, completa.

Sobre o novo show da baiana, Júlia destaca a conexão natural entre o samba e o axé. “A turnê Ivete Clareou conversa muito com a história dela. O samba está na raiz dos ritmos brasileiros, e o axé é seu irmão. É fácil imaginar a Ivete cantando samba, porque o que ela faz desde o início dialoga com a cultura do samba, é arte popular, é música para multidões”, disse.

Mesmo sem ter visto o show completo de São Paulo, Júlia estava cheia de expectativa para a apresentação: “Os meus amigos que foram disseram que está lindo. E quem é fã da Ivete sabe, quando ela sobe no palco, a energia clareia mesmo”.