A um dia da 26ª Parada LGBT de Belo Horizonte, a realização completa do evento ainda é incerta. Uma decisão liminar da Justiça de Minas Gerais, tomada nesta semana, reduziu para R$ 100 mil o valor que a Prefeitura pode repassar à organização. O contrato previa um apoio de R$ 450 mil, firmado com o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual e Identidade de Gênero de Minas Gerais (Cellos-MG).
Para a deputada federal Célia Xakriabá, que participou do Festival Fuzuê neste sábado, primeiro esquenta para a Parada, no Parque Municipal e tamb’;em organizado pela Celoos MG, a decisão é mais uma tentativa de barrar a presença da diversidade nas ruas. “Quantas mães não podem mais ver seus filhos e filhas voltando pra casa porque a transfobia do lado de fora é uma das armas mais letais e perigosas. Ser diverso hoje representa uma ameaça na sociedade. Nos territórios indígenas, nós temos caciques LGBTQIA+, líderes espirituais, pessoas trans. É preciso aprender com a diversidade, porque tudo que não é do mesmo, as pessoas não respeitam”, afirmou.
A deputada também criticou os setores que, segundo ela, agem sistematicamente contra a diversidade, seja nas ruas ou na política institucional. “São os mesmos que, na Comissão da Família, tentam interromper nossa deputada Erika Hilton. São os mesmos que votam o PL da Devastação. Eles são monoculturais na economia, na política e nas representatividades. E não querem que a diversidade esteja aqui, pautando a cidade. Porque aqui atravessa todas as camadas sociais. Quando tentam impedir a realização desse evento, é sobretudo tentando reduzir a nossa presença na sociedade”, completou.
Apesar do baque, a organização reafirma que a Parada vai acontecer. “A parada é do povo, a parada é da população LGBTQIA+. A parada não é de mais ninguém senão nossa. E ela acontece com ou sem dinheiro, como aconteceu desde o princípio. Então agora é firmar o pé e dizer que vai acontecer bonita e tocante”, afirmou Maicon Chaves, presidente da Cellos-MG, durante o Fuzuê.
Para o público presente no festival, a liminar representa mais do que um corte de verba — é um ato de censura e preconceito. “Não é questão de política, é colocar o preconceito na frente. Ainda se mistura muito religião, política e isso vira preconceito. Tem que ter liberdade de expressão pra todo mundo. É censura e nada mais”, afirmou o auxiliar de arquivo Lucas Gabriel, de 21 anos.
Parlamentares apoiadoras da parada ainda tentam reverter a decisão
Quem também marcou presença foi a deputada estadual Bella Gonçalves, uma das parlamentares que destinaram emendas para a realização da Parada. “A parada acontece com ou sem financiamento público. A diferença é que, com o aporte, conseguimos fazer uma parada maior, com mais artistas e movimentando uma economia que vai dos LGBTs aos montadores de palco, ao setor hoteleiro. Muita gente se beneficia de um evento tão robusto”, afirmou.
Mesmo a poucas horas do evento, Bella diz que as articulações continuam para reverter a decisão. “Demorou muito pra negociar a utilização desse recurso, e acreditamos que a liberação vai ser fundamental pra que a gente tenha uma parada ainda mais linda, mais organizada, que valorize ainda mais os artistas e as pessoas que vêm trabalhar”, completou.