A 26ª Parada LGBT de Belo Horizonte acontece neste domingo (21), mas o clima de celebração da vida e da liberdade já tomou conta da cidade neste sábado (20), com a 1ª edição do Festival Fuzuê, no Parque Municipal. Organizado pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual e Identidade de Gênero de Minas Gerais (Cellos-MG), o evento convida a cidade a entrar no clima da parada, que este ano traz o tema: “Envelhecer bem: direito às políticas públicas do bem viver, ao prazer e à cidade”.

A festa reuniu pessoas de todas as idades e cantos de BH e da Região Metropolitana, com uma programação e espaços pensados para celebrar a história da comunidade. As atrações foram diversas, mas todas com o protagonismo de pessoas LGBTs, valorizando artistas locais e também nacionais. Entre os destaques, estava a atriz e cantora Lin da Quebrada, que já participou do "Camarote" do Big Brother Brasil.

Lua Zanella foi uma das primeiras a subir no palco do Festival Fuzuê na tarde deste sábado. Cantora e MC de Contagem, ela destacou a importância de o evento, já em sua primeira edição, abrir espaço para diferentes estilos e vivências.  “Ter esse espaço pra dar visibilidade pro meu trabalho é algo muito marcante, porque a gente não vê tantas pessoas trans ocupando o hip hop. Ver o meu corpo nesse lugar, sendo tão bem abraçada e acolhida, foi muito importante, muito memorável e marcante pra mim”, afirma a artista.

Lua Zanella, cantora e MC, à direita, ao lado da sua produtora, Alana Fox

E a representatividade não estava só no palco. Para quem curtia a festa, o Fuzuê foi mais uma oportunidade de a população LGBTQIAPN+ se reunir e expressar seu amor, sem medo ou receios. Foi isso que atraiu Lucas Gabriel, 21 anos, auxiliar de arquivo. “Durante o ano todo, a gente fica com medo de viver essa liberdade. Aqui é um lugar onde a gente pode amar como a gente sente, e demonstrar isso sem medo”, contou. Ele também apontou a falta de espaços como esse em BH: “Faltam eventos culturais como o Festival voltados pra nossa comunidade.”

Quem compartilha dessa visão é Sofia Hickman, de 19 anos. “Deveriam ter mais eventos LGBTs, não só em julho. A gente movimenta a economia. Tem várias barracas aqui que a gente alimenta. Por que não fazer isso o ano inteiro? Por que só no meio do ano? Por que a gente não pode ter esse investimento pra um evento maior como esse em BH?”, questiona. O esquenta funcionou bem pra ela. Esta será sua primeira participação na Parada, e o festival trouxe o acolhimento que ela precisava para ter certeza de que também seria bem recebida na celebração deste domingo. “Nunca vim antes por medo, por ser mais nova. Mas agora percebo que não precisa ter medo. A gente pode vir, é receptivo. Vai ser incrível, tenho certeza. Super organizado, como sempre foi em BH. E espero que continue assim.”

O Festival Fuzuê não foi importante apenas para artistas e público. Para a organização, foi também uma conquista. Além de colocar o primeiro Fuzuê no mundo, o Cellos-MG também realizará a Parada neste domingo, mesmo após uma decisão liminar da Justiça de Minas que limitou o repasse ao evento a R$ 100 mil, valor abaixo dos R$ 450 mil previstos em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. 

Para o presidente da Cellos, Maicon Chaves, ver o parque cheio de pessoas vivendo a sua liberdade e o seu amor, além do único dia da Parada, é emocionante.
“Está sendo muito difícil, mas também muito emocionante ver a população LGBT ocupando esse parque. Parque este que, no passado, era o lugar onde a gente se escondia pra viver algum traço da sexualidade dissidente, da sexualidade revolucionária. Ver pessoas pretas, periféricas, gente bonita ocupando o que é nosso, é uma alegria imensa.”