Memória

Livro '1979 - O Ano que Ressignificou a MPB' tem lançamento em BH neste sábado

Organizada pelo jornalista Célio Albuquerque, a obra fala de 100 discos lançados naquele fértil ano para a música brasileira

Por Patrícia Cassese
Publicado em 28 de outubro de 2022 | 23:20
 
 
 
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Provavelmente, naquele início de 2014, quando lançou “1973 - O Ano que Reinventou a MPB” (Editora Sonora), o jornalista carioca Celio Albuquerque já alimentava uma expectativa de que o projeto memorialístico poderia, sim, ter desdobramentos. Mas, hoje, às vésperas de lançar oficialmente (na Outlet de Livros, neste sábado) o primeiro deles em Belo Horizonte,  "1979  – O Ano Que Ressignificou a MPB" (Garota FM Books), ele confessou ao Magazine que, de início, o ano visado era outro.

Foi pouco antes da pandemia, precisamente, em 2019,  que os sinais começavam a apontar para o emblemático 1979. "Eu lembrava do sucesso independente do (grupo) Boca Livre, da Anistia e de “O Bêbado e a Equilibrista” (a icônica canção de João Bosco e Aldir Blanc que reverberou Brasil afora na voz de Elis Regina), bem como da potência de primeiros discos como os de Fátima Guedes e Ângela Ro Ro". 

Já "contaminado" com a riqueza daquele período, Célio arregaçou as mangas e foi participar de alguns cursos mais específicos sobre a MPB, com pesquisadores e jornalistas como Rodrigo Faour, Mauro Ferreira e Leonardo Lichote. O empurrão final veio ao ler uma matéria assinada pela jornalista Mariana Mesquita, no jornal "Folha de Pernambuco", com Fábio Cabral (ou Fábio Passadisco), da Loja Passa Disco, localizada no Recife. "Ele falava justamente do ano de 1979 e o comparava a 1973. O link estava fechado", rememora, acrescentando que todos os nomes citados acabaram sendo, de certa forma, co-autores do livo, que reúne 100 artigos sobre 100 álbuns que mostram que aquele ano foi de fato atípico para a MPB.

A seleção, explica o jornalista, não foi feita de forma impositiva. "Havia alguns títulos que eu particularmente acreditava que deveriam estar, como o LP 'Essa Mulher', de Elis Regina, o disco do Boca Livre, os primeiros LPs da Fátima Guedes, Ângela Ro Ro, Cátia de França e Malui Miranda, por exemplo. Mas também fomos acatando sugestões dos colaboradores".

Por vezes, um título era oferecido a um autor e ele acabava pedindo para fazer outro. "Um dos exemplos mais marcantes foi o que aconteceu como o jornalista Bruno Thys, nome que já esteve em várias redações e em cargos de chefia. Como ele é pianista amador (e toca muito bem), pensei em convida-lo para escrever sobre o disco do pianista Antonio Adolfo - um LP, aliás, que eu ouvi muito, e que eu sabia que ele também gostava. Mas, depois de alguns dias, Bruno me retornou e pediu para fazermos uma troca. Ele não estava se sentindo à vontade para escrever sobre ela, pois sabia que uma outra pessoa poderia fazê-lo com mais entusiasmo. Sugeriu o nome do José Emílio Rondeau, um dos mais atuantes no jornalismo musical nos anos 1970/80. Emílio, aliás, acalenta uma biografia do pianista, junto ao próprio. Fechado. Rondeu fez um texto delicioso sobre o disco 'Vira-lata' e Bruno acabou embarcando no LP do grupo Azimuth, o primeiro deles a ser lançado oficialmente no exterior. E curiosamente, concebido de forma independente. O texto do Bruno - que, vale dizer, recentemente se mostrou também um bom romancista - ficou muito legal".

Mas, sim, Célio assume: não foi possível colocar, na obra, todos os discos inicialmente pensados. "Primeiramente, por espaço, pois corria-se o risco de ter que ser feito em mais de um volume. Mas também por não termos encontrado a pessoa certa, no tempo certo, para fazer um ou outro disco que pensamos. E, também, por 'escapar' do nosso radar. Nossa música é muito ampla". Por isso, Célio frisa que não há a pretensão de afirmar que os discos ali listados são os 100 melhores do ano de 1979, mas, sim, 100 dos mais relevantes discos lançados naquele fertílissimo ano.

São várias, as curiosidades que estão no livro. Uma delas é que os inspiradores da canção "Léo e Bia", de Oswaldo Montengro, participaram da gravação no LP de 1979 : mais especificamente, batendo palmas na música que leva o nome deles. O texto sobre o disco, diga-se, é assinado pela Madalena Salles. Já o jornalista Roberto Muggiati, que assina o texto sobre o disco de Hermeto Paschoal, foi ao seu lançamento internacional naquele mesmo ano, no Festival de Montreux, na Suíça, e assistiu ao "duelo musical" entre o Mago e Elis Regina, ao vivo.

Tem mais. O disco de Gretchen de 1979, seu primeiro álbum, é resenhado pela jornalista e apresentadora Lorena Calábria. "Antes mesmo de fazer parte do grupo As Melindrosas, Gretchen foi convidada para ser crooner da orquestra do maestro Zaccaro", diz, referindo-se ao também arranjador e produtor de espetáculos brasileiro Augustinho Zaccaro (1948 - 2003), conhecido como "o italianíssimo".

Lançamento

Alguns nomes mineiros que deram sua contribuição para o livro, como Daniella Zupo, Thelmo Lins e Wagner Cosse, também estarão presentes ao lançamento, neste sábado. Ao Magazine, Thelmo falou sobre o disco que escolheu para escrever: "Pedaços", da cantora Simone. "Eu já havia participado do (livro) '1973', que foi uma experiência muito bem sucedida. Na época, escrevi sobre 'Drama - 3º Ato', da Maria Bethânia. Depois, ele (Célio) transformou numa série, do Canal Brasil. Chegou a vir a BH, para me entrevistar, entrevistar nomes como Toninho Horta. No caso de '1979', diferentemente do anterior, que falava de muitos nomes que estavam começando, nomes fortes, como Gonzaguinho, Luiz Melodia, Fagner; esse tem um enfoque muito especial nas mulheres, principalmente as cantautoras. Foi um ano muito rico em lançamentos de grandes autoras, como Marina Lima, Fátima Guedes, Ângela Ro Ro. E de cantoras também, como Simone, Fafá de Belém, Zizi Possi, Gal, Elis Regina. E tem, ainda, o momento político, a abertura política. Um país que estava saindo da ditadura, que (até então) cantava muito por meio de metáforas e, agora, começava a respirar os primeiros ares de liberdade".

Para Thelmo Lins, "Pedaços" é provavelmente a obra-prima da carreira de Simone. "É um disco que tem, por exemplo, 'Começar de Novo', música que foi tema do seriado 'Malu Mulher', protagonizado por Regina Duarte. Na época, foi feito também um especial com as cantoras que faziam parte da trilha sonora. E a Simone teve um desabrochar, porque ela gravou a música para série, estourou e, depois, a lançou nesse disco. O disco tem outras faixas maravilhosas, como 'Cordilheira', da Sueli Costa e do Paulo César Pinheiro. E ainda, 'Outra Vez', de Isolda, autora que, por sinal, também lançou seu primeiro álbum neste ano, após já ter vários sucessos na voz de Roberto Carlos. Tem 'Itamarandiba', 'Pedaço de Mim', 'Sob Medida', do Chico Buarque, 'Condenados', da Fátima Guedes, e, ainda, 'Saindo de Mim (dois gumes)', do Ivan Lins, bem como 'Tô Voltando', de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, que acabou virando um hino da abertura política, apesar de não ter sido composta com esse objetivo", explana.   

Serviço

O lançamento do livro "1979 - O Ano que Ressignificou a MPB" na capital mineira acontece neste sábado, de 11h até 14h, na Outlet de Livro (rua Rua Paraíba, 1.419, Savassi)

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