Carlos Malta, 59, não esconde a surpresa que teve ao ser colocado num grupo de WhatsApp. O espanto veio com o número expressivo de integrantes. “Nunca pensei que encontraria na internet mais de 90 pessoas que tocam pífano no Brasil”, admite ele, que faz questão de ressaltar a juventude dos participantes. “Quase 100% da rapaziada ali tem menos de 30 anos”, aponta.
Originário da Europa medieval, o pífano é uma flauta reconhecida pelo timbre intenso e estridente. “É uma renovação estética do nosso gosto musical. Quando comecei a tocar, na década de 70, os músicos brasileiros eram muito ligados ao jazz norte-americano. Eu sempre acreditei que a música brasileira tinha os seus heróis, como o Sebastião Biano, que está com 100 anos e ainda toca pífano”, exalta.
Nesse sentido, Malta pode ser considerado tanto um herói como um veterano. Idealizado pelo músico carioca, o projeto Pife Muderno nasceu inspirado nas tradicionais bandas de pífano do Nordeste e já colocou na praça três discos, o mais recente deles gravado ao vivo, na China, em 2014.
Com 25 anos de trajetória, a trupe – que ainda tem Andrea Ernest Dias (flauta), Oscar Bolão (bateria), Bernardo Aguiar (pandeiro) e Rodolfo Cardoso (zabumba) –, se apresenta neste sábado (29), na série BH Instrumental, com um repertório que agrega clássicos, novidades e possíveis surpresas, entre elas uma homenagem a Milton Nascimento.
“O Milton é um camarada que acompanha o meu coração desde sempre. Na primeira vez que ouvi o Clube da Esquina, imediatamente eu quis virar sócio”, brinca Malta. Ele entrega a possibilidade de levar ao público uma versão para “Bola de Meia, Bola de Gude”, de Milton e Fernando Brant.
“A música de Minas vem das montanhas, sou um admirador da sinuosidade das melodias e harmonias, desde o cancioneiro que vem do Vale do Jequitinhonha, passando pelas cantigas de reis e pelo congado. É um diamante nacional”, avalia.
Munido de sopros e percussões, o Pife Muderno também se vale do passado para alcançar o futuro. “Era um sonho de criança montar uma banda de pífano, mas nossa ideia sempre foi usar uma formação clássica para propor coisas novas, e não repetir o que já era feito”, confirma Malta.
As muitas composições autorais comprovam a tese. “Tupyzinho” tornou-se um hino do conjunto. Criada para servir de abertura aos shows, a música faz uma saudação aos índios do país. “Hoje em dia, a primeira música que as pessoas aprendem na flauta é o ‘Tupyzinho’”, orgulha-se Malta.
Além dela, estão garantidas no roteiro “Pipoca Moderna” (Caetano Veloso e Sebastião Biano), “Ponteio” (Edu Lobo e Capinam) e a inédita “Pife de Prata”, que celebra o tempo de estrada.
O começo de toda essa história remonta aos primeiros anos de Malta, quando ele se impressionou com o flautista Altamiro Carrilho (1924-2012), que apresentava um programa de desenho animado na TV e “tocava alucinadamente”. “O som do instrumento de sopro vem do coração, impulsionado pelo ar que sai do pulmão, e se parece com o canto das aves”, resume.
Serviço
Ouça um dos clássicos de Carlos Malta e Pife Muderno: