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Lembranças do morro do Pindura Saia

Conceição Evaristo lança o romance ?Becos da Memória?, sobre a rotina de uma favela sob a ótica de uma menina.

Por DANIEL BARBOSA
Publicado em 21 de junho de 2006 | 00:01
 
 
 
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As vielas, os habitantes e o cotidiano da extinta favela do Pindura Saia, que ficava na região Centro-Sul da capital, vizinha ao bairro Cruzeiro, serviram de inspiração para o romance "Becos da Memória", que a escritora Conceição Evaristo lança no próximo sábado, em Belo Horizonte.

Ex-moradora da favela, onde nasceu, passou a infância e a adolescência, ela está, atualmente, concluindo, pela Universidade Federal Fluminense, sua tese de doutorado, que estuda as relações entre a literatura africana dos países de língua portuguesa e a literatura afro-brasileira.

O livro que está lançando se relaciona com sua pesquisa acadêmica na medida em que se ampara na história da população negra e periférica no Brasil contemporâneo.

"Tanto os meus textos ensaísticos, a escrita acadêmica, quanto a minha escrita literária são profudamente marcados pela minha condição de mulher negra na sociedade brasileira", diz.

Ela reitera que "Becos da Memória" é uma obra de ficção que focaliza a rotina de uma favela e seus habitantes a partir do ponto de vista de uma menina.

"Escrevi a partir de situações que vivi e observei enquanto morava no Pindura Saia. Usei daquela realidade para construir um romance. Apesar de trazer situações que testemunhei de fato, não é um livro autobiográfico, apenas utilizo de determinados fatos e da experiência de menina criada em favela", explica.

Idílio
Nascida em 1946, Conceição viveu no Pindura Saia até 1971. Dois anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez concurso para magistério. Ela reconhece que a favela descrita em seu livro, a que sua memória lhe trouxe, é quase idílica se comparada à realidade que ela vive hoje.

"Tem imagens bem interessantes que incluí no livro, relativas à vida cultural. Foi no Pindura Saia, por exemplo, que conheci a congada, através dos grupos que lá existiam. Tem toda aquela imagem da alegria, da vida comunitária, mas também tem a imagem da pobreza, que não dá para esquecer. Ao mesmo tempo, tinham as festas juninas, as festas da Senhora do Rosário, os campeonatos de futebol amador, as brincadeiras de criança. Isso mudou muito ao longo dos últimos 30 anos", avalia.

Ela diz que está se aposentando como professora este ano pela Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e que, até então, dava aulas em uma escola no morro de São Carlos.

"É uma outra realidade em relação à que vivi. As populações empobrecidas cada vez mais perdem a condição de viver dignamente nas grandes cidades", lamenta.

AGENDA " Lançamento do livro "Becos da Memória", de Conceição Evaristo (Mazza Edições, 168 págs., R$ 25), no Pátio Savassi (av. do Contorno, 6.061, Savassi), sábado, às 11h.

Obra ficou guardada na gaveta por 19 anos

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