5 de julho

Minas vista de fora: chefs compartilham suas visões sobre a nossa culinária

No Dia da Gastronomia Mineira, cozinheiros representativos de diversos cantos do Brasil contam como a comida do Estado é reconhecida

Por Lorena K. Martins
Publicado em 05 de julho de 2023 | 06:44
 
 
 
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Ver Minas Gerais, estando imerso em suas montanhas, é uma atividade complicada. Às vezes, Minas é vista melhor a distância – que o diga o escritor Pedro Nava (1903-1984), que escreveu sua notória série de memórias, que reconstitui a vida e o cotidiano de uma Belo Horizonte no início do século XX, de um apartamento no Rio de Janeiro. Quando o tema é uma unanimidade, então, faz bem tomar um certo distanciamento.

Por isso, para marcar o Dia da Gastronomia Mineira, celebrado hoje, 5 de julho, O TEMPO conversou com chefs e cozinheiros de outros Estados para entender como a nossa culinária é vista no resto do país.

A visão deles é curiosamente parecida: hoje, a gastronomia mineira se destaca principalmente por uma história riquíssima, que preserva técnicas e influências ancestrais do país, com uma fusão das culturas negra, europeia e indígena, além de – é óbvio – ter aromas, texturas e sabores insuperáveis que são unidas pelo afeto, pela mesa cheia e pela partilha.

A chef Manu Buffara, à frente do Manu, restaurante que prioriza a gastronomia sustentável e que ajudou a colocar Curitiba no mapa gastronômico, já esteve em Minas Gerais cozinhando algumas vezes, como em Brumadinho (Inhotim) e Tiradentes, a convite do projeto Fartura Gastronomia. Ela relembra as suas passagens e avalia: “Eu considero a gastronomia mineira muito cheia de sabor e muito fácil de ser compartilhada à mesa e, além de tudo, é muito cheia de tradição”, disse ela, que foi eleita a melhor chef mulher da América Latina em 2022.

Do Rio de Janeiro, o chef João Diamante, do projeto Diamantes na Cozinha e um dos jurados do programa da TV Globo “Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua”, também esteve em Minas Gerais recentemente, durante o Festival Fartura Dona Lucinha, em Conceição do Mato Dentro, e ensinou ao público uma receita de carne de sol, pirão de leite, molho de rapadura e picles de maxixe. “Comida mineira é afeto, amor, paixão, tradição, conhecimento e um montão de coisas. É a comida de verdade, é a comida que abraça”, acredita ele.

Quem também já esteve recentemente por aqui foi o chef Fabrício Lemos, do Origem, restaurante de Salvador que conquistou a 52ª posição no ranking do 50 Best Restaurants da América Latina em 2022. No início do ano, o chef cozinhou no Pacato e reverencia a culinária mineira e a conexão com a Bahia. “Apesar de amar a culinária baiana, eu vejo muita identidade brasileira na culinária mineira. Em Minas Gerais, se manteve viva a culinária caipira, recheada de sabor e afetividade”, disse.

Expressivo nome da cozinha tapajônica, Saulo Jennings sempre bate ponto em Minas Gerais. “Vou aí duas a três vezes ao ano”, conta. Contando sobre essas visitas, ele menciona o amigo e também chef Flavio Trombino, do restaurante Xapuri, que ele credita como um bom guia turístico pelas visitas ao interior do Estado. “Comida mineira é muito rica, cheia de história, de conceito e de mesa cheia e farta para partilhar e que emociona a gente. É feita para unir e dividir com muito amor”, acredita ele, à frente do restaurante Casa do Saulo, em Santarém, no Pará.

De São Paulo, a premiadíssima chef Janaina Rueda não esconde a enorme influência que a gastronomia mineira tem nas casas em que comanda. Não por acaso, o cardápio do A Casa do Porco, apontado como o 12º melhor restaurante do mundo no fim de junho e onde divide a cozinha com o ex-marido, Jefferson Rueda, é repleto de ingredientes que marcam presença nos fogões à lenha mineiros. “A cultura mineira é a nossa maior tradição, porque ela faz a preservação da nossa cozinha. Lá ainda existe molho pardo, galinha feita no fogão a lenha, mercados que resgatam e trazem de volta a nossa ancestralidade cultural. Tenho todo o meu respeito pela cozinha de Minas e acredito que ela tem que ser eleita a melhor do mundo”, destaca a chef que também é embaixadora do Itamaraty, representando a culinária do Sudeste.

Governo de Minas lança nesta quarta o projeto Cozinha Mineira Patrimônio

Comemorado em todo 5 de julho desde 2012, o Dia da Gastronomia Mineira foi criado em homenagem ao nascimento do escritor Eduardo Frieiro, autor da obra “Angu, Feijão e Couve: Ensaio sobre a Comida dos Mineiros”, o primeiro livro de gastronomia dedicado aos sabores de Minas Gerais e seus modos, que foi lançado em 1966. Desde então, a data comemora, divulga e valoriza a tradição e história da cozinha do Estado, considerada fator de desenvolvimento social, econômico, cultural e turístico. 

Nesta quarta-feira (5), o Governo de Minas lança, no Palácio da Liberdade, às 11h30, o projeto Cozinha Mineira Patrimônio, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha).

A iniciativa tem o objetivo de proteger, fomentar e promover os ingredientes, saberes e práticas que constituem a cultura alimentar mineira. O anúncio vai ser realizado após a reunião do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), em que será deliberado o Registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira – O Milho e a Mandioca, candidato a patrimônio cultural imaterial do estado de Minas Gerais.  
 

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