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Proximidade se torna diferencial na pandemia
Cidades mineiras reabrem com procura maior do que lotação liberada
05/08/21 - 00h03
Metade dos brasileiros tem a intenção de viajar até maio do ano que vem. Em um período em que o mundo ainda está “fechado em bolhas” com restrições de viagens internacionais em vários pontos, o Brasil passa a ser um destino cobiçado pelos brasileiros: 78,6% dos que planejam pegar a estrada têm como foco destinos domésticos. É aí que o turismo de proximidade, aquele para destinos num raio de até 300 km, ganha força. Tanta que, em alguns lugares, a rede hoteleira, que opera com limitação de capacidade, começa a ter mais demanda do que pode atender.
Os dados, levantados pela empresa de monitoramento de mercado Hibou, estão disponíveis no Observatório do Turismo de Minas Gerais e indicam que 22,9% dos turistas pretendem viajar dentro do próprio Estado. Enquanto a pandemia limita viagens mais longas, é nesse público que o governo do Estado está de olho. “No ano passado, lançamos o programa Minas para Minas, para incentivar o turismo de proximidade. Investimos em marketing inteligente nas redes sociais, e a resposta veio rápido”, explica o secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
O que os números indicam, os empresários das cidades turísticas já começam a notar. Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, na região Central de Minas, é uma delas. “Não temos ociosidade. Se a ocupação dos hotéis é de 50%, está com 50% de reservas. Se fosse 100% estaria, assim”, diz o secretário de Turismo de Ouro Preto, Rodrigo Câmara.
O distrito acolhe turistas que buscam aventura e ecoturismo e os casais à procura de um roteiro romântico. Por questão de segurança sanitária, teve que se fechar ao turismo e, agora, a rede hoteleira pode receber 75% da capacidade. Já foi de 30%. “Já estamos em retomada, contudo essa evolução vai se dar em cima do quadro sanitário. É a situação epidemiológica que vai ditar se poderemos expandir e flexibilizar”, diz Câmara.
A pousada Carumbé, no distrito, tem 34 suítes, com capacidade para receber até 80 pessoas. “As pessoas estão cansadas de ficar trancadas em casa, acho que por isso nossa procura melhorou. Se pudéssemos hoje operar em 100% da capacidade, teríamos reservas”, conta um dos donos do lugar, Marcus Vinicius Jerônimo Barroso. A atual taxa de ocupação é suficiente para garantir praticamente só os custos do local, que soma perdas de 70% no faturamento.
São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima conhecido como Macacos, sempre foi praticamente “o quintal” dos belo-horizontinos. Em feriados e fins de semana, carros da capital congestionavam as ruas estreitas. Era um indicador de pousadas e bares lotados. Aí veio a pandemia: “No início, o movimento ficou muito ruim. Depois, as pessoas cansaram de ficar trancadas em BH e vieram para cá. Mas causou desconforto porque começou a ficar lotado demais. Com a Onda Roxa, a prefeitura fechou tudo”, conta o presidente da Associação Comercial do distrito, Francisco Assis Magalhães Monteiro.
O turismo local sentiu, pousadas e comércios foram fechados. A prefeitura não tem dados ainda sobre o tamanho do impacto, mas aposta agora no turismo de natureza. “O ecoturismo está tão aquecido aqui que não encontramos bicicleta para comprar. Quem vende peças de bicicletas teve aumento de 100% nas vendas. E isso já reflete positivamente no turismo local”, afirma a secretária de turismo de Nova Lima, Renata Couto de Souza.
Turistas priorizam espaços abertos
Para parte daqueles que começaram a flexibilizar, o retorno à estrada não quer dizer que a pandemia está sendo minimizada. É assim que pensam, por exemplo, o ator Leandro Barmgratz, 42, e o produtor Denis Castro, 28. Eles saíram do Rio de Janeiro para passar uns dias em Ouro Preto e visitar o Instituto Inhotim, em Brumadinho, na região metropolitana de BH. “É a primeira viagem que fizemos depois da Covid. Viemos de carro, estamos tomando todos os cuidados e escolhendo locais abertos”, disse Leandro.
“Estamos impressionados como os mineiros têm cumprido os protocolos”, afirmou Denis. O caso deles é parecido com o relatado pelo belo-horizontino Mateus Breno, 21. Ele levou a mãe e os dois irmãos, de 14 e 10 anos, para conhecer o Inhotim depois de um ano e meio indo só para a “roça da família”. “Aqui é aberto, tranquilo e ainda dá para dormir em casa”, contou.
O Inhotim já chegou a receber quase 14 mil pessoas em um único dia. Agora, limitou a 500 visitantes diários. “Temos avançado com cautela até o controle da pandemia. Temos notado uma maior visitação de mineiros ou moradores de Estados vizinhos, a maior parte da região Sudeste. Antes, nós recebíamos um número considerável de estrangeiros”, diz o diretor-presidente do Inhotim, Antonio Grassi. O casal Moacir Pinto, 57, e Lígia Fleury, 59, saíram de São Paulo para conhecer o local. A escolha foi pensada: “Temos ido só a lugares com fácil acesso a hospitais e abertos. Agora estamos vacinados e já traz uma certa tranquilidade”, diz Moacir.
Crises dentro da crise
A pandemia foi um baque para o Instituto Inhotim que, assim como os demais museus, teve que paralisar as atividades por um período. Entretanto, essa não foi a primeira crise enfrentada por eles. “Em 2018, tivemos a febre amarela, com obrigatoriedade de vacinação para visitas. Em 2019, teve o rompimento da barragem em Brumadinho, e, em 2020, a pandemia”, lembra o diretor-presidente do local, Antonio Grassi.
Em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), o quadro não foi diferente: “Tivemos problemas com risco de barragem de rejeito, depois vieram as enchentes, e a pandemia veio para terminar de puxar para baixo o turismo”, diz a secretária de turismo de Nova Lima, Renata Couto de Souza.