Precaução
Aparato de guerra acompanha futebol feminino dos EUA em BH
Número excessivo de policiais e controle sistemático da segurança do hotel mostram o cuidado que norte-americanas estão recebendo
Bastaram alguns segundos fazendo breves anotações, na frente do hotel onde está hospedada a seleção de futebol feminino dos EUA, para que a reportagem fosse abordada por um dos policiais militares, que perguntou o motivo da observação seguida de rabiscos em um pedaço de papel.
Trinta minutos antes da coletiva marcada, cerca de duas dezenas de policiais estavam reunidos na parte do hotel, além de motos e viaturas, assim como uma base comunitária móvel. Na saída das entrevistas, uma hora e meia depois, o número mais que quadruplicou. Foram contados cerca de 60 PM´s, uma dezena de viaturas e 20 motos, todos preparados para fazer a segurança não só dos EUA, mas de outros times, como a França, que sairiam para o treino da parte da tarde. Poloneses e neozelandesas são outros estrangeiros que também estão hospedadas no local.
Dentro do hotel, qualquer passo fora do lugar era logo motivo para que a atenção fosse chamada. As atenções e os olhares iam além do cuidado, fazendo qualquer um que ali estivesse se sentir ameaçado. Parecia que todos eram suspeitos, uma precaução que se mostrou excessiva em muitos momentos. Do lado de fora, bastava um movimento como tirar a mochila das costas ou apontar um câmera para que logo se virasse alvo de olhares dos militares.
"Não é à toa que os policiais nos encaram o todo tempo", brincou a meio-campista Carli Lloyd, capitã do time norte-americano e considerada a melhor jogadora do planeta. "Entendo que uma segurança a mais acontece quando os EUA estão envolvidos, mas não estou muito preocupada com isso. Até aqui, tudo tem sido ótimo", completa a jogadora.
Grandioso. Para a goleira Hope Solo, outro destaque do time norte-americano, o aparato é algo necessário. "Não creio que é porque viemos do Estados Unidos e sim por ser um evento mundial, de grande magnitude. Foi surpreendente ver a estrutura que foi montada, acredito que os locais também tenham se assustado com tudo que foi montado. Nós também estranhamos um pouco, mas é algo que faz parte", indica.
Para fazê-las se sentirem à vontade e esquecer qualquer tipo de ameaça, o calor brasileiro tem feito um papel importante. No seu aniversário de 35 anos, comemorado no último dia 30, ela ganhou cinco presentes de fãs, como cartões e cartas, além de uma sandália Havaiana. Os acenos e gritos dos fãs, que tentam um contato a todo momento, mostra que elas não tem com o que se preocupar.
Sem contato. O trânsito no local ficou lento com a presença de muitos curiosos e fãs. As várias viaturas estacionadas em 45º impediram que uma das pistas fosse usada em sua plenitude.
A funcionária pública Emilia Goulart é uma fanática por futebol feminino e acompanha vários torneios ao redor do mundo pela internet. Ao contrário de muitos torcedores, ela não tem Hope Solo na lista de jogadoras favoritas. "Gosto mesmo da Ali Krieger e da Ashlyn Harris", admite. Harris, inclusive, está na lista de espera norte-americana e só será usada em caso de corte do elenco.
Na porta do hotel, ela não tirava os olhos da movimentação dos ônibus que se preparavam, em busca de uma resposta para pedir foto ou autógrafo. "Também não fico gritando, chamando o pessoal a todo momento. Não quero ser chata", declara.
Com licença. O forte aparato foi sentido de perto por ela. No dia que Hope Solo e cia. chegaram, ela foi 'convidada' por um PM a se afastar da calçada, um local onde ela teria total direito de estar por ser algo público. "Ele me perguntou se eu era da imprensa e falei que não. Pediram, então, para eu ir para um outro lugar. Nem deu pra ver elas descendo do ônibus, neste dia achei algo excessivo. Hoje está mais tranquilo. Entendo que trata-se de Olimpíada, mas achei desnecessário", comenta.
Em 2014, a seleção dos EUA foi até Brasília e lá foi Emilia atrás das gringas. "Foi bem tranquilo o contato, bem diferente de agora. Era o mesmo time, mas a situação vista foi outra", compara.