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Naturalizações olímpicas: política ou necessidade?

“Contratações” para seleções, benéficas em curto prazo, auxiliarão após os Jogos?

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Repatriado. O brasileiro Felipe Perrone defendeu a seleção espanhola em duas Olimpíadas, mas vestirá a camisa amarela na Rio 2016
PUBLICADO EM 27/06/16 - 03h00

Culturalmente, os ídolos do esporte brasileiro são os que vencem campeonatos. Além disso, os esportes com maior visibilidade são os que passam a ser vitoriosos. Logo, o desenvolvimento das modalidades está ligado diretamente a resultados.

Foi assim com o voleibol, que ganhou em popularidade nos anos 80 graças à “geração de prata”, vice-campeã olímpica no masculino em 1984. Somado maior divulgação e investimento, veio o ouro em Barcelona 1992, o que colocou de vez a modalidade como a segunda mais popular para os brasileiros.

Na busca incessante por resultados, uma das possibilidades mais utilizadas pelas confederações são as naturalizações. O número de naturalizados neste ciclo olímpico, que pode superar uma dezena, é bem maior que o de Londres 2012, quando o americano Larry Taylor (basquete) e a chinesa Lin Gui (tênis de mesa) estiveram neste cenário.

Se, em curto prazo, o objetivo é tornar as equipes mais competitivas, em longo prazo a prática também beneficiaria o desenvolvimento dos esportes? Existem garantias de que seus altos custos valem a pena

Sem influência. Gerente do polo aquático na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Ricardo Cabral sabe a necessidade do retorno imediato. “No Brasil, infelizmente, é assim. Primeiro precisamos de resultado”, comenta.

Procurado por O TEMPO, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) afirmou que não há programas relacionados à naturalização no planejamento para a Rio 2016, mas as confederações têm “autonomia para realizar ações específicas que sejam benéficas para o desenvolvimento das equipes”.

No polo aquático, os casos do goleiro Slobodan Soro (duas vezes medalhista olímpico pela Sérvia) e do central croata Josip Vrlic geraram contestação. Com a chegada do técnico croata Ratko Rudic, a estratégia incluiu outros fatores: Felipe Perrone, melhor jogador da Europa e que defendia a Espanha, foi repatriado; o espanhol Adrià Delgado e o italiano Paulo Salemi, filhos de brasileiros, aceitaram defender o Brasil; e o cubano Ives González Alonso, casado com uma brasileira, se nacionalizou.

Segundo Cabral, as naturalizações são apenas uma etapa da estratégia, que “deu condições de profissionalização nos últimos três anos”. De acordo com a Agência Estado, Soro recebia R$ 18.746 mensais, enquanto a CBDA admitiu que paga R$ 25 mil a Perrone, Vrlic e Soro. Os custos chegariam a R$ 2,6 milhões em salários neste ciclo.

Para Perrone, que optou por retornar por perceber uma mudança no apoio ao esporte, é necessário diferenciar os casos de dupla nacionalidade com os de naturalização. “Naturalizações por motivos esportivos não são o caminho ideal, mas têm relação com a profissionalização e com exigência de resultado em curto prazo. Construir um ‘time de medalha’ requer investimentos intensos num período de dez a 15 anos, e isso, infelizmente é impensável no Brasil”, reconhece.

Ricardo Cabral sabe da incerteza quanto ao cenário pós-olímpico. “Não sabemos como será. Dependerá muito de situações no país, se continuarão dando suporte”, admitiu.

No voleibol, ainda não: esportivamente, cubanos León e Leal continuam vinculados a Cuba nos próximos dois anos

O vôlei também teve dois casos de naturalização neste ciclo olímpico, porém, que ainda não permitiram a utilização dos atletas na Rio 2016. Os ponteiros cubanos Yoandy Leal, do Sada Cruzeiro, e Wilfredo León, do Zenit Kazan-RUS, concluíram suas etapas para se tornarem cidadãos brasileiro e polonês, respectivamente.

Porém,uma regra da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) impossibilita a transferência de confederação por dois anos, mantendoos, esportivamente, cubanos.

O caso de León foi encarado com maior contestação. Enquanto Leal vive no Brasil com sua família há quatro anos, defendendo um clube local e contribuindo diretamente para o esporte no país, León nunca
defendeu uma equipe polonesa, apesar de ter residência no país com sua namorada.

Uma semana após Leal retirar o passaporte brasileiro, em março, Rubinho, auxiliar técnico da seleção, comentou a O TEMPO sobre a possibilidade de o cubano defender o Brasil, deixando em aberto o interesse de que isso acontecesse em breve.

“É um dos melhores na posição no mundo e já demonstrou isso internacionalmente. Mas a primeira coisa é esperar uma definição. Em uma situação dessas, (ele) interessa, e é uma coisa que se vê internamente”, afirmou, quando ainda existia remota expectativa de que Leal pudesse participar dos Jogos deste ano. (JVC)

Resolução no polo aquático e indefinição na esgrima

Se o polo aquático já solucionou as indefinições quanto aos processos de nacionalização para a Rio 2016, a esgrima ainda convive com situação parecida para uma de suas atletas inclusas neste cenário.

A húngara Emese Takács foi naturalizada e chegou a ter esse processo suspenso recentemente, pela suspeita de que o casamento dela com um brasileiro seja fraudulento, porque o tempo necessário de permanência no país não teria sido cumprido e também porque ela não dominaria o idioma local.

Porém, a ação do Ministério Público foi suspensa e, ao que tudo indica, ela poderá participar dos Jogos, aguardando uma nova convocação até a próxima sexta, dia 1º.

A Confederação Brasileira de Esgrima (CBE), por meio do presidente Gerli dos Santos, afirma que as naturalizações “jamais foram uma política da entidade” e que “em nenhum momento, a CBE buscou algum atleta estrangeiro para que se naturalizasse visando aos Jogos Olímpicos. A única atleta naturalizada, Emese Takács, providenciou por iniciativa e direito pessoal a sua própria naturalização, sem receber convite ou contrapartida de qualquer natureza da confederação”, garantiu, optando por não opinar sobre o caso específico, já que ainda é possível novo desdobramento judicial.

Apesar de a CBE considerar apenas Tákacs como estrangeira, ainda há a italiana Nathalie Moellhausen (filha de brasileira e que disputou Londres 2012 pela Itália), Ghislain Perrier (nasceu na França e foi adotado por um casal de brasileiros ainda bebê) e Marta Baeza Centurión (nasceu no Brasil, mas começou a praticar e competir na base pela Espanha). (JVC)

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