Hospitais encaminham equipes para tratamentos psicológicos
Nos corredores dos hospitais, por trás de jalecos, uniformes e calçados de proteção, estão pessoas.
Por Izabela Ferreira Alves,
Queila Ariadne, Rafael Rocha e
Tatiana Lagôa
Hospitais encaminham equipes para tratamentos psicológicos
Nos corredores dos hospitais, por trás de jalecos, uniformes e calçados de proteção, estão pessoas. Muitas delas debilitadas emocionalmente por testemunharem tantas mortes e sofrimento impostos pela Covid-19, e por medo de se contaminarem e adoecerem familiares. O clima de luto e luta constante criado pela pandemia tem adoecido não só os médicos e enfermeiros, que estão na linha de frente, como também a equipe operacional das instituições de saúde. Cozinheiros, porteiros e faxineiros desses locais passam a apresentar quadros de adoecimento mental, muitas vezes sem recurso financeiro para arcar com o tratamento. Em resposta, os próprios hospitais têm criado estratégias para garantir o apoio psicológico gratuito para esses profissionais.
No Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, foi criado o cargo de psicólogo do Trabalho no ano passado. Até então, esse apoio era dado pela medicina do Trabalho e pela equipe de Recursos Humanos. Porém, após o adoecimento de parte dos profissionais, foi necessária uma reação. “Esses colaboradores chegam com muitas questões complexas vindas de casa, como demissões de familiares e crianças em casa sem estudar. O ambiente delas mudou e isso tem gerado quadros de ansiedade e depressão. Isso sem contar que estão na linha de frente do combate ao coronavírus e precisam enfrentar o medo diariamente. Alguns se isolaram da família, outros chegaram a se divorciar nessa fase. As pessoas estão sentindo falta do abraço”, afirma o psicólogo do Trabalho da instituição, Josenilson Costa Alves.
Além do reforço da própria equipe, o hospital fez parcerias com instituições de ensino e clínicas de psicologia e psiquiatria para atender os casos que necessitam de acompanhamento. Mais de uma centena de trabalhadores do hospital contaram com esse apoio. Situação já esperada em um contexto onde 47,3% dos trabalhadores em serviços essenciais apresentaram sintomas de ansiedade e depressão, segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
No Hospital Belo Horizonte, também foi necessário reforço. “Fizemos parceria com o projeto Telepan da UFMG para encaminhar nossos profissionais para atendimento psicológico gratuito. As lideranças passaram a observar mais cada trabalhador para detectar essa necessidade e muitos funcionários nos procuraram diretamente”, conta o analista de RH do local, que é psicólogo, Diogo Flaviano Pereira.
A principal demanda que chegou até o RH do hospital partiu dos integrantes do setor operacional. “Os médicos e chefes de enfermagem têm maior poder aquisitivo e conseguem pagar as consultas por conta própria. Mas, pensa no porteiro, que recepciona pacientes o dia inteiro, ajuda alguns com dificuldade de locomoção, enfim, está no trato direto com as pessoas. Eles também são linha de frente e nem sempre têm condições de arcar com o tratamento”, explica Pereira.
Pandemia muda perfil de lideranças
O aumento dos casos de ansiedade e depressão entre os trabalhadores causou uma necessidade de líderes mais empáticos. Cabe à chefia agora se preocupar não só com as questões ligadas ao trabalho, mas com a identificação de fatores de risco para adoecimento mental da equipe.
Na Vitallis, os gestores passaram a fazer uma triagem para um posterior encaminhamento para psicólogos conveniados da empresa. “Agora, as lideranças precisam encontrar formas de estar próximas da equipe, mesmo que virtualmente, para entender as dificuldades e os anseios. É preciso manter a equipe forte e coesa”, afirma a coordenadora de Recursos Humanos da Vitallis, Caroline Soares da Fonseca Fernandes.
Na Prodap, foi criado um programa de acolhimento. Segundo a psicóloga da empresa, Marcela Serris Soares Lavarini, as chefias foram treinadas para acompanhar a saúde mental dos funcionários. Além disso, pelo projeto “dedo de prosa” os psicólogos da empresa passaram a ter conversas sigilosas com os integrantes da equipe. “Demos voz aos colaboradores e detectamos cerca de 10% do quadro com sintomas de ansiedade e depressão”, conta Marcela.