É comum que as pessoas celebrem grandes realizações como um casamento, a formatura na faculdade, a chegada de um novo filho ou uma promoção almejada no emprego. Mas, diante da excitação de comemorar esses grandes marcos, vitórias cotidianas e pequenos momentos de felicidade, por vezes, passam despercebidos. Isso, porém, não tem sido mais a regra. É o que aponta um estudo desenvolvido pelo site de previsão de tendências Worth Global Style Network (WSGN). Segundo a pesquisa, há um novo grupo de pessoas que têm olhado para as conquistas de uma forma diferente: ao invés de manterem o foco apenas nos marcos tradicionais e grandiosos, esses indivíduos têm lançado o olhar para as vitórias do dia a dia. Nesse sentido, pequenos momentos de felicidade, conquistas pessoais e mais acessíveis acabam ganhando espaço entre as coisas que merecem ser celebradas.
Embora a pesquisa desenvolvida pelo site tenha como foco os impactos dessa forma de enxergar a vida na relação entre marcas e consumidores, psicólogos apontam que ter um olhar mais apreciativo para os acontecimentos do cotidiano pode contribuir para uma vida mais saudável. “Esse comportamento é fundamental, porque a felicidade está relacionada a dois principais componentes: o prazer e o significado. Quando buscamos só o prazer, ficamos viciados nisso. A gente corre o risco de achar que precisa sempre de mais e mais e acaba vivendo uma vida hedônica. Mas quando a gente se dispõe a viver a vida com contentamento, tudo passa a ser muito mais saudável. E o que é viver assim? É não ficar esperando algo muito grandioso acontecer para ser feliz, é saber olhar para a vida, para aquilo que você já vive e experimentar, buscando significado e prazer dentro de um limite, porque a gente não pode ter tudo que quer”, explica a psicóloga Renata Livramento.
Apreciar as pequenas coisas, porém, não significa deixar de lado o desejo de alçar voos grandiosos. Pelo contrário. Segundo a psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental, focar nas pequenas conquistas pode ser uma boa estratégia para alcançar objetivos mais ambiciosos. “Quando você tem uma meta muito elevada e não a distribui em tarefas pequenas, as chances de alcançá-la são muito pequenas. Então, para alcançar algo muito grande, você precisa distribuir isso em pequenos objetivos para que isso se torne mais viável e mais possível de concluir. Isso é mais otimista e realista”, aponta. “É como se você fosse subindo um degrau de cada vez”, exemplifica.
Ela acrescenta ainda que compreender e valorizar os pequenos avanços acaba sendo uma forma de reconhecer a apreciar os esforços feitos ao longo do trajeto. “Quando você não faz isso, você está desvalorizando tudo que já fez e, assim, a chance de que você tenha um humor mais baixo, que desanime ou desista do processo é muito maior”, pontua Renata Borja.
Autoconhecimento é fundamental
Embora o olhar mais apreciativo diante das pequenas realizações seja recomendado, Renata Livramento explica que o autoconhecimento é essencial para que esse tipo de comportamento seja adotado. “Conscientemente, você precisa buscar no seu dia a dia as pequenas coisas que para você são importantes, valiosas. Você precisa prestar atenção nesses momentos e, mais do que isso, identificar quais são eles, quais são as coisas que te fazem bem e colocá-las na sua vida. E o que está na base disso é o autoconhecimento, porque você precisa conhecer o que te faz bem para que possa cultivar e acrescentar isso na sua rotina”, afirma.
O psicólogo Danty Marchezane afirma que é importante também que as pessoas se permitam sentir os prazeres do dia a dia. “Aqui no consultório mesmo, é comum chegar casos de pessoas que, às vezes, estão em um momento bom da vida, mas não se permitem ter essa experiência. Estão em um relacionamento bom, mas sempre ficam um pouco desconfiadas, ao invés de curtirem isso”, diz ele, explicando que a situação pode estar relacionada a traumas ou acontecimentos que influenciam nessa permissão ou não. Nesse caso, procurar por ajuda especializada é a recomendação.
Ele ainda acrescenta que, mesmo que esse comportamento apreciativo seja positivo, é preciso tomar cuidado para que ele não se torne algo obrigatório. “Às vezes estamos soterrados por demandas, então acaba ficando difícil para que o sujeito fique feliz. É importante tentar exercitar isso, mas não pode ser uma obrigação, às vezes a pessoa está passando por um luto, pelo término de uma relação ou a perda de um emprego. Então a gente não pode ficar forçando isso. Não acho que seja adequado olhar para uma pessoa em uma dessas situações e falar ‘vamos ver as flores’”, acredita.
Renata Livramento reforça o coro, pontuando que é preciso tomar cuidado para que o discurso não seja confundido com uma positividade tóxica. “A gente precisa aceitar sensações, sentimentos e emoções de valência negativa fazem parte da vida. Não podemos tentar fazer com que a nossa existência seja uma eterna festa porque isso é muito mais prejudicial para a felicidade e a saúde mental do que qualquer outra coisa. Também é preciso se permitir ter momentos em que você não vai estar bem, dar espaço para que outras pessoas expressem essas emoções desagradáveis e permitir que isso faça parte da nossa vivência, sem esquecer de tirar o aprendizado de alguns momentos”, aconselha. “Apreciar as pequenas coisas não é milagre, não acaba com os problemas. Mas nos fortalece para lidarmos com as dificuldades que são inerentes da vida nos trazendo essa sensação de contentamento”, conclui.