Alerta

À base xarope, purple drink pode levar à morte

Mistura roxa consumida principalmente por adolescentes aumenta risco de parada respiratória


Publicado em 06 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Uma “aparentemente inofensiva” mistura de xarope para tosse com refrigerante e balas, consumida principalmente por adolescentes, é motivo de alerta. A bebida, usada como entorpecente, pode causar dependência e levar à morte por parada respiratória. A mistura de cor roxa já recebeu vários nomes: lean, purple drink e sizzurp, entre outros.

O xarope tem como princípio ativo a codeína que, segundo Claudiney Luis Ferreira, professor universitário e membro do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF/MG), é um remédio analgésico da classe dos opioides – derivado do ópio, assim como a morfina.

No país são comercializados pelo menos 24 remédios com codeína em sua fórmula, entre eles uma associação com paracetamol. Já o xarope está entre os medicamentos que só podem ser vendidos em farmácias com controle e retenção de receita. “Ingerida em grandes quantidades, a codeína provoca efeitos de alucinação, euforia e bem-estar”, explica Ferreira.

Segundo o diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Rilke Novato Públio, como a codeína tem ação no sistema nervoso central, atualmente medicações com essa substância são prescritas para situações específicas. “Não é mais usada como um antitussígeno generalizado, como há duas décadas”, diz.

Morte

O desvio de substâncias lícitas para o uso como drogas ilícitas é uma das grandes preocupações atuais. Nesta semana, a morte de um adolescente em Belo Horizonte foi atribuída por amigos e alunos do colégio em que o jovem estudava à “nova droga”. Uma pediatra vizinha da família nega e, por mensagens que circularam pelo WhatsApp, diz que a causa foi asfixia por vômito.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o corpo foi encaminhado para a necropsia e que o laudo deve sair em 30 dias.

Apesar de problemas semelhantes já terem sido registrado em outros Estados do país, como em Santa Catarina, autoridades brasileiras e mineiras ainda não demonstraram mobilização em relação ao assunto.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) “tem conhecimento da existência da droga, mas até o momento nenhuma apreensão da bebida foi feita em Belo Horizonte ou região metropolitana”.

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e a Polícia Federal (PF) também informaram que não têm registro de ocorrências relacionadas a esse tipo de droga.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que, por se tratar de uma droga elaborada a partir de misturas de outros produtos, não é, portanto, registrada como produto específico (droga ou qualquer outra designação) no órgão. “Não temos alerta emitido sobre a mistura”, informou a assessoria de imprensa.

O diretor da Fenafar atribui a facilidade de acesso dos jovens a essa medicação às falhas na fiscalização de diferentes órgãos. “É importante que as Vigilâncias Sanitárias e os conselhos de farmácia sejam mais atuantes para evitar abusos dessa natureza”, recomenda.

Rappers incentivam ‘Geração Prescrição’

O lean – também conhecido como “purple drink” ou “sizzurp” – começou a ser visto no Brasil há uns três anos, aproximadamente, mas não é tão popular, segundo a presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Renata Brasil Araújo. “Surgiu na década de 60 nos Estados Unidos, mas só se popularizou lá nos anos 2000”, afirma.

Por lá, jovens que usam medicamentos que “dão barato” ganharam um apelido: Geração Prescrição. Essa ascensão do uso abusivo da codeína começou a crescer depois de a substância ser citada em letras de diversos rappers americanos, como o cantor Lil Wayne. Ele chegou a ser internado várias vezes com problemas de saúde e complicações provocadas pela droga. O produtor musical de Hip-Hop DJ Screw, que também é citado como um dos incentivadores da bebida, morreu nos anos 2000 em decorrência de overdose.

No ano passado, a pop star Demi Lovato, 27, admitiu em sua conta no Instagram ter sofrido uma overdose de opioide. Nos EUA, os casos de mortes por consumo de opiáceos já atingiram níveis alarmantes.

Em 2016, overdoses de heroína e analgésicos à base de ópio mataram mais de 63 mil pessoas – 26% delas tiveram acesso a essas drogas por prescrição médica, segundo relatório do Centro Nacional para Estatísticas em Saúde (NCHS).

Na internet, existe todo um mercado alusivo à bebida. Pela rede são vendidos bonés, camisetas, quadros decorativos, roupa de cama e isqueiros com estampas e símbolos de copos com o líquido roxo.

Sindicato de escolas investe em cursos e palestras

Atividades de formação de educadores sobre os assuntos pertinentes à realidade e ao cotidiano escolar são frequentemente realizadas no Estado, segundo o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep).

Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, o Sinep informou que, “se tratando de formação para educadores, o sindicato desenvolve, há vários anos, cursos e palestras sobre questões relacionadas à juventude, que inclui também a prevenção ao uso de drogas entre adolescentes”.

No entanto, o Sinep reconhece que “a escola, embora proporcione diálogo, campanhas preventivas e ações para combater as práticas, não está imune a alguns casos que possam ocorrer, embora se esforce para promover a saúde e a conscientização de seus estudantes”, diz o texto.

Prevenção

Escolas. Visando prevenir o acesso de drogas no ambiente escolar, a Polícia Civil oferece palestras destinadas a jovens, em especial, de escolas públicas. O agendamento pode ser feito pelo telefone (31) 3236-8616.

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