Com a correria do dia a dia, muitas mães acabam deixando de amamentar seus filhos pelo período de até seis meses de vida, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema é que além dos prejuízos nutricionais e afetivos, estudos recentes mostram que, por isso, mães e filhos passam também a conviver com mais chances de desenvolver diferentes tipo de câncer. Essas e outras questões serão lembradas a partir de hoje durante a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMam).
“A mulher que amamenta por mais de seis meses suprime um pouco a produção de alguns hormônios pelo ovário e isso atua como um fator protetor para o câncer de mama, reduzindo de 3% a 4% os riscos da doença”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Regional Minas Gerais (SBOC-MG), Leandro Ramos.
De acordo com o oncologista, esse benefício é mais evidenciado em mulheres que amamentam os filhos mais cedo – até os 30 anos – e independe da quantidade de gestações. “O carcinoma mamário é o principal câncer que acomete as mulheres e hoje temos vários métodos que permitem o diagnóstico cada vez mais precoce. Mas, com a amamentação, que é uma medida simples e barata, também se consegue reduzir a incidência”, afirma.
Se no caso das mães a amamentação ajuda a prevenir o câncer de mama, o oncologista explica que, para os filhos, as pesquisas mostram que entre os benefícios já encontrados há um destaque maior para a redução do risco de leucemia. “Crianças amamentadas por mais de seis meses tiveram uma queda de 19% no risco de desenvolver leucemias agudas, segundo um estudo recente feito com 28 mil crianças”, ressalta Ramos.
A farmacêutica Nádia Burkowski, 32, está sentindo na pele as dificuldades e os desafios da prática, mas reconhece os benefícios para ela e o filho Mateus, de 3 meses. “Não é fácil. Eu tive inflamação, febre, empedramento (do leite), e o corpo muda todo. Mas é fundamental e depois a gente vai pegando o jeito”, diz.
A mãe pretende seguir a recomendação da OMS e manter a alimentação do filho até os seis meses de vida dele com “100% do leite materno” e, desde já, planeja formas de se readaptar à rotina de trabalho. “Penso em tentar reservar o leite na noite anterior para poder usá-lo em outros momentos”, projeta.
Para Nádia, além de ser importante para a nutrição, a amamentação é também uma questão de laço afetivo com o filho. “Vale a pena vê-lo sorrindo e saudável”, diz.
Leite armazenado dura até 15 dias
Neste ano, o assunto que será debatido durante essa Semana Mundial do Aleitamento Materno é a volta ao trabalho após o término da licença maternidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o ideal é que a criança seja alimentada exclusivamente de leite materno até os seis meses de vida.
Porém, a maioria das empresas brasileiras segue o mínimo previsto pela legislação que é de apenas quatro meses de licença. Dessa forma, para que esse período tão essencial da amamentação não seja interrompido, especialistas orientam que as mães retirem o leite por meio de uma bomba de sucção e o armazene em recipientes de vidro com tampas de plástico, previamente esterilizado. O leite materno armazenado dura até 15 dias no freezer e no máximo 12 horas em geladeira.
Serviço. A capital mineira participa hoje da “Hora do mamaço – amamentar e trabalhar: basta apoiar”. O evento, que irá reunir mães em um ponto turístico de várias cidades para uma amamentação simultânea, será realizado na praça da Liberdade, às 9h30.
Aleitamento: dez mitos e verdades
O pediatra da rede de hospitais São Camilo de São Paulo, Hamilton Robledo, esclarece algumas dúvidas sobre o tema
Verdades
1.O leite materno tem nutrientes que as fórmulas industrializadas não fornecem
2. O bebê que se alimenta exclusivamente pelo leite materno tem mais imunidade
3. A mamadeira interfere no aleitamento
4. Amamentar fortalece o vínculo entre a mãe e o bebê
5. Amamentação deve ser exclusiva até os seis meses do bebê
Mitos
1. A alimentação da mãe reflete no leite
2. O leite materno pode não ser suficiente para nutrição do bebê
3. O leite materno congelado perde nutrientes
4. Estresse e nervosismo atrapalham a produção de leite
5. A criança deve mamar a cada três horas