A chegada do outono, com suas temperaturas amenas, gera alento em muitas pessoas que não toleram o calor. Mas é exatamente o oposto o que sentem aqueles que sofrem com a dermatite atópica, uma doença inflamatória não contagiosa que deixa a pele vermelha, com coceira intensa e descamação em partes como rosto, joelho e cotovelos, e cujos episódios de crise, em geral, se agravam nesta época do ano. Isso porque a enfermidade, incurável, está diretamente associada à pele ressecada, o que, obviamente, tende a ocorrer mais com a baixa temperatura.
Mas quem dera apenas a falta de hidratação por causa do frio piorasse o problema. Para quem sofre com dermatite, a lista de razões parece não ter fim: “É a alimentação, é o teste de novos produtos, ou produtos que uso há meses e, um belo dia queimam meu rosto, é a pomada de dermatite para acalmar que a piora, é a fronha do travesseiro, a água quente, o tingir o cabelo, o suor, o ar, o ficar abalada emocionalmente, estressada, e tantos outros motivos que nem sei dizer”, relatou a influencer Jana Rosa no perfil Bonita de Pele, sobre a doença com a qual convive.
O compartilhamento de algo desafiador para quem trabalha com a beleza ao menos serviu como bálsamo aos que também passam anos lutando contra a doença. “Quem sofre de dermatite e alergias não pode baixar a guarda, tem que estar alerta. Sempre me consulto com dermatologista, pelo menos uma vez por ano, ou em caso de crise forte. Ando com comprimido antialérgico, pois nunca sei quando posso sofrer uma crise”, relata a assessora e empresária Yumi Miyake. Ela descobriu a doença na infância, quando foi parar no hospital cheia de bolhas no braço, e sabe que, em seu caso, está associada a alergias e histórico familiar.
Preconceito. O médico dermatologista Lucas Miranda ensina que, de fato, esses são fatores comprovadamente ligados à dermatite atópica e que os primeiros sintomas normalmente já chegam na infância. “A prevalência da doença em crianças, com idades em torno de 6 e 7 anos, é de 7%”, diz. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), até 25% das crianças podem apresentar episódios eda doença e até 7% dos adultos podem ser acometidos.
“Não se sabe exatamente quais são as causas, mas já foram levantados fatores na literatura médica. O que é bem sedimentado é que existe forte relação genética, sabe-se que há uma relação também com o tipo de pele, sendo que a ressecada é mais propensa. E também que crianças com histórico pessoal ou familiar de problemas como rinite, asma e bronquite estão mais propensas”, explica.
Porém, mesmo quem não tem casos na família pode ter a doença e, aí, o problema da desinformação acentua a angústia. Foi o caso da estudante e cantora Juliana Tostes. “Na minha cidade (Barbacena), eu não encontrava ninguém que tinha a doença e, na minha família, ninguém tem. Era difícil não saber lidar com ela sozinha”, lembra. Por causa disso, ela criou um grupo no Facebook sobre o tema. A ideia, conta, era encontrar algumas poucas pessoas para conversar sobre o assunto: hoje, são 19 mil membros.
Com poucas informações concretas sobre a dermatite, o espaço para o preconceito fica aberto, um problema tão sério quanto a própria doença. “Sofria mais quando criança e adolescente, pois foi a pior época e de lesões aparentes. Uma vez, um menino da escola perguntou, em tom de deboche, se eu mastigava meus dedos pois eles viviam com feridas. Fiquei muito chateada. Hoje, não vejo mais como preconceito, mas curiosidade: a pessoa que não conhece a doença me olha meio torto, achando que vai ‘pegar’”, conta Yumi. “É incômodo porque ficam perguntando e nem sempre têm empatia, ficam com nojo”, lamenta Juliana. Para a dermatologista Gisele Viana, da Sociedade Brasileira de Dermatologia – seção MG, a informação ajuda a minimizar o sofrimento. “Já tive que emitir atestados para escolas para pessoas com essas doenças de pele estigmatizantes. Vejo o sofrimento das famílias, mas creio que a conscientização pode ajudar a minimizá-lo”, diz.
Por dentro da dermatite atópica
“Em geral, no bebê, ela se manifesta no rosto, principalmente nas áreas externas, na moldura do rosto, vamos dizer assim. Em crianças um pouquinho maiores, a partir de 6 meses, 1 ano, a dermatite atópica se manifesta principalmente em áreas de dobras, pescoço, região anterior do cotovelo, região posterior do joelho, com bastante coceira, pequenas vesículas ou crostas”, relata o dermatologista Lucas Miranda.
A assessorae empresária Yumi Miyake se lembra de ir a vários médicos ainda criança, e se recorda do que ouvia: “Eles diziam que na idade adulta ia melhorar, e realmente melhorou bastante. Não tenho lesão aparente sempre, hoje, só nas crises – mas a frequência ainda é alta, só que atualmente sei lidar melhor com ela. O estresse influencia 100% (para a doença nela): sofri uma perda familiar recentemente, e se desencadeou uma crise que atacou a parte interna do braço e do pescoço, e demorou semanas para sarar”, conta.