A miopia – dificuldade de enxergar à distância – avança no mundo todo, e uma das principais causas desse crescimento está relacionada ao estilo de vida, principalmente dos jovens. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos (computador, tablet e smartphone) já tem levado os médicos a considerar que existe uma epidemia de miopia.
A previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que em 2020 haverá 2,6 bilhões de míopes no mundo e que o Brasil tenha 27,7% da sua população míope, índice que salta para 50,7% em 2050. “Significa que, neste período, o crescimento da miopia no país deve ser quatro vezes maior do que nos EUA”, diz o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto “O que preocupa os oftalmologistas com esse aumento, é que quanto mais míopes, mais pessoas com possibilidade de alta miopia (acima de 7 graus).
Geralmente, 10% da população míope tem alta miopia. Esses pacientes têm mais glaucoma, mais degeneração macular, mais catarata, então são pessoas que vão ter comorbidades oculares e um risco maior de sérias alterações da visão na sua fase produtiva da vida”, afirma o médico.
A miopia é comum em crianças e tende a aumentar à medida que envelhecem. Nesse cenário desafiador, ele comemora o fato de a Food and Drug Administration (FDA) – agência norteamericana similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – ter aprovado, em novembro, a primeira lente de contato gelatinosa, de descarte diário, produzida para controlar a progressão da miopia na infância. Sua segurança e eficácia foram verificadas em um estudo clínico com 136 crianças de 8 a 12 anos que tiveram acompanhamento médico durante três anos.
A pesquisa mostrou que, nos primeiros três anos, a progressão da miopia naqueles que usaram a nova lente foi menor do que aqueles que usavam lentes convencionais. Além disso, os indivíduos que utilizaram a nova lente apresentaram menos alterações no comprimento axial do globo ocular a cada exame anual. “O olho é um globo. Quando se coloca a lente convencional ou os óculos, joga-se a imagem na retina só na região central. A nova lente tem anéis concêntricos que jogam a imagem também na região periférica”, diz o médico.
A novidade já vem sendo usada em outros países como Austrália e Canadá. Neto acredita que essas novas lentes devem estar disponíveis no Brasil já no próximo ano. O oftalmologista afirma que outro diferencial importante da nova terapia aprovada pela FDA é a ausência de efeitos colaterais e desconforto, como acontece com outros tratamentos, a exemplo do colírio de atropina que provoca um leve embaçamento da visão por dilatar a pupila. “Já a lente ortoceratológica de uso noturno nem sempre é bem tolerada por crianças”, diz ele.
Fator estético das lentes fica para trás
Embora as lentes geralmente sejam utilizadas por razões estéticas, com o avanço da tecnologia e as inúmeras opções desenvolvidas, algumas lentes se tornaram excelentes recursos terapêuticos disponíveis e que apresentam muitas vantagens sobre os óculos. “O míope, se usar óculos, só enxerga no centro deles. Já quando o paciente míope usa lente de contato, ganha um campo visual muito mais amplo. Isso acontece nas miopias, mas também com a hipermetropia e o astigmatismo. E ainda, a qualidade de vida de quem tem grau alto é muito melhor com as lentes de contato”, afirma o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto.
De acordo com o médico, em breve deve chegar ao Brasil outra opção de lente de contato que, ao ser exposta ao sol o material escurece de acordo com a iluminação ambiente aumentando o conforto visual do usuário. (LM)