Apesar do aumento nos índices de excesso de peso, obesidade e doenças crônicas, a população brasileira, em geral, vem modificando o estilo de vida, com inclusão de exercícios na rotina e melhoras na alimentação. Em 2009, 30,3% da população fazia exercícios por pelo menos 150 minutos por semana. Em 2016, essa taxa foi para 37,6%, conforme dados levantados pela pesquisa “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico” (Vigitel), do Ministério da Saúde.
Parte desse aumento deve-se ao maior leque de opções de atividades físicas disponíveis nas academias, permitindo às pessoas escolherem aquela com a qual mais se identificam. Sebastião Paulino, diretor presidente do Encontro Nacional de Atividades Físicas (Enaf), realizado neste mês em Caeté, na região metropolitana, se dedica a encontrar novas modalidades para o mundo da educação física, da saúde e da nutrição. “As academias passaram a agradar a geração Y ou dos Millennials e se adaptaram ao aluno jovem ligado na internet. Quem também está ganhando espaço é a terceira idade. Os indivíduos acima de 40 e 50 anos estão criando o hábito da atividade física”, observa o educador físico.
Segundo Paulino, a principal motivação para os alunos de academias ainda é a perda de peso, mas a mentalidade está mudando. “A saúde e o bem-estar também estão se tornando preocupações. As pessoas estão mais conscientes da necessidade de procurar um profissional competente e atualizado, além da associação com um nutricionista”, diz.
Segundo o diretor do Enaf, algumas modalidades apresentadas no evento confirmaram as perspectivas do Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, da sigla em inglês), que divulgou o “Top Worldwide Fitness Trends for 2018” – uma pesquisa anual que propõe 20 apostas para o mercado fitness. Para o levantamento, foram ouvidos 4.133 profissionais ligados a esse mercado de 43 países em quase todos os continentes.
Um dos destaques, segundo Paulino, foi a distinção entre “tendência” e “modismo”. “Tendência é a mudança na forma como as pessoas estão se comportando, já o modismo é a retomada com grande entusiasmo por um breve período”, explica. Usando essa lógica, das 40 tendências fitness propostas na pesquisa de 2018, 25 foram escolhidas. No topo da lista estão os exercícios intervalados de alta intensidade (Hiit, do inglês, High Intensity Interval Training), que subiram depois de cair para a terceira posição em 2017. São atividades curtas de alta intensidade, seguidas por um curto período de descanso ou recuperação, e normalmente levam menos de 30 minutos para serem realizadas.
“No segundo lugar aparece a volta dos treinamentos em grupo e aulas coletivas, como a aeróbica, aulas de bike e aulas de dança”, cita. De acordo com o estudo, essas atividades se adequam a diferentes níveis de condicionamento físico, e os instrutores ensinam, lideram e motivam os alunos.
A tecnologia “wearable”, que saiu da primeira posição em 2017, aparece na terceira em 2018, ainda bem expressiva. “São rastreadores inteligentes de atividades, relógios, monitores de frequência cardíaca, dispositivos de rastreamento GPS e óculos, muito usados por corredores de rua e ciclistas, que vêm crescendo de maneira muito forte no país. Essas tecnologias rastreiam e monitoram o treinamento”, diz Paulino.
Os treinos de força e que usam o peso corporal também estão no radar das academias. Já os apps de exercícios no smartphone, os esportes aquáticos, o pilates e os treinos online não apareceram com tanto prestígio, de acordo com o levantamento. Confira nesta página algumas novidades desse mercado.
Treinamento funcional tridimensional. Pensar o corpo em seus três diferentes eixos (frente e trás, direita e esquerda e em volta do próprio eixo) é o mote dessa atividade física. “É o treinamento funcional um pouco mais pensado, que se assemelha muito mais aos movimentos naturais que a gente executa e se aproxima da nossa realidade”, diz o idealizador do programa de treinamento Supercore, Kenji Takahashi. O impacto da atividade vai ser controlado pelo treinador de acordo com cada aluno. No entanto, pessoas com labirintite ou alguma sensibilidade a rotações e giros devem evitar esse exercício. As aulas, realizadas pelo menos duas vezes por semana, podem durar de 25 minutos a uma hora, e o gasto calórico costuma superar 500 calorias. “A ideia é realizar combinações de corridas com saltos e giros que podem ser de 45° até 360°”, afirma Takahashi.
SUP ioga in aqua
A professora de ioga Bianca Guimarães começou a se destacar nos campeonatos de stand-up paddle pelo Brasil e chamou atenção pelo fato de ser mineira. “Falava que fazia meu treinamento praticando ioga em cima da prancha”, lembra. Sua experiência se tornou uma nova modalidade: Stand-Up Paddle ioga (SUP ioga), prática que exige concentração e equilíbrio. “Se praticado na lagoa ou na piscina, não é preciso conhecer os princípios da prática do stand-up, mas se for necessário se locomover até outro local dentro da água, aí sim é fundamental ter conhecimento da prática da remada. Além de saber nadar”, diz. Bianca dá aulas particulares na lagoa dos Ingleses, que duram uma hora e meia, onde é possível gastar em média 500 calorias por hora/aula. Os adeptos da ioga flutuante desenvolvem autoconfiança e consciência corporal na hora de executar os movimentos.
Acqua float e cross kids
A acqua float reúne exercícios intervalados de alta intensidade (Hiit, do inglês, High Intensity Interval Training), assim como o uso do peso corporal – duas tendências que permanecem entre as mais indicadas pelo “ACSM’s Health & Fitness Journal” para 2018. A aula de 30 minutos é ideal para pessoas com pouco tempo para treinar e que querem uma atividade diferente para melhorar o condicionamento físico, segundo a coordenadora de acqua kids da rede de academias Bodytech, Ticiana Iyomassa. “A aula acontece em pranchas, o que estimula diversas regiões do corpo. Os exercícios são provenientes da ioga e do pilates, além de outros movimentos, como agachamento”, explica. Outra modalidade que está estreando na academia é o cross kids, disponível na unidade Savassi, em Belo Horizonte. “Incluímos movimentos como empurrar, puxar, correr, jogar, subir e saltar com eficácia e segurança, usando o peso do próprio corpo e cargas adequadas à fase maturacional de cada criança”, diz Ticiana.