Médicos, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde concordam: a região conhecida como assoalho pélvico ainda é de certa forma desconhecida por boa parte das mulheres. “E o seu bom funcionamento é fundamental para evitar problemas como incontinência urinária, dificuldades sexuais ou a queda da vagina”, diz o médico Múcio Barata Diniz, diretor da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig).
Embora seja mais grave, a consequência citada por último por ele vem registrando crescimento no mundo em função do próprio envelhecimento da população, já que costuma acometer mulheres acima dos 65 anos. Quando se fala em queda ou prolapso, vale pensar que, além da vagina, o assoalho pélvico dá suporte a outros órgãos, como a bexiga (daí o termo “bexiga caída”).
Explica-se: com a idade, pessoas que não fazem atividade física regular tendem a apresentar um relaxamento muscular natural da região, o que faz com que os órgãos possam ser projetados para fora do organismo. Foi o que aconteceu com a aposentada Edwiges (nome fictício). Há dois anos, aos 82, ela sentiu um desconforto na região pélvica, além de um aumento de volume. Ao mostrar a região para uma sobrinha, esta, assustada, a fez procurar um médico, que diagnosticou o prolapso, no caso, com ejeção do útero e da bexiga. Mesmo com a idade avançada, a cirurgia de reconstrução do assoalho, por não ser considerada de grande risco, foi indicada.
A boa notícia é que há vários meios de se evitarem quadros extremos como o prolapso. “Todas as mulheres deveriam aprender a fortalecer estes músculos por meio de exercícios”, diz Diniz. Fisioterapeuta com atuação na área uroginecológica, Jerusa Silva Evangelista lembra que não há uma idade certa para dar início a esse tipo de exercício. “Particularmente, acredito que possa ser iniciados até na adolescência. Também atendo várias mulheres na idade madura preocupadas com a incontinência urinária (perda involuntária de urina)”, diz ela.
Jerusa credita boa parte do desconhecimento em relação ao funcionamento dessa região a uma questão cultural. “Claro, há fatores como obesidade ou sobrecarga abdominal que interferem, mas é preciso lembrar que trata-se de uma região sobre a qual ainda pesam tabus. Desde criança, a gente aprende que a vagina é feia, que ninguém pode ver... Enfim, é um objeto escondido. Essa falta de percepção corporal aliada à fraqueza muscular pode favorecer o aparecimento de patologias uroginecológicas”, diz ela, que acrescenta ao rol de consequências a tensão dos músculos da região, quadro “que pode causar dor durante o sexo”.
No caso da fisioterapia, os exercícios de Kegel, específicos para a região, são os mais recorrentes. Pilates e outras técnicas, como o pompoarismo, podem atuar no fortalecimento da região. E, como dito, há exercícios simples que podem ser replicados em casa. “A mulher pode aprender com seu ginecologista ou um fisioterapeuta que atua nessa área. Um melhor resultado é obtido quando há um acompanhamento profissional. De todo jeito, é importante que a mulher incorpore os exercícios ao seu dia a dia da mesma forma como é recomendável fazer exercícios físicos habitualmente”, comenta Diniz.
Além do fortalecimento muscular, prossegue ele, a fisioterapia pode treinar a paciente em exercícios que vão ajudar no parto normal. A propósito, Diniz ressalta que nem sempre o parto normal vai levar a problemas no assoalho pélvico. “Em geral, em condições adequadas e bem conduzido, ele não afetará a musculatura. Infelizmente, em alguns casos, e parece que com pacientes que têm uma tendência genética, pode ocorrer lesões na musculatura ou nos ligamentos. Neste caso, a paciente, após a recuperação da gravidez e do parto (em geral, de três a seis meses), deve ser avaliada pelo ginecologista, que vai orientar o tratamento”, aconselha.