Alerta

Incêndios contribuíram para o colapso de besouros

Cientistas acreditam em ‘apocalipse dos insetos’, com 40% das espécies em risco. Após o El Niño, os animais na Amazônia foram fortemente impactados


Publicado em 11 de fevereiro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Sensíveis às mudanças climáticas ou intervenções humanas nas florestas – como os desmatamentos e as queimadas –, os besouros popularmente conhecidos como “rola-bostas” (ou escaravelhos) são considerados excelentes indicadores da saúde florestal. Após o fenômeno climático do El Niño em 2015, os cientistas descobriram que esses animais que habitavam a Amazônia foram drasticamente impactados.

O estudo, publicado ontem na revista científica “Biotropica”, é resultado de uma análise realizada no Pará envolvendo cientistas do Brasil, Reino Unido e Nova Zelândia, conduzido antes e depois dos incêndios de 2015. A pesquisa engrossa o alerta de cientistas para o fato de que o planeta estaria passando por um “apocalipse dos insetos”, com cerca de 40% de todas espécies sob risco de extinção.

“Esses besouros são importantes na recuperação da vegetação, por meio da dispersão de sementes, e também para manter a saúde do solo pela distribuição dos nutrientes presentes nas fezes dos animais”, explica o pesquisador associado da Lancaster University, no Reino Unido, e da Embrapa Amazônia Oriental, e egresso da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Filipe França.

Conforme o pesquisador, os besouros “são o grupo de animais com maior número de espécies conhecidas (ou maior biodiversidade) do mundo”, e a contribuição desses insetos para a recuperação das pastagens e controle de pragas nos Estados Unidos já foi estimada em US$ 380 milhões.

Investigação. Os pesquisadores coletaram cerca de 8.000 besouros antes do El Niño para verificar a saúde das florestas intocáveis, e das florestas que haviam sido queimadas ou desmatadas, e descobriram que a seca e os incêndios em 2015 causaram uma perda de mais de 50% nas populações de besouros. Esses impactos se perpetuaram por quase dois anos.

França pontua que esses insetos contribuem para a cadeia alimentar de duas formas: como alimento e como recicladores. O pesquisador explica o impacto na cadeia alimentar. “A perda de besouros seria um grande problema para as aves e mamíferos que se alimentam de insetos e dependem dos besouros como alimento. Além disso, os rola-bostas contribuem para a reciclagem dos detritos que são originados a partir da cadeia alimentar. Dessa forma, a perda deles poderia levar a diminuição da distribuição de nutrientes e adubo no solo das florestas”, afirma.

Próximos passos
O grupo de pesquisa:
- Está interessado em saber se os impactos também ocorreram para outros animais, como mamíferos e aves.

- Quer entender como a perda de diferentes grupos da fauna influenciaria a trajetória de recuperação das florestas. Para isso, devem aplicar ferramentas genéticas para identificar quais mamíferos foram impactados.

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