“Se você tem um corpo e uma mente, se você respira, a ioga é para você”, afirma Jivana Heymam, com mais de 20 anos de treinamento e ensino na tradição da ioga clássica (integral), proprietário do Yoga Center Santa Bárbara, na Califórnia, nos Estados Unidos, gerente do Instituto de Yoga Integral de San Francisco e fundador do Acessible Yoga, uma modalidade que acolhe e dá condições para que todas as pessoas possam praticar os exercícios.
Jivana é embaixador do Acessible Yoga pela Organização das Nações Unidas (ONU) e está criando uma mudança na percepção sobre a prática. Ele acredita que todas as pessoas são dignas de encontrar vislumbres de paz dentro de sua própria vida, e que a ioga é a chave para destrancar essa porta.
Essa modalidade de ioga é recente no Brasil, mas, há pelo menos 34 anos, a professora Sônia Sumar (Sivakami), fundadora do Integral Yoga Centro Jai Vida, começou a trabalhar com crianças com síndrome de Down, inspirada em sua filha Roberta. Os resultados foram tão extraordinários que ela desenvolveu o método Yoga for the Special Child, hoje espalhado em todo o mundo.
Luciana Laporte, 37, professora de ioga e uma das sócias do Integral Yoga Centro Jai Vida, explica que a base de todo trabalho é a hatha ioga, prática que agrega exercícios físicos (ásanas), respiração, relaxamento profundo e meditação. Ioga acessível é uma modalidade que visa atender pessoas com algum tipo de deficiência, transtorno ou condição, como paralisia, sequelas de acidentes, Alzheimer, Parkinson, depressão, síndrome do pânico, síndrome de Down, esquizofrenia, sequelas de abuso de drogas, distúrbio psiquiátrico, ou qualquer impedimento físico ou não físico que não permita o aluno fazer aulas regulares.
“A ioga acessível se dedica a compartilhar os benefícios com aqueles que geralmente não têm acesso a esse tipo de ensinamento, como populações com alguma deficiência física e excluídas. Qualquer pessoa, independentemente de suas habilidades, origem e história de vida, merece igualdade de acesso aos ensinamentos da ioga, pois eles trazem empoderamento individual e despertar espiritual”, comenta a professora.
Todos são capazes de fazer hatha ioga, não importando sua condição física. Aqueles que participam de uma aula de ioga suave podem experimentar os efeitos benéficos alcançados com os ásanas clássicos modificados para atender às necessidades individuais.
“Para criar variações devemos primeiro compreender o princípio subjacente àquela postura. Qual o propósito da postura? O que ela pede de nós? Por meio da exploração contínua, vamos descobrir muitos movimentos criativos que ajudarão pessoas a vivenciarem todos os benefícios de uma prática bem equilibrada”, ensina Luciana.
As posturas são praticadas com maior conforto e comodidade dentro da possibilidade de cada indivíduo.
Adaptação. A prática pode ser feita na própria cadeira de rodas, no casos de cadeirantes, no solo, com material de apoio, como faixas, blocos e almofadas para suporte adequado. Em alguns casos, pode ser feito até mesmo na cama, sempre adaptando à necessidade de cada aluno, oferecendo técnicas eficientes e modificações para que ele obtenha todos os benefícios.
“Levamos as aulas para onde essas pessoas costumam se reunir, como associações, escolas, clínicas e até hospitais. Como as cidades brasileiras ainda são despreparadas para promover a circulação eficiente dessas pessoas, disponibilizamos um professor qualificado que vai até elas, tornando a ioga uma prática inclusiva para cada vez mais pessoas. Os benefícios são observados não apenas no corpo físico, mas também no nível mais sutil”, diz Luciana.
Mesmo com todos os ganhos, a comunidade médica ainda é cética em relação aos benefícios. “Com a ioga não estamos prometendo que a pessoa será curada, mas conseguimos ajudá-la a conviver melhor com sua limitação, por meio da respiração, da meditação e do relaxamento profundo. Aos poucos as pessoas estão tomando consciência da importância e da necessidade da prática como coadjuvante do tratamento”, analisa a professora.
SERVIÇO: O Integral Yoga Centro Jai Vida fica na rua Engenheiro Amaro Lanari, 220, Anchieta. Informações: (31) 3225-5709.
Depoimento
Pessoa com esclerose múltipla apresenta melhora
Eu já praticava ioga quando, há cerca de 18 anos, descobri que tinha esclerose múltipla, doença neurológica, crônica e autoimune – ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.
Meus sintomas foram perda do equilíbrio e da força muscular e dores nas articulações das pernas.
Fiquei muito abalado, não sabia o que fazer e fiquei quase um mês sem praticar ioga. Quando a professora soube da minha doença, ela não me deixou parar, afirmando que seria muito importante para meu equilíbrio e minha recuperação. E foi o que aconteceu. Mesmo com dificuldades para fazer os movimentos, a ioga ajudava a me acalmar. Os exercícios foram adaptados em função das minhas limitações.
Aprendi a respiração correta para me centrar. De vez em quando tinha crises nervosas, vinha uma tensão muito forte, e eu chorava muito. No serviço, quando percebia uma crise, corria para o banheiro. O choro acabou sendo um remédio, porque me relaxava.
Com a ioga, eu ficava mais centrado e senti mais firmeza no corpo. A prática envolve exercícios, respiração, relaxamento e meditação. Esse conjunto foi importante para meu equilíbrio e controle.
Aprendi a administrar a esclerose múltipla, que hoje está sob controle, como revela a última ressonância magnética feita há duas semanas. Continuo fazendo ioga, de uma a duas vezes por semana. É preciso ter consciência de si mesmo. Para mim, cada dia é uma surpresa boa.
Foco é a inclusão e a socialização
Dentro da ioga acessível está a gentle (suave), prática mais suave usada com alunos idosos, pessoas em recuperação de cirurgias, lesões, ou com quem queira ingressar de forma mais gradativa, por não se adaptar a atividades fisicamente mais exigentes.
A gentle ioga previne lesões e artrites, porque faz com que as pessoas se movimentem. As turmas são reduzidas, com professores com especialização nessa área. As posições são adaptadas, e se trabalha com acessórios de apoio (almofada, bloco, faixa), que geram maior facilidade e conforto durante a prática.
“O bacana desse trabalho é um aspecto que não é físico, é o fato de ele possibilitar uma socialização maior, a inclusão não só de pessoas com deficiência física, mas de todas as minorias. Apesar de ser bem difundida no mundo todo, a ioga ainda é pouco acessível a populações específicas”, avalia a professora de ioga Luciana Laporte.
Nos Estados Unidos, a jovem Dana Falsetti vem chamando atenção nas redes sociais pela flexibilidade e pela perfeição com que realiza os exercícios, contrariando o preconceito e provando que pessoas gordas dão conta dos exercícios.
“Ela mostra que a ioga realmente pode ser para todos. A prática traz equilíbrio em todos os aspectos da vida, melhora a amplitude dos movimentos e a circulação sanguínea e promove uma respiração mais eficiente. Nossa meta é fazer com que cada vez mais pessoas tenham acesso a esses ensinamentos milenares”, diz Luciana.
Benefícios
Alongamento e flexibilidade da musculatura.
Aumenta a mobilidade das articulações.
Promove o realinhamento postural, inclusive corrigindo problemas na coluna.
Melhora a circulação sanguínea e a consciência respiratória.
Melhora os sistemas cardiovascular, circulatório e linfático e o funcionamento das glândulas endócrinas.
Beneficia o sistema nervoso e o cérebro.
Foco é a inclusão e a socialização
Dentro da ioga acessível está a gentle (suave), prática mais suave usada com alunos idosos, pessoas em recuperação de cirurgias, lesões, ou com quem queira ingressar de forma mais gradativa, por não se adaptar a atividades fisicamente mais exigentes.
A gentle ioga previne lesões e artrites, porque faz com que as pessoas se movimentem. As turmas são reduzidas, com professores com especialização nessa área. As posições são adaptadas, e se trabalha com acessórios de apoio (almofada, bloco, faixa), que geram maior facilidade e conforto durante a prática.
“O bacana desse trabalho é um aspecto que não é físico, é o fato de ele possibilitar uma socialização maior, a inclusão não só de pessoas com deficiência física, mas de todas as minorias. Apesar de ser bem difundida no mundo todo, a ioga ainda é pouco acessível a populações específicas”, avalia a professora de ioga Luciana Laporte.
Nos Estados Unidos, a jovem Dana Falsetti vem chamando atenção nas redes sociais pela flexibilidade e pela perfeição com que realiza os exercícios, contrariando o preconceito e provando que pessoas gordas dão conta dos exercícios.
“Ela mostra que a ioga realmente pode ser para todos. A prática traz equilíbrio em todos os aspectos da vida, melhora a amplitude dos movimentos e a circulação sanguínea e promove uma respiração mais eficiente. Nossa meta é fazer com que cada vez mais pessoas tenham acesso a esses ensinamentos milenares”, diz Luciana.