Aos 24 anos, a cantora Ludmilla precisou se afastar dos palcos para tratar uma lombalgia. Entre os compromissos que precisou desmarcar estavam um show na Virada Cultural de São Paulo, neste final de semana, e sua participação no quadro “Show dos Famosos”, do “Domingão do Faustão”, ainda não confirmada. A funkeira, pois, está longe de ser uma exceção: em 2017, essa forte dor na região lombar – que pode caracterizar tanto uma doença em si como um sintoma de outros problemas de saúde – foi responsável pelo afastamento de 83,8 mil brasileiros de seus postos de trabalho, de acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
“É um dado alarmante. Trata-se de um quadro que pode atingir até 65% da população anualmente e até 84% das pessoas ao longo da vida”, avalia Renan Resende, professor do Departamento de Fisioterapia da UFMG. Ele lembra que “o fato de a lombalgia ser uma das condições de saúde mais comuns na população economicamente ativa ajuda a explicar por que foi a maior causa de afastamento do trabalho”. Na sua avaliação, tais dados sugerem que há um desconhecimento em relação às condutas a serem adotadas em casos de lombalgia aguda (que duram até três semanas).
O coordenador do Comitê de Dor e Medicina do Trabalho da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), Marcos de Toledo, assinala que a lombalgia está ligada ao padrão de vida e de trabalho contemporâneos. “Sedentarismo, sobrepeso, permanecer muito tempo sentado ou de pé... Tudo isso pode estar relacionado ao problema”, afirma.
Além dos vetores de risco citados por Toledo, Resende adiciona outros. “Tabagismo, alimentação rica em gordura, níveis elevados de estresse, depressão e trabalho ou ocupação que envolva posturas sustentadas e assimétricas por longos períodos de tempo sem intervalo ou movimentos repetidos com altas cargas são fatores que geralmente contribuem para a ocorrência de dor lombar”, diz.
Origem do problema. Existem diversos tratamentos para combater a lombalgia, segundo Toledo. “Como há diferentes origens, o mais importante é definir o que exatamente causou o problema”, explica. Curiosamente, o excesso de exames de imagem pode prejudicar. “O pensamento prioritariamente anatômico prejudica o diagnóstico, pois é muito comum que o próprio paciente já venha com a certeza de que precisa fazer uma ressonância magnética da coluna”, conta. Ocorre que, por ser um ótimo exame para definir a anatomia, é corriqueiro que se encontre, através dele, alguma alteração – então, comete-se o erro de partir do pressuposto que aquela é a origem da dor. “Este é um dos problemas: acreditar mais no exame de imagem que no exame clínico”, critica Toledo.
“Realmente, na maior parte dos casos de lombalgia não é possível identificar uma relação clara com alguma lesão tecidual específica, já que a lombalgia é influenciada por diversos fatores”, completa Resende. “As pessoas não devem ficar alarmadas ou muito preocupadas quando, ao realizarem um exame de imagem da coluna, como raio-x ou ressonância magnética, for identificado uma hérnia de disco ou um esporão, pois essas alterações teciduais são relativamente comuns”, diz.
Resende critica o excesso de afastamentos por conta da lombalgia. “Na maior parte dos casos, o afastamento total do trabalho não é justificado, já que o repouso na cama é prejudicial para a evolução do caso”, expõe, completando que “uma das principais recomendações para uma pessoa com dor lombar é se manter ativo, ou seja, manter as atividades comuns de vida diária e apenas implementar adaptações caso as atividades do dia a dia, incluindo o trabalho, envolvam posturas sustentadas por longos períodos ou movimentos rotatórios da coluna associados a levantamento de carga”, observa. Toledo concorda, sustentando que evitar exercícios pode agravar o quadro, levando à atrofia muscular.
Obviamente, a recomendação acerca do afastamento é diferente caso o profissional precise, por exemplo, levantar ou carregar grandes cargas e realizar movimentos de rotação da coluna, caso tenha a qualidade de sono afetados ou a dor seja debilitante. Foi esse o caso de Charles de Almeida, 48. Funcionário público, ele teve um pequeno acidente de trabalho e, a partir de então, passou a sentir dor na região lombar.
“É algo que quase me impedia de realizar tarefas simples, como caminhar, ficar de pé ou até deitado”, recorda Almeida, que buscou logo ajuda com especialistas. “Depois que comecei a fazer (fisioterapia), foi uma mudança de vida completa! A partir da sexta sessão passei a sentir uma sensível e gradativa melhora”.
Felizmente, informa Resende, que é doutor em ciências da reabilitação, “a maior parte dos casos de lombalgia será solucionada em até três semanas”. Para que o tratamento tenha sucesso, todavia, pode ser necessário que haja mudança do mobiliário da casa ou do trabalho, que se evitem longos períodos de pé ou sentado e que se adotem novos hábitos de vida, incluindo a prática de atividades físicas.
Quiropraxia ajuda pacientes com aguda dor lombar
Moderação. Caso não tenha hábito de se exercitar, o excesso pode provocar lesões nas costas. Antes de iniciar um programa de atividades, é recomendável buscar por orientação profissional.